Capistrano: Uma visita sentimental (Cuba, 2011)
Depois de 22 anos estou me preparando para retornar à famosa Ilha Caribenha, Cuba, a terra de Fidel. Ele, um intelectual, escreve regulamente suas reflexões sobre as coisas do mundo. Figura emblemática da resistência dos povos ao poderio militar da maior potência imperialista dos dias atuais, os Estados Unidos da América do Norte.
Publicado 11/04/2011 12:11 | Editado 04/03/2020 17:07

Cuba fascinou a minha geração, apesar de uma violenta campanha contra o governo dos barbudos, campanha capitaneada pela CIA e divulgada pelas agências noticiosas norte-americana. Mesmo assim, até hoje, os jovens revolucionários continuam no imaginário das novas gerações. Che continua a ser a grande referência da rebeldia e Fidel continua sendo o símbolo de resistência ao domínio imperialista.
Lembro de Jean-Paul Sartre e, de seu livro, Furacão Sobre Cuba, primeiro livro escrito por um intelectual de renome internacional sobre a Revolução Cubana, na época (1960), campeão de vendas. Lembro, também, da visita feita por Sartre e Simone de Beauvoir ao Brasil, casal de intelectuais que empolgou a minha geração. Sartre e Simone, militantes de esquerda, panfletavam pelo mundo afora palavras de ordem em defesa das liberdades democráticas, contra o colonialismo. Aqui no Brasil, Sartre, participou, com as diversas tendências de esquerda de palestras, conferências, entrevistas e debates, em todas existia um ponto de convergência, a importância da Revolução Cubana para o terceiro mundo.
Cuba ficou no meu imaginário ideológico como a grande referência do que eu desejava para os povos de todo o mundo. Ficou, também, o desejo de um dia ir conhecer aquela atrevida ilha caribenha que desafiava o senhor dos Exércitos, “dono” do mundo.
A minha primeira viagem a Cuba (1988) foi à realização de um sonho. Conhecer Cuba e ver de perto as realizações da Revolução Cubana foi à concretização do desejo de um jovem de esquerda que acompanhou a luta do povo cubano, a entrada triunfal dos jovens revolucionários em Havana, fato ocorrido em janeiro de 1959, e que participou, aqui no Estado, da solidariedade ao povo cubano contra a invasão da Baia dos Porcos, pichando frases nos muros da cidade contra a invasão. Jovem que escutava a Rádio Havana acompanhando os acontecimentos, ouvindo o outro lado da informação.
Quando Reitor da nossa Universidade (UERN), em um almoço na embaixada da União Soviética, em Brasília (1987), nas comemorações dos 70 anos da Revolução Soviética, fui convidado e aceitei visitar a ilha de Fidel.
Viajei em dezembro de 1988, véspera dos 30 anos da Revolução. Foi uma das viagens mais agradáveis que já fiz. Cuba, país pobre, sem grandes recursos naturais, mas sem miséria, sem fome, sem crianças abandonadas. País que oferece a todos o mesmo ponto de partida, essência do socialismo, da democracia.
Voltei de Cuba convicto de que estava ali o modelo de governo que interessava aos trabalhadores de todo mundo. A situação só não era melhor diante da permanente ameaça de invasão e de desestabilização patrocinada pelos Estados Unidos, seu poderoso vizinho, além de um bloqueio econômico criminoso.
Na visita que fiz a Cuba, em nome da Uern, assinei convênio com a Universidade de Havana. Universidade fundada em 1729, uma das mais antigas da América Latina, na época oferecendo cursos de pós-graduação a professores de diversos países. Fui, também, a Santa Clara, província a 250 quilômetros de Havana, outro grande centro universitário do país, onde fica o centro de formação de médicos da família, exemplo de saúde preventiva, modelo presente em diversos países do mundo.
Conheci de perto o sistema de saúde e educacional cubano, conversei com pessoas nas ruas de Havana e de outras cidades. Procurei me informar sobre os problemas do país, senti o carisma de Fidel, a admiração que a maioria do povo cubano tem por ele. Naquele período estava se iniciando um momento de muitas dificuldades com o fim dos regimes socialistas do leste europeu. Era o inicio da mais difícil década da Revolução Cubana, a década de 1990, foi uma prova de fogo do regime.
Outro momento de incerteza foi à doença de Fidel e a sua substituição no comando do País. Cuba ultrapassou com galhardia esses momentos críticos. Travessia positiva, resultado da consciência política do seu povo. Hoje, apesar da persistência do nefasto bloqueio econômico, que perdura há quase 50 anos, o país vive um bom momento, ainda com dificuldades, mas superando todas com altivez.
Portando, vou ver de perto a situação, hoje, do país e, mais uma vez, levar a minha solidariedade ao povo cubano. Comigo vai o meu caderno de anotações, quando retornar, registrarei, aqui, as minhas impressões.