Ana C. Cavalcante – O paraíso do emprego? Não é aqui…

Brasil recuperou 20 anos de desemprego, mas ainda precisa avançar muito para resolver gargalo da mão de obra pouco qualificada.

O Brasil fechou 2010 batendo recorde na geração de empregos formais. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) registraram, com suas pesquisas, o vigor do mercado de trabalho nacional, no encerramento do ano passado. As marcas são emblemáticas: apenas 5,3% da população economicamente ativa do País estavam sem ocupação formal em dezembro, segundo o IBGE. Já pela metodologia do Dieese, a taxa de desemprego era de 10,1%., no mesmo período. Abordagem e números diferentes à parte, o importante é notar que, no ano imediatamente após à crise mundial, o patamar de emprego no Brasil é, realmente, invejável.

Sérgio Mendonça, diretor do Dieese, é categórico ao dar a dimensão do desempenho nacional: “O mercado de trabalho recuperou cerca de 20 anos de desemprego”. Ele lembra que o levantamento é feito em sete regiões metropolitanas: “Em Brasília, começamos a pesquisa em 1991; Porto Alegre, em 1992; Belo Horizonte, em 1995; Salvador, em 1996; Recife, em 97; e Fortaleza, só agora em 2009. Em todas essas regiões, a taxa média de desemprego de 2010 é a menor. Só em São Paulo que não, porque a pesquisa vem desde 1985. Na segunda metade dos anos 1980, o desemprego estava abaixo do patamar de hoje”, arremata.

Em números, o Dieese apurou que pouco menos de 2,4 milhões de brasileiros estão desempregados nas sete regiões metropolitanas pesquisadas – São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Distrito Federal, Porto Alegre, Salvador e Recife. Ou seja, uma em cada 10 pessoas inseridas no mercado de trabalho não trabalhava nas regiões pesquisadas. Os dados mostraram que entre as mais de 22,18 milhões de pessoas que estão no mercado de trabalho, 19,9 milhões exerciam alguma ocupação.

Pelo IBGE, além do percentual de dezembro, a média de 6,7% para o ano também é uma baixa recorde. A menor da série histórica do instituto iniciada em 2002. No ano passado, os desocupados eram 1,6 milhão de pessoas – número 15% menor que o de 2009. O total de trabalhadores com carteira assinada no setor privado em dezembro ficou em 10,5 milhões – resultado estável em relação a novembro e 8,1% maior que o de dezembro de 2009. A performance resultou num recorde na proporção de trabalhadores com carteira (10,2 milhões de pessoas) sobre o total de ocupados: 46,3% (contra 44,7% em 2009 e 39,7% em 2003).

Devagar com o andor que o santo é de barro

O excelente desempenho do Brasil na ampliação do mercado de trabalho acaba por expor, ainda mais, um grave problema da economia nacional. A baixíssima qualificação da mão de obra brasileira. Se esse já era um gargalo importante nos anos em que o País andava devagarinho na direção do crescimento, imaginem, caros leitores-internautas, como o problema se apresenta agora que voamos entre as nações emergentes!

O ponto central de todo este processo nos leva ao maior de todos os entraves ao desenvolvimento socioeconômico desse imenso país: a educação. Seja de base, técnica-profissionalizante ou acadêmica. Uma nação não é capaz de avançar de maneira sustentável sem que sua população esteja satisfatoriamente preparada. Se invertemos a ordem das coisas – geramos emprego antes de educar –, pagamos um alto preço por isso. Estamos respondendo por essa inversão agora. E pode ficar ainda mais complicado. O risco de darmos passos para trás porque não nos preparamos para o crescimento é iminente. Passa da hora de revolucionar o Brasil pela educação e não apenas pela via mais fácil da expansão econômica.

Ana Cristina Cavalcante é jornalista, com diploma, que adora economia, filosofia, rock inglês e futebol.

Fonte: InvestNE