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Socialist Voice: "Romper a conexão com o Euro!"

A crise em torno do Euro é fonte de instabilidade crescente no seio da própria União Europeia. A UE e a elite política na Irlanda – que executam ativa e voluntariamente as políticas e os diktats das forças econômicas dominantes no seio da UE, em particular o capital financeiro alemão – gostam de dar a impressão de que está tudo sob o seu controle e de que podem dominar todos os acontecimentos e brincar com eles. Contudo, toda nova medida que põem em prática cria novas problemas.

Durante os meses de outubro e novembro eles estabeleceram o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira "a fim de fornecer assistência rápida e eficaz em liquidez, em cooperação com o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (EFSM) e o Fundo Monetário Internacional, e isto na base de programas enérgicos de ajustamento das políticas econômicas e fiscais a aplicar pelos Estados membros afetados tendo em vista assegurar que a dívida permaneça sustentável".

Nos fim de novembro, alemães e franceses puseram-se de acordo sobre o estabelecimento de um Mecanismo Europeu de Estabilidade Permanente. Os objetivos acordados são claros: "A assistência fornecida a um Estado membro da zona euro repousará sobre um programa enérgico de ajustamento econômico e fiscal e sobre uma análise rigorosa da sustentabilidade da dívida efetuada pela Comissão Europeia e o FMI, em ligação com o BCE".

O acordo entre a União Europeia e o Banco Central Europeu, por um lado, e o governo irlandês e o Banco Central da Irlanda, intitulado Memorando das Política Econômicas e Financeiras, estabelece as políticas econômicas e financeiras que serão executadas a partir do orçamento de 2010 até o fim de 2012. Elas serão seguidas pela UE e o FMI, com relatórios semanais e trimestrais que serão enviados, descrevendo minuciosamente o que foi realizado, as quantias economizadas, os cortes nos serviços públicos, a fim de assegurar que os cortes nas despesas públicas sejam plenamente respeitados.

Dentre os 85 bilhões de euros dos "empréstimos", 17,5 bilhões de euros vêm do Fundo Nacional de Reserva para os Aposentados. Para estes empréstimos, será exigida uma taxa de juro de 5,8%.

O Estado socializou a dívida das empresas na região, num montante de 140 bilhões de euros, segundo uma estimativa muito prudente, e colocou este fardo ilegítimo sobre as costas de 4,5 milhões de pessoas.

Todos os discursos sobre o fato de a Irlanda estar "no coração da Europa" se votássemos Sim no referendo sobre o Tratado de Lisboa era claramente um truque, uma armadilha hábil estendida ao povo irlandês. Os acontecimentos do fim de novembro e do princípio de dezembro nos demonstraram que o coração da União Europeia era frio e sombrio. As necessidades do povo irlandês não os preocupam. A sua prioridade é a defesa e a manutenção do Euro, a qualquer preço.

Se o acordo cozinhado nos corredores de Bruxelas, embrulhado e vendido pelo governo ao povo irlandês visava estabilizar o Euro e impedir o "contágio", doravante parece impossível travar a instabilidade e, à medida que Portugal e a Espanha sobem na escala da crise, os prestidigitadores de Bruxelas parecem mais impotentes do que nunca.

Eles podem ser capazes de cozinhar alguma coisa juntos, improvisadamente, para manter a Irlanda no Euro, mas é improvável que o Euro sobreviva ao que eles chamam um "salvamento" de Portugal, sem falar da Espanha.

Como o Partido Comunista enfatizou quando nos opusemos à entrada do Estado no Euro, o Estado e o povo irlandês entregavam então uma alavanca essencial a uma potência externa sob a forma do Banco Central Europeu – os tesoureiros dos capitais financeiros europeus. O projeto Euro no seu conjunto foi vendido com a ideia de que poderíamos passar a férias na Espanha e que não teríamos de mudar o nosso dinheiro – não mais despesas e câmbio e cortávamos finalmente o cordão umbilical que nos ligava ao Reino Unido.

Todos os tratados da União Europeia nos foram vendidos sobre uma pirâmide de mentiras, de meias verdades, de intimidação e de coação. Devemos doravante retomar o poder de decidir quais são as nossas prioridades, de retomar nossos poderes econômicos, fiscais e políticos das mãos da União Europeia, se quisermos romper a espiral crônica da dívida, da pauperização e da emigração em massa.

Já é tempo de romper a ligação que nos une ao Euro. Devemos estabelecer uma moeda sobre a qual mantenhamos o controle e estabelece-la a um ritmo que corresponder à necessidades do nosso nível de desenvolvimento econômico e social. Trata-se de uma etapa fundamental que deve caminhar a par da rejeição deste dívida "soberana" ilegítima.

As reivindicações para o restabelecimento da nossa soberania política e econômica não são "sem sentido", nem uma espécie de anacronismo nacionalista, mas reivindicações políticas fundamentais e ferramentas essenciais para a constituição de uma Irlanda progressista e socialmente justa. Trata-se das pedras angulares necessárias à construção de uma economia planificada susceptível de ultrapassar a anarquia do capitalismo.

O original encontra-se Socialist Voice de dezembro de 2010. Fonte: Resistir.info