Líder dos trabalhadores do Pecém é preso sem provas

Antonio Lopes foi indiciado por ser apontado como um dos líderes do incêndio no alojamento da Enesa

preso político no Ceará - Igor de Melo

Ele foi indiciado por ser apontado como um dos líderes do incêndio no alojamento dos trabalhadores da empresa Enesa Engenharia, responsável pelo canteiro de obras da Termelétrica Energia Pecém (UTE-Pecém). O incêndio ocorreu no dia 15 do mês passado. Houve perdas materiais.

O trabalhador ficou conhecido como “Lula” pelos companheiros, em função da liderança que exerceu na paralisação dos cerca de 3 mil funcionários da UTE-Pecém há duas semanas.

O delegado Cleófilo Rodrigues Aragão – que pediu a prisão de “Lula” -, informou ao O POVO que o inquérito já foi entregue à Justiça. Além de ter sido indiciado por suposta participação no incêndio, ele poderá responder por formação de quadrilha e por suspensão ou abandono coletivo de trabalho.

Segundo Aragão “dois ônibus que transportavam os funcionários já coagidos pelos motoristas, foram para o alojamento, que fica distante do canteiro de obras. Lá, tomaram as chaves dos ônibus e depois atearam fogo nos alojamentos. O Antonio seria uma das pessoas envolvidas. Teria ajudado a incendiar os alojamentos e devolvido a chave dos ônibus a um funcionário da empresa”.

A prisão preventiva de Antonio Lopes, segundo o delegado, se deu para se manter “a ordem pública”. Além disso, de acordo com Cleófilo Aragão, “as testemunhas se sentiram ameaçadas. A ordem no município foi afetada”, disse.

Sintepav

O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção de Estradas, Pavimentação e Obras de Terraplanagem em Geral no Estado do Ceará (Sintepav-CE) pôs o advogado Kenedy Ferreira para cuidar do caso.

Lula é natural de São Luiz (MA) e está há cerca de dois meses no Ceará. Morava no alojamento que foi incendiado. “Foi apenas uma denúncia. Não tem uma testemunha de que foi ele que ateou fogo. Consta no inquérito que foi preso em flagrante, mas foi preso sete dias depois do incêndio”, defendeu o presidente do Sintepav, Raimundo Nonato Gomes.

O responsável por decretar a prisão preventiva de Antonio Lopes foi o juiz titular do fórum de São Gonçalo do Amarante, Fábio Medeiros Falcão. O delegado Cleófilo Aragão informou ainda que outras três prisões foram decretadas, mas os indiciados “debandaram”.

Entenda a notícia

Antonio Lopes morava no alojamento incendiado. Diz não saber do seu futuro. Afirma querer continuar trabalhando. Deverá ser demitido. Não é sindicalizado, mas demonstrou liderança com os trabalhadores.

Bate-Pronto

Antonio Manoel Lopes, o “Lula”, é operário

De uma das celas da delegacia de São Gonçalo, o maranhense Antonio Lopes descarta participação no incêndio que destruiu parte do alojamento do canteiro de obras da Enesa Engenharia. Leia a seguir a conversa com o operário

O senhor era líder dos trabalhadores?

Com certeza. Essa paralisação começou por um cidadão de nome Ronaldinho, que fez toda a movimentação. Parou e nem eu mesmo acreditava que pudesse acontecer. Ele falou em um dia de domingo (13). E na segunda-feira (14), nós chegamos na obra e estava parada. A partir do momento que estava parada, a gente teve que formar uma comissão para a negociação.

Qual o seu envolvimento com o incêndio no alojamento da empresa Enesa Engenharia, no dia 15 de março?

Nós fomos para o trabalho e quando nós retornamos, houve o incêndio.

O senhor considera injusta sua prisão?

Com certeza. Eu não participei. Não tem porque, aos 52 anos, fazer um negócio desses. Assim como eu estava parando para ter um direito meu, com certeza a empresa também tem o direito dela.

O senhor é sindicalizado?

Não, não.

O senhor sabia que a paralisação tinha sido considerada ilegal?

Eu quero deixar bem claro pra você que eu não sabia, até porque não fui eu quem comecei. Apenas, depois que estava tudo parado, formamos uma comissão. Aí, eu não sei se estava ilegal ou legal.

Se for preciso outra vez, vai fazer manifestações com os trabalhadores?

Não. No momento os próprios companheiros já voltaram pro trabalho e não olharam pra mim.

Porque o apelido de “Lula”?

A partir do momento que sentamos para fazer a negociação, veio na cabeça dos companheiros de me chamar de Lula. Ficou. Gritaram esse nome e foi bem-vindo em uma hora que mais precisava de ter uma voz que falasse um pouco mais alto.

Fonte: O Povo