Memórias do Araguaia
Memórias do Araguaia vários textos escrito por Paulo Fonteles Filho e publicado em seu blog. Fonteles é ex-vereador de Belém e militante do Partido Comunista do Brasil, atualmente atua como Ouvidor do Grupo de Trabalho Tocantins do Ministério da Defesa.
Publicado 05/04/2011 22:02 | Editado 04/03/2020 16:53
Araguaiana 1
No curso da recente relação que estabelecemos com os ex-soldados que atuaram na guerrilha do Araguaia novas informações vão surgindo. Uma delas diz respeito ao fato de que em 1976 um argentino ficou preso por uma semana no 52 Bis de Marabá.
Mesmo com o fato de que a guerrilha havia sido derrotada um ano antes, os altos escalões da repressão política mantinham naquele tempo, como depois também, uma febril atividade na região do Araguaia.
Pelo menos três ex-militares viram o portenho. Um deles, inclusive, deu-lhe leite e cigarros.
Sabe-se que há três argentinos desaparecidos no Brasil.
Consegui através de um amigo jornalista a foto de um desses argentinos, o Enrique Ruggia.
E submeti ao reconhecimento de dois ex-soldados. Um reconheceu e o outro não.
Tento fazer contato com "Las madres de la plaza de mayo" para que enviem fotos dos portenhos sumidos no Brasil.
Esta luta pela verdade histórica é de toda latinoamerica.
Araguaiana 2
Um ex-mateiro de Apinagés, nos relata quem em 1974 uma tropa de militares enfiados na mata encontra 17 castanheiros na região da Faveira, São João do Araguaia.
Diz o velho, hoje em cadeira de rodas, que sob o comando de um oficial na qual não sabe precisar o nome que os 17 trabalhadores rurais foram fuzilados pela patrulha.
Todos os corpos, estraçalhados, ficaram insepultos e não há registros se ali houve a famigerada "operação-limpeza".
Tal evento, macabro, ficou silenciado por todos estes anos.
Araguaiana 3
Jonas entrou para a guerrilha em fins de 1972.
Era castanheiro e foi recrutado nas matas por Osvaldão, com quem conviveu por meses até se perder na mata depois de um encontro com rastejadores ligados à repressão.
Neste encontro o guerrilheiro Ari tombou morto.
Jonas conta que o negro, de dois metros de altura, tinha um radiotransmissor e falava numa língua estranha, duas ou três vezes por semana, sempre as noites.
Osvaldão morou por certo tempo na antiga Tchecoslováquia.
Sabe-se que a Rádio Tirana, albanesa, era a mais ouvida por aqueles sertões o que enlouquecia os militares estreludos da Casa Azul, em Marabá.
Nunca se soube ao certo como as notícias do Araguaia chegavam ao país balcânico e de lá eram retransmitidas ao Brasil.
A narrativa de Jonas vai ampliando nossos conhecimentos sobre como operavam as Forças Guerrilheiras do Araguaia e o único apoio externo, estrangeiro, era através das ondas do rádio da distante e montanhosa Albânia.