Claudio Ferreira Lima – Utopia mobilizadora

Em seu discurso de posse, a presidente Dilma diz no início e rediz no final que governará para todos, ou seja, para 190 milhões de brasileiros. E, daí, o projeto de Brasil do seu antecessor, ainda a grandes traços e largas malhas, será, enfim, completado.

De fato, após algum tempo à deriva, o Brasil retoma o planejamento e, com isso, as suas próprias rédeas. E já não é sem tempo. Remember Celso Furtado: “(…) os países da periferia do capitalismo estão condenados a ‘inventar’ suas estratégias de desenvolvimento. Caso contrário, entregarão o seu destino aos processos de reiteração e reprodução das condições que geram dependência e atraso”.

Diante dessa necessidade – quanto mais agora como país intermediário -, vêm surgindo, dentro e fora do governo, contribuições para a formulação de um projeto nacional, como, no primeiro caso, a do Ipea, que culmina na 1ª Conferência do Desenvolvimento – Code/Ipea; e, no segundo, a do Fórum Nacional, liderado pelo ex-ministro Reis Velloso, e a da Fundação Maurício Grabois, que, com a Editora Anita Garibaldi, lança “Desenvolvimento – Ideias para um projeto nacional”.


Em março de 2006, o Conselho Federal de Economia (Cofecon) aceita desafio do então ministro Ciro Gomes e, em setembro do mesmo ano, entrega, solenemente, em Fortaleza, aos partidos dos candidatos a presidente da República, uma pequena publicação intitulada “Um projeto para o Brasil – A força da unidade na diversidade”.


O próprio título é revelador da visão adotada, que privilegia a dimensão espacial. Nesses termos, só haverá desenvolvimento no Brasil quando cada uma das suas cinco regiões for parte ativa da dinâmica socioeconômica nacional. Além disso, a inserção na economia global – aqui, valemo-nos de Rubens Ricupero – deverá, ao mesmo tempo, ajudar-nos a integrar como produtores e consumidores de um mercado unificado os milhões de excluídos e marginalizados, herança de mais de quatro séculos de “integração perversa”.


E, assim, cada Conselho Regional passa a discutir o projeto nacional a partir das potencialidades de cada estado e região, dentro do objetivo maior de se fortalecer o Brasil. Desse processo surgem propostas que, consolidadas, abrangem, em linhas gerais: a questão global (inserção internacional com soberania); a integração nacional para o desenvolvimento (num horizonte de longo prazo, as questões político-institucional, econômica, territorial e social (educação – esta, central no Projeto -, saúde, segurança pública, previdência social e políticas sociais); as relações internacionais; as políticas transversais (c&t e inovação, meio ambiente e cultura); e a gestão administrativa (planejamento, finanças públicas, pessoal, eficiência gerencial e comunicação social).


Estou certo de que esse trabalho não foi em vão, pois continua atual visto que qualquer projeto para o Brasil não poderá dispensar a óptica regional, que é a utopia mobilizadora, essa força fora do comum capaz de unir todo o Brasil de que um dia me falou dom Fragoso, à época bispo de Crateús.

 
 

Cláudio Federeira Lima é economista

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