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Maria Lúcia Braga: A presença das mulheres no governo Dilma

No final do ano passado, a presidenta eleita Dilma Rousseff se deparou com uma tarefa complexa e difícil: garantir a presença de mulheres no primeiro escalão do governo federal.

Por Maria Lúcia de Santana Braga*

A meta inicial de pelo menos um terço de mulheres na equipe ministerial acabou não sendo cumprida por conta de dois aspectos principais: 1) em geral, os partidos da base aliada não apresentaram candidatas entre os nomes indicados; e 2) a invisibilidade das mulheres como cidadãs e sujeitos da vida pública.

O primeiro ponto demonstra uma dificuldade intrínseca existente na vida partidária, que é o surgimento e manutenção de lideranças femininas, qualificadas e preparadas para a disputa político-partidária.

Mulher e poder

Segundo lembra a cientista política Célia Pinto, a relação entre a mulher e o poder coloca em evidência questões relacionadas também ao perfil de mulheres desejadas nos espaços de poder: mulheres em geral, independente de sua posição política ou ideológica, ou mulheres feministas que tenham uma agenda próxima dos movimentos de mulheres e feministas.

Historicamente, no campo político brasileiro, constata-se a presença de mulheres de perfis variados. Da mesma forma, é possível encontrar alguns defensores da agenda feminina e feminista em ministérios e parlamentos compostos majoritariamente por homens.

No entanto, a garantia da presença das mulheres, particularmente as afinadas com uma agenda feminista, nos cargos eletivos e executivos promove a inclusão política de forma mais democrática e ampliada.

Invisibilidade

O segundo ponto – invisibilidade das mulheres como sujeitos da vida pública – encontra-se intimamente articulado com o primeiro ponto, visto que a ausência de mulheres e de ideias capazes de colocar em xeque a estrutura social de dominação tem impacto direto na presença nos partidos e nas demais instituições.

No artigo Memórias das Lutas Feministas no Brasil, as pesquisadoras Hildete Pereira de Melo e Lourdes Bandeira recuperam a história do movimento de mulheres e feminista no País e destacam que "em 121 anos de República a sociedade brasileira só teve 18 mulheres que ocuparam pastas ministeriais como efetivas e interinas. Deve-se destacar que onze destas ministras foram nomeadas nos dois mandatos do presidente Lula. Apenas nas eleições de 2010, pela primeira vez, uma mulher disputou o segundo turno eleitoral e foi eleita”.

As duas autoras questionam que "a pensar a significação da presença das mulheres nas relações entre espaço/vida privada e espaço/vida pública, a fim de responder a pergunta: que fatores estão na origem da participação (ou não) das mulheres nas esferas de poder, seja na política, seja nas esferas jurídicas ou no mundo do trabalho? Ainda é necessário pensar a importância da presença das mulheres nas formas de participação-representativa constituídas!”

Nove ministras

A ausência das mulheres nos espaços políticos, que são masculinos em sua quase totalidade, ainda é uma realidade no Brasil. No governo Dilma Rousseff, tivemos já um incremento com a nomeação de nove ministras, percentual bem superior em relação aos governos anteriores.

No entanto, os espaços político-partidários permanecem restritos e resistentes a uma agenda de gênero que promova a igualdade entre mulheres e homens. Resta-nos aguardar que os avanços nos próximos anos sejam mais ousados rumo a uma inclusão política das mulheres em todos os níveis.

A primeira presidenta brasileira tem a oportunidade histórica de ser e fazer pelas mulheres brasileiras o que os outros não fizeram. As ações e programas lançados durante o mês de março demonstram que a vontade política de Dilma Rousseff é um capital fundamental na luta pela cidadania plena de mulheres e homens no Brasil. 

*Maria Lúcia de Santana Braga é socióloga e doutora em Sociologia, é colaboradora do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Fonte: Adital