Atropelamento em massa de ciclistas expõe uso do carro como arma

Sexta-feira (25). Porto Alegre. Todos estavam prontos para a tradicional Biciletada, encontro do Massa Crítica que reúne ciclistas uma vez por mês em várias capitais do país. Logo na saída do passeio, o pior aconteceu. Sem o mínimo constrangimento, um Golf preto parte para cima dos ciclistas, atropelando dezenas de pessoas. As cenas de agressividade, flagradas por um cinegrafista amador, expõem uma prática crescente e escandalosa no país: o uso do carro como arma.

Neste domingo (28), o motorista que atropelou ciclistas no bairro Cidade Baixa, se apresentou à Polícia Civil para prestar depoimento. O bancário, funcionário do Banco Central, Ricardo Neis, 47 anos, entrou na Delegacia de Crimes de Trânsito pelo estacionamento, acompanhado por dois advogados de defesa e escoltado por quatro policiais do Batalhão de Operações Especiais (BOE).

Ricardo e seu carro atingiram pelo menos 15 pessoas, oito tiveram de ser encaminhadas ao Hospital de Pronto Socorro (HPS). Para os ciclistas, o atropelamento foi intencional. "Ele acelerou premeditamente e atropelou o grupo inteiro", relata o jornalista Leo Ponso, que estava na calçada observando a passagem das bicicletas e viu o atropelamento.

Ao encerrar o depoimento, Ricardo disse à imprensa que foi agredido pelos ciclistas e agiu em legítima defesa. "Estou totalmente transtornado com o que aconteceu e lamento muito o ocorrido, mas não tive outra alternativa. Eles atacaram o carro, quebraram espelhos e paravam os carros que transitavam pelo local, então tive que acelerar para sair logo dali senão seria linchado", afirmou.

Para Palito, um dos integrantes do Massa Crítica, que estava atrás dos ciclistas e foi um dos primeiros a ser atingido, não houve nenhum tipo de intimidação ou agressão dos ciclistas ao motorista. "O motorista colocou o pé no acelerador e foi. Era gente e bicicleta voando e ele não parava", conta.

Ricardo ainda alega que o ato de abandonar o carro foi explicado pelo fato de ter ficado temeroso com uma nova aproximação dos manifestantes. "Os documentos foram deixados no carro para que pudesse ser identificado, mostrando que não estava fugindo", afirmou.


Não é de hoje que assistimos, em diversos pontos do Brasil, carros sendo utilizados como armas. Com agressividade, muitos insistem em ostentar poder através de seus veículos. Que o caso de Porto Alegre não fique impune e que seja mais um, de tantos episódios, que ajudem a educar os brasileiros sobre o volante. Se depender dos ciclistas, a cena de terror não vai ficar em branco. Vários protestos contra "monstroristas" acontecem nesta terça-feira (1º de março), em todo pais.

Da redação, com agências

*Matéria modificada à 19h58min de 01/03/2011.