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Graça Borges: Memória e resistência no carnaval de Minas Gerais

Trio elétrico, gente animada, muitas fantasias, samba no pé e descontração. Foi assim a festa pré-carnavalesca do Bloco da Cidade e Bloco Vermelhos da Cidade no domingo (27) na rua Sapucaí, no bairro Floresta, em Belo Horizonte, MG.

Por Graça Borges, de Belo Horizonte

A volta dos blocos carnavalescos é uma tendência constatada nos últimos tempos e que este ano se revela com mais intensidade. Já no sábado, paralelo ao desfile da Banda Mole, em vários bairros a animação marcou presença com foliões se aquecendo em torno de blocos criados por moradores locais. Iniciativa divulgada e incentivada através das redes sociais.

Diferentemente das agremiações formadas nos bairros, os Bloco da Cidade e Bloco Vermelhos da Cidade nasceram de dois movimentos de belo-horizontinos voltados ao resgate e apropriação da cidade e de suas mais legítimas manifestações: a Praia da Estação e a Resistência ao Despejo da Quadra do Grêmio Recreativo Escola de Samba Cidade Jardim, lembrou a deputada federal Jô Moraes, presidente do PCdoB/MG, que é integrante da agremiação e uma das fundadoras do Bloco Vermelhos da Cidade.

Espaços

A Praia da Estação foi o movimento de resistência que levou estudantes, setores sociais e culturais da cidade a ocupar o espaço da Praça da Estação nos finais de semana em razão da proibição do uso daquele espaço pela administração pública municipal. Até as suas fontes de água chegaram a ser fechadas para afastar os usuários e manifestantes.

Os protestos se caracterizaram pela ocupação silenciosa, com as pessoas em roupas de banho. No início das tardes, eram feitas coletas para o aluguel de um caminhão pipa que lançava água sobre os manifestantes: homens, mulheres e crianças, algumas delas usando boias.

A reação ao despejo da quadra da Escola de Samba Cidade Jardim também se deu de uma forma bem peculiar. Houve o uso maciço da internet e a participação de diversos setores e segmentos sociais. A dimensão alcançada pela resistência ultrapassou as fronteiras da cidade, do estado e até do país. O resultado, mais uma vez, foi a vitória da população. Jô Moraes alerta ainda que esta é a única quadra de escola de samba de Belo Horizonte e foi construída pela agremiação – formada, em sua maioria, pelos moradores do Morro Santa Maria, com recursos próprios, há cerca de 40 anos.

Vermelhos

A constituição do Bloco da Cidade se deu pelo encontro dos participantes dessas duas manifestações. Eles participaram de um ensaio na Escola de Samba Cidade Jardim e que culminou com a criação do bloco. O Bloco Grêmio Recreativo Vermelhos da Cidade reúne militantes do PCdoB, lideranças comunitárias, vereadores, estudantes, representantes de vários segmentos como artistas, professores, entre outros moradores de Belo Horizonte, que também integraram as manifestações.

No domingo (27), fantasiados de bruxas, bobos da corte e carrascos – numa alusão ao obscurantismo que tem caracterizado ações públicas nos últimos tempos na cidade e no estado – eles tomaram as ruas da Floresta. O desfile do Bloco Vermelhos da Cidade saiu da rua Mucuri, esquina de Contorno, até a rua Sapucaí, onde integrantes da Escola de Samba Cidade Jardim e do Bloco da Cidade já estavam concentrados. Seus integrantes levavam cartazes alusivos ao viés obscurantista: “Defenda o teu, Galileu”, “Idade Média nunca mais”; “Papa me poupe, libere a camisinha”; “Com tesão não há Inquisição”; ou “Acho tudo muito estranho”, entre outras.