Rodrigo Vianna: FHC quer o subtucanismo sem povo!
Em algum momento, lá pelo fim do segundo mandato de Lula, quando o presidente operário bateu em níveis inacreditáveis de popularidade, FHC foi tomado pelo pânico. Escreveu, então, um artigo (acho que no Estadão) qualificando o lulismo de “subperonismo”.
por Rodrigo Vianna em seu blog O Escrevinhador
Publicado 12/04/2011 14:23
Quem conhece a Argentina e o Brasil sabe que no país vizinho Perón é uma presença ainda hoje dominante na política. Curioso: os argentinos desmontaram o Estado criado por Perón (e o autor do desmonte foi, esse sim, um subperonista – Carlos Menem, homem de costeletas largas e pensamentos curtos), mas o peronismo persiste como referência quase mítica no discurso político.
Nós, brasileiros, somos mais pragmáticos. Aqui, Vargas praticamente sumiu do imaginário popular. Mas sobrevive no Estado brasileiro – que FHC tentou desmontar. Vocês se lembram? Em 94, pouco antes de assumir a presidência, o tucano disse que uma das tarefas no Brasil era “enterrar a era Vargas”. Não conseguiu. Vargas sobrevive no BNDES, na Previdência Social, no salário-mínimo, na Petrobras, nos sindicatos. O Brasil moderno foi construído sobre os alicerces deixados por Vargas. FHC gostaria de tê-los dinamitado.
Agora, o ex-presidente tucano reaparece. Não para tentar desqualificar o lulismo. Mas para lançar um alerta. Ele teme que as “oposições” se percam ”no burburinho [êpa, cuidado Stanley!!!] das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo”… E pede que os tucanos deixem pra lá essa história de falar com o povão, e concentrem-se nas classes médias.
Literalmente, em artigo que acaba de ser publicado, o ex-presidente afirma:
Em algum momento, quando ainda estava no poder, ele havia dito: “esqueçam o que escrevi”. Agora, escreve: “esqueçam o povão”.
Mas o subtucanismo de FHC não deve ser desprezado. Ele parte de uma constatação real, concreta. A de que a oposição (que se refugiou no discurso moralista da classe média) pode perder também esse quinhão. O ex-presidente e ex-sociólogo afirma que a tarefa da oposição é de uma “complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias.”
Aqui nesse blog, ainda nas primeiras semanas de governo Dilma, escrevi um pequeno texto, intitulado “PT rumo ao centro e oposição na UTI”. Duvido que FHC tenha se rebaixado, e lido o subjornalismo que aqui praticamos. Mas, curiosamente, era mais ou menos isso que eu afirmava naquele post:
O PT e o lulismo cometerão um erro grave se subestimarem a capacidade de aglutinação dessa nova oposição – que reconhece seus erros e agora parece redirecionar as baterias. FHC parece ser o ideólogo da operação, Aécio o operador congressual. A velha mídia já está em campo (e a capa da Época foi apenas um ensaio do que pode vir pela frente).
A classe média vai escutá-los? Ou será enredada pelo arranjo do lulismo, com Dilma a caminho do centro?
Os próximos meses vão revelar se o subtucanismo de FHC é uma operação desesperada, ou uma estratégia inteligente e duradoura.