Lungaretti: Os arapongas do patrulhamento cricri
Depois de escorraçados pelos cultos, libertários e (consequentemente) antípodas da censura no final de 2010, os patrulheiros cricris contra-atacaram da forma mais sórdida possível, desencavando cartas em que Monteiro Lobato expressou conceitos racistas.
Por Celso Lungaretti, em Náufrago da Utopia
Publicado 27/04/2011 14:01
Ora, em nenhum momento estiveram em questão as opiniões que o grande escritor, o grande defensor dos interesses nacionais e o grande adversário da ditadura getulista remoía na intimidade.
Além de inquisidores, os patrulheiros cricris são bisbilhoteiros, comportando-se como repulsivos arapongas.
Igualmente, a grandeza da obra de Jorge Luis Borges não foi destruída pelo seu apoio a uma ditadura argentina — embora isso nos tenha levado a perder o respeito por ele como homem.
No caso de Lobato, a coisa fede: ele nunca fez proselitismo contra os negros, mas, pelo contrário, compôs sua inesquecível Tia Nastácia como uma personagem extremamente humana, simpática, generosa e sábia em sua ingenuidade de mulher simples do povo.
O fato é que os patrulheiros cricris fracassaram rotundamente ao tentarem imputar racismo a Lobato a partir das pirraças da Emília, pois qualquer leitor isento percebe que as frases desaforadas da boneca falante não são endossadas, mas sim implicitamente criticadas, como exemplo de mau comportamento, pelo escritor.
Isto é o que importa, e é só o que importa.
Se Lobato foi hipócrita e escondeu suas verdadeiras opiniões, por saber que desagradariam aos leitores e o deixariam malvisto nos círculos intelectualizados, é algo que o desmerece como homem. Mas, não há racismo nenhum em Caçadas de Pedrinho, nem em nenhuma obra de literatura infantil do nosso maior escritor do gênero em todos os tempos.
Ninguém aguenta mais o patrulhamento e a má fé dos macartistas de esquerda, que pensam ser tão diferentes, mas são tão iguais aos McCarthys e Nixons — salvo por nunca haverem tido poder suficiente para mandar seus perseguidos para a cadeia ou condená-los ao ostracismo.
E, em termos mais amplos, tudo o que eu tinha a dizer sobre o episódio em si, antes de os patrulheiros cricris descerem ao nível do esgoto, eu já dissera no meu artigo O Waterloo do patrulhamento cricri, de 09/11/2010 — que colocou a discussão num nível inalcaçável para esses aprendizes de Torquemada.