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Jandira Feghali: que o maestro Minczuk pegue as batutas e o boné

A crise na OSB (Orquestra Sinfônica Brasileira) chama atenção pela importância e o peso da música no Brasil e no mundo. No entanto, as músicas numa orquestra dependem da harmonia dos músicos, respeito de quem os dirige, valorização profissional e salarial, sensibilidade.

Por Jandira Feghali*

A OSB foi formada por músicos, e não por um administrador de empresas. Os músicos que são contratados pela Fundação OSB passaram por um processo seletivo quando chegaram — e a avaliação, como em qualquer lugar do mundo, é feita no cotidiano do exercício do seu funcionamento.

Ao maestro cabe "tirar o melhor som", como um líder que pensa em como estimular, qualificar e criar espírito de equipe. Não pode ser o algoz, o que pune, o que humilha, o que desrespeita.

Há músicos na OSB encantando a sociedade há 30 anos. Será que só agora o competente maestro percebeu alguma insuficiência? Se algum dos profissionais não corresponde, trate o caso isoladamente. O que está por trás de uma avaliação generalizada?

Assumi recentemente a presidência da Frente Parlamentar Mista de Cultura do Congresso. Numa audiência com o presidente da Comissão de Cultura da Alerj, deputado Robson Leite, acertamos de requerer oficialmente: o estatuto da Fundação OSB; convênios com prefeitura, BNDES, Vale do Rio Doce e outros; contrapartidas para a sociedade nos convênios, principalmente com o poder público (e se estas são cumpridas); condições salariais e de direitos dos músicos e funcionários; remuneração do maestro.

Aqui faço um parêntesis: quando fui secretária de Cultura da cidade, tentei saber da remuneração do maestro e nunca consegui. É feita sob sigilo? Cabe lembrar que esse maestro também é funcionário público, como regente da orquestra do Teatro Municipal.

Por fim, expresso aqui minha solidariedade aos músicos que se rebelaram. Aplaudi a atitude da Orquestra Jovem, que não quis substituir os professores demitidos; do regente Roberto Tibiriça; dos músicos Nelson Freire e Cristina Ortiz; dos bailarinos Ana Botafogo e Alex Loreal — que não se submeteram a uma hierarquia questionada neste momento.

A arte e cultura brasileiras pedem passagem, a sociedade quer fortalecê-la. Ao maestro Minczuk, sugiro pegar as batutas e o boné. Não pode mais exercer a liderança que perdeu.

* Jandira Feghali é música, deputada federal (PCdoB-RJ) e presidente da Frente Parlamentar Mista de Cultura do Congresso. Foi secretária de Cultura do Rio de Janeiro (2009-2010)