Com movimentação de Kassab, PCdoB vê novas perspectivas para SP

Nesta segunda-feira, 25, o comunista Gilmar Tadeu tomou posse na Secretaria Especial da Copa da Prefeitura de São Paulo. O fato reflete uma mudança no cenário político paulista, ocorrida após a aproximação de Gilberto Kassab com a base de apoio do governo Dilma Rousseff, e indica novas possibilidades para a cidade e para o estado. Segundo o presidente do PCdoB na capital, Wander Geraldo, a movimentação do prefeito abre “espaços políticos diferentes dos predominantes nessas últimas duas décadas”.

Wander Geraldo - R30 - Ricardo dos Reis

Nesta entrevista, concedida ao Vermelho-SP, Wander Geraldo fala sobre a nova pasta e sobre a decisão do partido de assumi-la após convite feito por Kassab. De acordo com o dirigente, ao compor o governo municipal, “procuraremos fortalecer a gestão da qual participaremos”, sem que isso signifique perda de “independência programática” e dos “compromissos que o partido tem com a população”.

 
Vermelho-SP: Gilmar Tadeu, do PCdoB, acaba de ser anunciado para ocupar a Secretaria Especial da Copa de 2014 na Prefeitura de São Paulo. Quais serão os eixos políticos prioritários da atuação do partido nessa pasta?
Wander Geraldo: Fazer com que a Copa de 2014 seja um sucesso também em São Paulo. A secretaria tem o papel de articular todas as ações para a realização dos jogos e eventos relativos à Copa de 2014 entre os órgãos públicos municipais, entre as esferas nacional e estadual de governos e entre os setores privados e sociais da cidade de São Paulo. Dentro disso, a nossa participação buscará fortalecer e potencializar o desenvolvimento econômico e social que a realização da Copa traz; fazer com que as obras e investimentos se transformem em um legado positivo para a cidade; melhorar a infraestrutura, com destaque para o transporte e a mobilidade urbana; buscar também a ampliação e geração de empregos diretos e indiretos que o evento passa a gerar desde já.

Além disso, a secretaria visa articular e envolver todos os setores da sociedade paulistana na construção do evento para que a cidade realize diversas atividades e ações que dinamizem sua economia; levar esporte, cultura e lazer aos turistas que aqui estarão para assistir aos jogos e também para toda a população paulistana, em especial o setor mais carente e a juventude. Gilmar Tadeu, pela sua trajetória e experiência, tem todas as condições e apoio da direção municipal para cumprir essa relevante tarefa. Contribuiremos também para que ele tenha sucesso à frente desse desafio.

Vermelho-SP: Quais motivos fizeram com que o PCdoB aceitasse o convite para participar do governo de Gilberto Kassab?
WG: Foram vários os fatores que levaram o partido a tomar essa decisão. O primeiro foi o fato de o prefeito Kassab e um conjunto de lideranças políticas resolverem buscar um realinhamento político com o governo federal e com o projeto político que Dilma Rousseff representa. Isso enfraquece a oposição, fortalece a coalizão da base de apoio e poderá resultar em melhores condições políticas para administrar São Paulo.

O segundo ponto é que existe aqui, no estado de São Paulo, uma situação de polarização política empobrecedora. E os únicos que ganham com isso há 16 anos são os tucanos. Essa movimentação política que o prefeito Kassab faz abre novas articulações e espaços políticos diferentes dos predominantes nessas últimas duas décadas.

Em terceiro lugar, o PCdoB ampliou o diálogo com a administração municipal a partir de uma relação democrática que já existia entre o Executivo e a Câmara, incluindo neste contexto a nossa bancada de vereadores. Em novembro, participamos com grande protagonismo da chapa que elegeu a atual mesa diretora da Câmara com o vereador Netinho de Paula, que passou a ser o Primeiro Secretário do parlamento paulistano. Portanto, nós consideramos, em primeiro lugar, os aspectos políticos nacionais e estaduais.

Pesou também na decisão o fato de o convite ser para uma secretaria em que podemos realmente contribuir. Nosso partido, na figura do ministro Orlando Silva, lidera o Ministério do Esporte, que conquistou dois eventos de grande importância para a agenda política e para o desenvolvimento e de grande mobilização social: a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016.

Por estarmos à frente desse processo em nível nacional e por ser importante participarmos dessa construção nos estados e municípios que sediarão jogos da Copa, o convite foi bem visto. No caso de São Paulo, a maior cidade do Brasil, além de sediar o jogo de abertura, um ano antes receberá também o Congresso da Fifa e estamos lutando para que o Centro de Mídia da Copa seja aqui.

Vermelho-SP:
PCdoB e Kassab estiveram em campos opostos. Essa aproximação não é curiosa?
WG: O prefeito Gilberto Kassab esteve em lado oposto ao nosso nas eleições 2010, mas faz questão de declarar que teve boa relação com o governo Lula e que vai procurar aprofundar essa relação com o governo da presidenta Dilma. Kassab e as lideranças que estão fundando o PSD saíram dos partidos de oposição por considerarem que “a camisa de força da oposição” não condiz com os avanços que o país teve desde 2003.
Além disso, a movimentação política aqui em São Paulo aproximou do prefeito Kassab vários partidos da base de apoio ao governo Dilma que já estão participando do governo municipal, como o PMDB do vice-presidente Michel Temer, o PR, o PSB e o PDT. O PCdoB participará deste leque de alianças em âmbito municipal e junto com esses setores buscará contribuir para que a cidade de São Paulo se insira cada vez mais num projeto nacional de desenvolvimento que é o principal desafio de Dilma. Nosso partido continuará a criticar os limites da administração e apresentará propostas concretas para sua resolução. Muitos programas e iniciativas políticas federais poderão ser desenvolvidos em São Paulo, buscando assim beneficiar o crescimento econômico, o aumento de empregos e a melhoria na qualidade de vida dos paulistanos. O desafio é fazer com que São Paulo vá pelo mesmo rumo que o Brasil tem seguindo desde o primeiro governo Lula.

Vermelho-SP:
Como foi, até aqui, a relação do partido e de sua bancada de vereadores com o prefeito e seu governo?
WG: Fomos oposição ao governo municipal pelo contexto político em que ele estava inserido, o de ser um governo do DEM em oposição ao governo Lula. No que diz respeito aos projetos em si, fizemos uma oposição consequente, sempre dialogando. Sempre houve uma relação democrática entre o a direção do PCdoB, sua bancada e o prefeito. Ao compor o governo municipal, procuraremos fortalecer a gestão da qual participaremos. O PCdoB terá o papel de buscar incluir suas opiniões e os anseios da população. A participação em qualquer instância de governo (federal, estadual ou municipal) não pode tirar a independência programática e os compromissos que o partido tem com a população.

Vermelho-SP: Na sua avaliação, o que essa mudança no cenário político municipal irá influenciar na cidade de São Paulo?
WG: Vai se abrindo um novo cenário político, permitindo que mais forças políticas e setores organizados apresentem suas ideias e projetos para a cidade, para que, em consonância com o projeto nacional, possamos alavancar ainda mais a economia da cidade, oferecer mais condições de vida, emprego e salários à população paulistana. Inserir a cidade de São Paulo, com seus mais de 11 milhões de habitantes, na agenda política do desenvolvimento nacional é importante.

Junto aos setores democráticos e progressistas que atuam aqui buscaremos, através de nossa participação, dar essa contribuição e apresentar nossos projetos políticos e nossas ideias para que a população, na batalha eleitoral de 2012, reconheça cada vez mais no PCdoB como uma opção política.

Vermelho-SP: Falando em eleição, qual a relação desse apoio do PCdoB com o seu projeto eleitoral em 2012?
WG: O PCdoB terá o vereador Netinho de Paula como candidato a prefeito. Esta decisão foi informada ao prefeito Kassab desde o início. Avaliamos que nossa participação no governo municipal contribuirá, pois teremos mais espaço político para apresentar nossas propostas e buscar um leque maior de setores sociais e políticos em apoio à nossa candidatura majoritária e a chapa própria de vereadores que estamos construindo. Buscaremos, nesse conjunto de partidos que participam conosco na mesa diretora e da articulação em torno do governo municipal, dialogar para construirmos alguns pontos em comum e quem sabe uma aliança política para 2012 em torno de nossa pré-candidatura.

De São Paulo, Priscila Lobregatte