João Ananias: Chegou a vez da Líbia

Em pronunciamento foi feito na última segunda-feira (21/03) na Câmara dos Deputados, João Ananias condenou os ataques contra a Líbia com o aval da ONU. O parlamentar comunista se diz “estarrecido e inconformado com a desfaçatez, incoerência e porque não dizer, o cinismo dos “donos do mundo’ que se arvoram de “patrulheiros” da democracia”. Leia a seguir a íntegra do pronunciamento.

Enquanto o presidente Obama pousava de “vestal” da Paz, da democracia aqui no Brasil, assistíamos o bombardeio à Líbia, agora com o aval da ONU, tendo como “sustentação” o pálido argumento de criar uma zona de exclusão aérea para proteger civis dos ataques de Kadhafi.

Fico estarrecido e inconformado com a desfaçatez, incoerência e porque não dizer, o cinismo dos “donos do mundo’ que se arvoram de “patrulheiros” da democracia e com essa bandeira na mão a transformam em palmatória ou pior, em munição pesada contra aqueles que não se alinham às suas ideias.

O princípio da autodeterminação dos povos mais uma vez foi flagrantemente desrespeitado sob o falacioso discurso da proteção a cidadãos civis. Como proteger pessoas despejando bombas sobre elas? Esse filme já assistimos inúmeras vezes, senão vejamos: Os EUA sob o manto do combate aos terroristas afegãos, que anteriormente eram seus aliados, inclusive foram treinados para a guerra pelos americanos, agora são caçados em uma batalha permanente que destruiu o Afeganistão. No Iraque, mesmo a ONU defendendo o contrário, sob pretensão de encontrar armas químicas que nunca foram encontradas, os americanos e seus aliados destruíram o país, semearam a violência interna, desrespeitaram sua autonomia, transformando-o numa capitania dos vis interesses do capitalismo, não levando em consideração ser ali, a antiga Mesopotâmia, berço dos primeiros avanços de nossa combalida civilização.

A ONU, instituição tantas vezes desrespeitada, inclusive quando se pronunciou contra a sanha de Israel, contra os palestinos, agora no episodio da Líbia, se acachapa mais uma vez diante da ganância do capitalismo internacional, que em crise irreversível busca através da “pirataria” do Século 21, alimentar a indústria bélica e os magnatas do petróleo, através do descarado argumento da defesa da democracia.

Porque os EUA, OTAN e ONU não se posicionaram contra os regimes do Egito, Arábia Saudita, Bahrein e tantos outros aliados, que se não fora a ousadia de seu povo, em prol da transformação, jamais receberam ou receberiam, pelo “andar da carruagem” qualquer sanção ou repressão, mesmo alguns vigorando há 30, 40 anos regimes ditatoriais? Sequer eram tratados como ditadores os aliados dos EUA, que comungaram ou comungam com suas práticas coloniais. Que precedentes graves se abrem com essas práticas, baseadas na invasão, repartição e esbulho das riquezas das nações, respaldados por “intenções boazinhas” que são incompatíveis com a ganância do capitalismo.

Não estou a defender o Kadhafi, só não posso concordar com a política internacional de dois pesos, duas medidas, ou seja, para os aliados, mesmo os mais esdrúxulos, a tolerância, a conivência, a proteção. Para os adversários, as armas como forma de garantir o confisco.

Tomara que nunca falte água nos EUA e em outras nações do seu conluio, pois com esses precedentes consentidos por quase todos, imaginem onde eles vão arbitrariamente buscar?

Peço que meu pronunciamento conste nos anais da Câmara.

Fonte: Assessoria do Deputado Federal João Ananias (PCdoB/CE)