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Gbagbo nega rendição e reafirma vitória em eleição marfinense

O líder da Costa do Marfim Laurent Gbagbo afirmou nesta terça-feira (5) que o Exército marfinense solicitou um cessar-fogo, mas desmentiu que estaria pronto "a se render", reiterando que considera ter vencido as eleições presidenciais de 2010.

"O Exército pediu a suspensão das hostilidades… e está discutindo neste momento as condições para um cessar-fogo com as outras forças no terreno, mas no nível político não foi tomada nenhuma decisão", disse Gbagbo em entrevista por telefone à emissora de TV francesa LCI.

Gbagbo disse que a discussão sobre quem ganhou a eleição de novembro permanece, e acrescentou que apenas uma conversa frente a frente com o adversário Alassane Ouattara, indicado pelas nações imperialistas como vencedor do pleito, poderá devolver a paz para a Costa do Marfim.

Guerra civil

Com a ajuda de helicópteros franceses e da missão da ONU no país (Onuci), que debilitaram a artilharia dos seguidores de Gbagbo, os militantes de Ouattara lançaram um ataque final à residência oficial do presidente marfinense, que estava refugiado com a família.

Pouco depois do anúncio do chefe de Estado-Maior pelo cessar-fogo, outros dois generais de Gbagbo também deram ordens para que fossem interrompidos os combates de seus soldados contra as forças rebeladas de Ouattara. Os dois generais são Tiape Kassarate Edouard, comandante superior da Gendarmaria Nacional, e Bruno Dogbo Blé, comandante da Guarda Republicana.

"Hoje, 5 de abril de 2011, a Onuci recebeu três ligações de pessoas informando que a ordem de deter a luta está sendo dada aos membros de Forças de Defesa e Segurança, incluindo as Forças Especiais", afirma o comunicado. "A Onuci também recebeu (por parte de Gbagbo) uma ordem de cessar-fogo e uma demanda de proteção", acrescenta o texto das Nações Unidas.

Sem reconhecimento

Gbagbo, afirmou que não reconhecerá Alassane Ouattara como chefe do Estado, repelindo assim as pressões exercidas, pelo imperialismo, principalmente pela França. "Ganhei as eleições, não estou negociando minha saída (…) Ouattara não ganhou as eleições", afirmou Gbagbo em entrevista por telefone à emissora francesa LCI, gravada por volta das 14h30 (de Brasília).

As negociações para que o presidente "de fato" da Costa do Marfim reconheça o eleito Alassane Ouattara "continuam", disse por sua vez o ministro francês de Relações Exteriores, Alain Juppé, em outra entrevista.

Pressão estadunidense

Em Washington, o presidente estadunidense Barack Obama insistiu que Gbagbo renuncie imediatamente, reiterando o apoio aos "esforços militares" da França e da ONU neste sentido.

"Para pôr fim a esta violência e evitar mais derramamento de sangue, o ex-presidente Gbagbo deve retirar-se de imediato e mandar os que estão lutando em seu nome depor as armas", expediu.

"Cada dia em que a luta continuar trará mais sofrimento e mais retardará o futuro de paz e prosperidade que o povo da Costa do Marfim merece", afirmou, como se determinasse o destino da nação africana.

Ação da ONU é criticada

Ao mesmo tempo, o secretário-geral da ONU foi alvo de críticas pela sua decisão de ordenar ações militares às forças da ONU instaladas na Costa do Marfim.

A responsabilidade pela participação dos capacetes azuis nessas operações foi assumida pelo titular da organização mundial, que esgrimiu parágrafos de duas resoluções aprovadas pelo Conselho de Segurança em dezembro e março passados.

Helicópteros da missão da ONU (Unoci) nesse país africano atacaram segunda-feira posições de tropas que apoiam Gbagbo

Na investida também participaram forças francesas instaladas na Costa do Marfim, a pedido de Ban Ki-moon, informou o porta-voz do governo francês, Francois Baroin.

No entanto, a intervenção militar contra um dos grupos em disputa foi criticada pelo chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, que advertiu que Moscou estudará a legitimidade desses atos de combate.

Para Lavrov, os capacetes azuis da ONU estão sujeitos a um mandato que os obriga a manter a neutralidade, segundo notas recebidas na sede das Nações Unidas em Nova York.

A Rússia é membro permanente do Conselho de Segurança e votou a favor das resoluções utilizadas pelo secretário geral para justificar sua decisão de envolver a Unoci nos combates.

Ao admitir sua responsabilidade na ordem de ataque contra Gbagbo, Ban Ki-moon alegou que a missão da ONU na Costa do Marfim não é parte do conflito.

Disse que se tratou de operações respaldadas pelas forças militares francesas para prevenir o uso de armas pesadas que ameaçavam a população civil em Abidjan, a capital marfinense.

"As ações estão em correspondência com o mandato outorgado pelo Conselho de Segurança e foram lançadas em defesa própria e para a proteção de civis", afirmou como pretexto.

Com agências