Forças da ONU disparam contra governo na Costa do Marfim
Helicópteros da Operação das Nações Unidas na Costa do Marfim (Onuci) dispararam nesta segunda-feira (4) em Abidjã contra o palácio presidencial e a residência do presidente Laurent Gbagbo, declarou à agência France Presse o porta-voz da força, Hamadoun Touré. Gbagbo é forçado pela "comunidade internacional" — Estados Unidos e seus satélites — a deixar a presidência, desde as últimas eleições no país.
Publicado 04/04/2011 18:14
Mais cedo, helicópteros da força francesa Licorne tinham disparado em Abidjã contra os acampamentos das forças armadas em Agban e Akouedo.
Ao mesmo tempo, oposicionistas ligados a Alassane Ouattara, que disputou as eleições com Gbagbo e tido e havido por Estados Unidos e aliados como presidente eleito do país, lançaram uma ofensiva contra as forças armadas na cidade de Abidjã, informou o porta-voz do primeiro-ministro de Ouattara, Guillaume Soro.
O objetivo da ofensiva é avançar para os bairros do Plateau (centro) e Cocody (norte). No bairro administrativo de Plateau, está o palácio presidencial e, em Cocody, a residência presidencial, onde supostamente se encontra Gbagbo.
Em meio à agressão, cerca de 250 estrangeiros residentes na Costa do Marfim foram obrigados a abandonar nesta segunda-feira (4) o país em aviões do Exército francês, informou o Ministério de Relações Exteriores da França.
Esses cidadãos, a maioria de nacionalidade francesa, teriam partido "de forma voluntária" para Dacar e Lomé, confirmou um porta-voz ministerial. Segundo ele, isso não significa que o país esteja realizando uma operação oficial de retirada.
Esses 250 se somam aos 170 que, segundo o ministério, saíram no domingo do país também com destino ao Senegal e ao Togo. Outros estrangeiros podem deixar a Costa do Marfim nos próximos dias.
País vive guerra civil
A Costa do Marfim vive uma guerra civil depois que o presidente em fim de mandato, Laurent Gbagbo, não aceitou entregar o poder a Alassane Ouattara, tido pelo imperialismo e pela mídia hegemonista como vencedor do segundo turno das eleições presidenciais de novembro.
As eleições foram marcadas por fortes indícios de manipulação e fraude. No dia seguinte ao segundo turno, os jornais do país foram unânimes em reconhecer a queda na participação dos eleitores com relação ao primeiro turno.
A missão da ONU na Costa do marfim (ONUCI), que não pode ser aponatada como uma agência pró-Gbagbo, publicou a informação de que a participação foi de aproximadamente 70% (no primeiro turno a participação popular alcançou os 83%).
O jornal "Nord-Sud", um diário que apoia Ouatarra e a rebelião, foi às bancas de jornais do país com a manchete: "À qui profite l´abstention?", cuja tradução fiel seria: "Quem ganha com a abstenção?"
Na noite da eleição, os apoiadores de Ouatarra espalharam uma informação, no Hotel du Golf, em Abidjã, de que seu candidato havia vencido a eleição com 54% dos votos contra 46%, mas que a informação deveria ser mantida em segredo, algo que, segundo analistas, preparou terreno para o estabelecimento da atual crise.
No dia seguinte, Youssouf Bakayoko, presidente da Comissão Eleitoral Independente (CEI) vai proclamar os resultados no Hotel du Golf — sede dos apoiadores de Ouattara —, informa os resultados já sussurados à imprensa na noite de domingo.
Os problemas começam quando se faz a soma dos resultados e a cifra ultrapassa 81%, quando sabe-se que 70% dos eleitores compareceram ao pleito. Os resultados não foram proclamados conforme o primeiro turno, região por região e diante a imprensa nacional.
Outro aspecto que levanta suspeita é o anúncio do resultado na sede do oposicionista, ao invés de na sede da Comissão Eleitoral Independente e também, em primeira mão, para a mídia francesa. Os marfinenses souberam desse resultado pela mídia estrangeira, principalmente a francesa.
Se os dados do número de eleitores da ONUCI foram tão errados – o que alías a ONUCI afirma – não há explicação plausível para elucidar como 600 mil pessoas foram "esquecidas" no pleito.
A ONUCI não deu explicações e a repetida sugestão do governo de Gbagbo de realizar um novo pleito, ou uma recontagem dos votos, foi repelida tanto por Ban Ki-moon, secretário Geral da ONU, quanto pelas forças imperialistas envolvidas nas questões internas do país.
Com agências