Campello, do PCdoB, à frente da Copa 2014 na Bahia
À frente da Secretaria Extraordinária para Assuntos da Copa 2014 – Secopa desde a sua criação, em 2009, Ney Campello é nome certo para gerir as ações preparatórias do estado rumo ao Mundial de Futebol. Com a camisa de titular assegurada pelo governador Jaques Wagner (PT), o “capitão” da equipe destaca desenvolvimento econômico com inclusão social e sustentabilidade como palavras de ordem para a Bahia marcar um gol de placa. Confira entrevista na íntegra:
Publicado 25/01/2011 17:54 | Editado 04/03/2020 16:19
Vermelho – Você foi convidado pelo Governador para continuar na Secopa, mantendo, portanto, a presença do PCdoB na área. Como vê a sua indicação?
Ney Campello – Acho que, mais do que um reconhecimento do êxito individual, é um reconhecimento dessa nova dimensão que o esporte ganhou nacionalmente a partir do ingresso do PCdoB no Ministério dos Esportes, sinalizando um novo cenário em que o esporte passou a ser mais do que uma atividade lúdica para se tornar uma estratégia de desenvolvimento humano e de inclusão social da maior relevância. Esse êxito nacional se traduziu também na Bahia, numa boa trajetória da presença do partido, seja na Secopa comigo, seja na Secretaria do Esporte sob a liderança de Nilton Vasconcelos. Portanto, é um reconhecimento a uma ação do partido, que demonstra que alcançou maturidade e competência gerencial para liderar projetos de gestão pública; sobretudo, vinculados ao esporte.
V – Quando da sua posse, em 2009, você falou da importância de encarar a Copa do Mundo no Brasil não apenas do ponto de vista de divulgação das cidades como destino turístico, mas também como um veículo de transformação social e de formação de valores. O que precisa ser feito para se alcançar essa meta?
NC – Sem desconsiderar a importância que é a projeção da imagem do país e de cada uma das 12 sedes, está a geração de legados; daquilo que pode resultar em dividendos econômicos, sociais, culturais ou mesmo educacionais, produto desse evento e do ciclo do esporte nos próximos anos. Para que nós alcancemos esse objetivo, é muito importante que a estrutura de governança da Copa, que o arranjo institucional e as diretrizes que orientam a nossa ação, observe esse víeis do legado; e nós elegemos fazer da Secopa uma indutora de legados para a Bahia em 2014. É até um víeis muito do partido – que tem foco no social – a nossa total atenção com questões essenciais, como a acessibilidade, sustentabilidade e preocupação ambiental para que a Copa seja verde e para que pensemos na cidade como um todo e não só no equipamento esportivo. Para que haja requalificação urbana, novos bairros, ações que toquem questões como saúde e saneamento, e para que a Copa esteja na escola, levando esse debate ao meio estudantil para nós prospectarmos e fomentarmos políticas públicas em esporte não somente voltadas para o evento de 2014, mas também às Olimpíadas de 2016 e, quem sabe, transformando a Bahia numa potência esportiva e, ao mesmo tempo, assegurando que essas ações convirjam para uma concepção de Copa inclusiva, no sentido de oferecer alternativas a toda a população. A Copa precisa ser boa para o turista e as seleções que nos visitarão, mas precisa ser melhor ainda para os que moram aqui, pensando num estado mais sustentável, mais saudável e mais inclusivo.
V – Quais os desafios de Salvador, enquanto sede da Copa, para receber bem os turistas e as delegações oficiais, além dos jogos?
NC – Sobretudo, o desafio da qualificação; a Copa tem tudo a ver com educação. De um lado, temos os desafios da infraesturutra, que significa ter o estádio, a mobilidade urbana e outras ações – e aqui reitero o programa Cidade Bicicleta, com propósito de construção de 150 km de ciclovias até 2014, oferecendo uma alternativa sustentável. Mas, além dessas questões, está a qualificação, preparar as pessoas, o capital humano associado ao capital intelectual. Ou seja, investirmos em programas de treinamento, de educação, que toque não só questões como domínio do idioma, mas também do empreendedorismo, de noções de hospitalidade, de história da cidade, de geografia humana e social para que, aqueles que participem da Copa, atendam com elevado nível de qualidade e façam, dessas conquistas, um patrimônio seu, para que desenvolvam alternativas novas de sobrevivência, dando ao povo da Bahia mais dignidade. Já propusemos ao Governador, inclusive, a criação da Escola da Copa; um instituto de formação voltado, exclusivamente, para preparar as pessoas para o Mundial.
V – E como as demais cidades baianas, que estão disputando para serem Centros de Treinamento, devem se preparar?
NC – Nós temos um programa de interiorização do Mundial, porque entendemos que não é uma Copa apenas das capitais e, portanto, precisa resultar em dividendos para todas as cidades brasileiras. Nós temos 14 cidades baianas disputando a condição de Centros de Treinamento das Seleções (CTS), cuja definição é das próprias seleções; mas já temos os 14 projetos encaminhados a FIFA e que vão deixar legado, porque significa que as cidades vão ter que investir em requalificação dos estádios e rede hoteleira, mobilidade urbana e segurança. E, se não forem CTS, podem fazer exibições de jogos. É possível também trazer vôos para Salvador que integrem os diversos destinos do mundo a outros roteiros da Bahia; estimular novas rotas aéreas, já que o estado é referência de exuberância de patrimônio natural e são muitas as cidades que podem se apresentar como alternativa para o período entre um jogo e outro que distam, geralmente, cinco dias. As prefeituras têm que apresentar seus portfólios e se prepararem do ponto de vista profissional.
V – Como você vislumbra que esteja a Bahia, daqui até 2014, em termos de desenvolvimento econômico e social ao longo deste processo preparativo para a Copa?
NC – Nós somos otimistas, porque o Brasil vive um ciclo de desenvolvimento sustentado, crescendo a taxas extremamente significativas e a Bahia é a locomotiva do Nordeste, que tem os maiores níveis de desenvolvimento do PIB da região. Então, esperamos que esse crescimento econômico possa se articular com o evento Copa, alavancando a Bahia também do ponto de vista social, cultural e educativo, de modo que tenhamos, a partir de 2014, o estado num novo patamar, capaz de competir, nas mais diferentes dimensões, com qualquer outro. E que o Brasil, então, se sinta mais fortalecido no concerto das nações para se constituir num país cada vez mais soberano e indutor de políticas que estejam voltadas para a qualidade de vida da população.
V – A Bahia ainda tem chances de receber a abertura dos jogos?
NC – Eu continuo afirmando que sim; e não somente pela paixão e pelo desejo, mas porque somos, hoje, a luz da grande imprensa nacional, haja vista a publicação, no dia 23 de dezembro, de um ranking dos projetos da Copa, pela Folha de São Paulo, colocando Salvador, junto com Belo Horizonte, com os projetos mais avançados. Temos, portanto, condições plenas de receber a festa e o jogo de abertura da Copa. Nesta semana, todo o nosso trade turístico esteve reunido, com mais de 70 pessoas e 40 entidades, dos diversos segmentos, que vão levar a campanha às ruas nos próximos 60 dias, tendo, como culminância, o carnaval para mostrar, ao mundo inteiro que, se nós podemos receber um evento que põe 1,5 milhão de pessoas nas ruas por dia, podemos receber a Copa e a abertura com toda certeza. Inclusive, vamos trazer o staff da FIFA num programa de Observadores do Carnaval.
V – A Secopa terá, de fato, orçamento próprio e funcionamento de Secretaria?
NC – É a nossa expectativa. Na segunda-feira (24), temos uma audiência com o governador para tratar do assunto. Esperamos muito que essa seja a posição dele, porque a autonomia administrativa e financeiro-orçamentária propiciará condições ainda mais favoráveis àquilo que ele sinalizou, quando escolheu seu novo secretariado: elevação na eficiência da gestão com foco no social. Precisamos de uma estrutura e de uma equipe capazes de corresponder a um desafio grandioso, que vai colocar pela frente muitos obstáculos. Não se faz gestão eficiente sem agilidade; e autonomia é sinônimo de facilitação dos processos decisórios. Agora, naturalmente, temos que aguardar a palavra final do governador, confirmando aquilo que foi elemento de discussão e negociação com o PCdoB durante esse último período de definição do secretariado.
De Salvador,
Camila Jasmin