FMI teme efeitos depressivos da “escassez crescente” de petróleo
O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que os governos devem se preparar para uma "escassez crescente" de petróleo nos mercados globais e para picos agudos de preços nos próximos anos.
Publicado 07/04/2011 16:32
Para o FMI, embora o efeito da escassez de petróleo possa ser apenas um "freio menor" para a expansão da economia global no médio e no longo prazo, "esses efeitos benignos no crescimento global não devem ser tomados como premissa, desde que a escassez, ou seus efeitos para o crescimento, poderão ser mais significativos".
Em um capítulo de seu relatório "Perspectiva da Economia Mundial", divulgado nesta quinta-feira, o FMI diz que "na prática, será difícil fazer uma distinção clara entre mudanças inesperadas na escassez de petróleo e choques mais tradicionais e temporários, especialmente no curto prazo, quando muitos dos efeitos na economia global serão similares".
Mudanças inesperadas
"Seria prematuro concluir que a escassez de petróleo será inevitavelmente uma limitação forte para o crescimento mundial", diz um capítulo do relatório World Economic Outlook ("Perspectiva da Economia Mundial", em tradução livre), antecipado pelo Fundo. Mas tal cenário, segundo a instituição, não deve ser descartado.
O relatório completo será divulgado na próxima semana, antes da reunião de primavera do FMI, na qual a alta dos preços das commodities deverá ser discutida. No capítulo revelado hoje, o Fundo exorta os governos a assegurarem que suas economias estejam preparadas para lidar com mudanças inesperadas na oferta e nos preços do petróleo – por exemplo, reduzindo os subsídios aos preços dos combustíveis, de modo a proteger a posição fiscal dos governos, mas também fortalecendo as "redes de segurança" para os mais pobres – e a encorajarem políticas que promovam fontes alternativas de energia.
Forte demanda
O crescimento forte da demanda por petróleo nos países emergentes, combinado com as preocupações quanto a possíveis interrupções na oferta do petróleo produzido no Oriente Médio, levou os preços a subirem mais de 25% no ano passado. "Existem riscos para a oferta, entre outros, de origem geopolítica, que implicam que a escassez de petróleo poderia ser mais grave e manifestar-se em variações fortes e abruptas", diz o documento. Caso isso ocorra, "os efeitos no crescimento seriam proporcionalmente maiores", dependendo de seu impacto na produtividade.
Endossando a opinião de muitos analistas, para quem a produção global de petróleo vai atingir seu pico em breve, se é que já não começou a declinar, o relatório do FMI reconhece que a maturação de muitos campos de petróleo vai limitar a capacidade de alguns países produtores de elevar sua capacidade de produção.
Para o FMI, uma volta ao crescimento anual de 1,8% na produção global de petróleo, visto entre 1981 e 2005, "parece improvável". "As possibilidades variam entre uma redução maior na tendência de crescimento da oferta e uma redução propriamente dita na produção de petróleo, temporária ou mais permanente", diz o relatório.
Desequilíbrios
As projeções do FMI são de que uma desaceleração de 1 ponto percentual no crescimento da oferta global de petróleo, para 0,8% ao ano, reduziria o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) global em menos de 0,25% no médio e no longo prazo. Ainda assim, a transferência de riqueza dos países importadores para os exportadores faria crescerem os fluxos de capital e ampliaria os desequilíbrios de conta-corrente que já existem.
Os economistas do Fundo advertem, porém, para o potencial de "mudanças grandes e abruptas", tendo em vista os riscos geopolíticos associados ao mercado de petróleo. "Efeitos adversos poderão ser muito maiores, dependendo da extensão e da evolução da escassez de petróleo e da capacidade da economia mundial para lidar com uma escassez maior", diz o relatório. As informações são da Dow Jones.
Estados Unidos
Em outro capítulo do relatório sobre a economia global divulgado nesta quinta-feira, o FMI alerta que o "endurecimento" da política monetária americana representa um "efeito negativo adicional" em termos de fluxos de capital para economias com exposição financeira direta aos Estados Unidos.
"E esse efeito é proporcional à magnitude da exposição", diz o documento. "É mais forte quando a alta da taxa de juros dos Estados Unidos é imprevista e as condições mundiais de financiamento são favoráveis."
A exposição financeira direta aos Estados Unidos é medida segundo a proporção de ativos e passivos americanos dentro do total de ativos e passivos externos de determinada economia. De acordo com o FMI, o efeito negativo adicional é menor em economias emergentes que têm mercados financeiros domésticos relativamente profundos e crescimento vigoroso.
Excesso de investimentos
Desde o ano passado, muitas economias emergentes, entre elas a do Brasil, enfrentam problemas devido ao fluxo excessivo de capital estrangeiro. Segundo o FMI, os fluxos de capital para mercados emergentes se recuperaram em um prazo "surpreendentemente" curto depois da crise mundial, a partir de 2009, não tanto pelo seu nível, mas principalmente pelo ritmo.
No caso do Brasil, o governo já adotou várias medidas para tentar conter esse fluxo excessivo, que acaba valorizando o real frente ao dólar e prejudicando o desempenho das exportações brasileiras.
No entanto, em outro documento divulgado nesta semana, o FMI afirmou que as medidas adotadas pelo governo brasileiro para conter os fluxos de capitais, como as relacionadas ao IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), não tiveram efeito de longo prazo sobre a taxa de câmbio, e que o real está "sobrevalorizado".
Controle de capitais
O controle de capitais deverá ser um dos principais temas discutido na próxima semana pelos ministros da Fazenda e presidentes de Bancos Centrais dos países do G20 (grupo das principais economias avançadas e em desenvolvimento, do qual o Brasil faz parte) que estarão em Washington durante a reunião de primavera do FMI e do Banco Mundial.
O documento divulgado nesta quinta-feira afirma que os fluxos de capital para as economias emergentes parecem mover-se de acordo com as condições globais de financiamento. "Aumentam drasticamente quando essas condições são favoráveis – ou seja, quando as taxas de juros e a aversão ao risco são baixas em nível mundial – e depois caem", diz o texto.
O FMI também associou os investimentos ao desenvolvimento desigual das nações ao afirmar que os fluxos são temporariamente mais elevados nas economias emergentes quando seu crescimento é mais vigoroso do que o das economias avançadas. O Brasil e vários países emergentes registraram forte desempenho econômico logo após a crise, em contraste com o ritmo lento de recuperação nas economias avançadas.
Segundo o FMI, "a variabilidade dos fluxos de capital" provavelmente seguirá sendo "inevitável" tanto para economias emergentes quanto para avançadas. Com isso, diz o Fundo, as autoridades devem adotar medidas para evitar riscos ao crescimento econômico e à estabilidade financeira.
Com agências