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Socorro Gomes: Os 5 cubanos são símbolos da luta antiimperialista

Começou nesta sexta-feira (29) em Havana, Cuba, a reunião do Comitê Executivo do Conselho Mundial da Paz (CMP). A presidente do CMP, Socorro Gomes, fez o pronunciamento central da reunião, analisando o recrudescimento das políticas agressivas do imperialismo e apresentando as linhas gerais e principais campanhas do movimento pela paz.

Leia a íntegra do pronunciamento de Socorro Gomes

"Queridos camaradas e amigos,

Permitam-me em primeiro lugar saudar os anfitriões desta nossa Reunião do Comitê Executivo – o Movimento pela Paz (Movpaz) de Cuba -, agradecer a hospitalidade com que nos recebem na Ilha, desejar bom trabalho e boa estada a todos os que vieram de várias partes do mundo e expressar a minha convicção de que este encontro da instância diretiva do Conselho Mundial da Paz será coroado de pleno êxito.

A realização desta reunião em Cuba é carregada de significados. Primeiramente, expressa a força dos compromissos deste território livre das Américas com a luta pela paz mundial e a solidariedade internacionalista aos povos agredidos pelas potências imperialistas, algo que está profundamente enraizado em seu caráter de povo livre. Pátria é humanidade, dizia o grande patriota e revolucionário, apóstolo da independência cubana, José Martí.

Em segundo lugar, porque nos oferece a oportunidade para expressar os nossos melhores sentimentos para com o povo cubano e sua liderança, num momento em que o País vive uma nova etapa em seu desenvolvimento político e sócio-econômico, após as históricas decisões tomadas no Congresso realizado entre 16 e 19 de abril.

O Conselho Mundial da Paz regozija-se com os êxitos do povo cubano e se soma à sua luta contra o criminoso bloqueio imposto pelo imperialismo estadunidense.

Igualmente, expressamos nossa indeclinável solidariedade com a luta pela libertação dos seus cinco heróis presos nos cárceres do Império. Felicitamos o povo cubano pela passagem do 50º aniversário do triunfo histórico em Playa Girón.

Antônio, González, Gerardo, Ramón e Renê são também herdeiros daquela gesta. E o heroismo dos combatentes que expulsaram os imperialistas e seus mercenários de Playa Girón há 50 anos é o mesmo elemento constitutivo do caráter e da ideologia dos Cinco patriotas, lutadores pela liberdade, antiterroristas pelo bem de seu povo e de toda a humanidade.

Coincidência com Fidel

A realização desta reunião da Executiva do CMP em Cuba tem também um significado político pela coincidência das posições que defende com as da nossa Organização. Foi desta Ilha revolucionária que partiu no ano passado, pela voz do líder de sua Revolução, o companheiro Fidel Castro, o brado de alerta sobre os perigos de uma guerra nuclear que acarretaria a ruína da humanidade.

Foi também o companheiro Fidel quem, nas Reflexões históricas de 22 de fevereiro e 3 e 4 de março do ano em curso, denunciou que o propósito da Otan era atacar a Líbia, o que acabou consumando-se semanas depois, a partir de uma Resolução do Conselho de Segurança da ONU instrumentalizada pelas potências imperialistas. Fidel também denunciou o caráter agressivo da Otan, quando esta realizava sua Cúpula em Lisboa e o Conselho Mundial da Paz, lado a lado com os companheiros e companheiras do Conselho Português pela Paz e a Cooperação, manifestávamo-nos nas ruas daquela capital europeia.

Novos conflitos

Que há de novo no mundo, quais as novas questões surgidas no panorama internacional que devem ser passadas em revista, agregadas às nossas análises já feitas por ocasião de nossas reuniões anteriores e sobre as quais devemos aprovar resoluções?

Simplesmente – e isto é algo que nos preocupa enormemente, pois se reveste de extrema gravidade – o que há de novo na conjuntura internacional é mais uma guerra de agressão das potências imperialistas contra um povo e país soberano e novas ameaças de guerra.

Há exatos 40 dias, sob o comando da Otan, a Líbia está sob sistemáticos bombardeios.

A guerra contra a Líbia ocorre na sequência da rebelião árabe. Primeiramente, os povos da Tunísia e do Egito derrubaram duas cruéis ditaduras apoiadas política, econômica e militarmente pelas potências imperialistas dos EUA e da União Europeia. Fizeram-no através de movimentos insurrecionais maciços, com tendência objetivamente revolucionária democrática e anti-imperialista.

Também na Líbia tiveram lugar manifestações populares legítimas, deixando patente que a democracia naquele país é questão urgente a resolver. Mas não virá pelos tanques, porta-aviões e bombardeiros dos EUA e da Otan. A luta democrática é indissociável da soberania nacional e da soberania popular. A agressão armada viola os princípios da Carta das Nações Unidas.

Nada justifica a intervenção armada dos Estados Unidos e da Otan na Líbia. A ONU autorizou o bloqueio aéreo por meio de um texto claramente instrumentalizado pelas potências imperialistas. Mas não deveria consentir sobre o que não há menção direta na resolução: os bombardeios, a invasão terrestre nem a matança de civis, sob pena de ser responsabilizada por mais uma carnificina. O sistema multilateral, ainda que precário, tem mecanismos que podem ser acionados para ajudar na estabilização da Líbia.

Mas se o multilateralismo é invocado para legitimar agressões, não passa de uma farsa, um multilateralismo de fachada, funcional aos interesses dos fortes contra os países mais débeis. O verdadeiro multilateralismo exige respeito pleno ao direito internacional, um novo ordenamento jurídico e político mundial, novos organismos multilaterias baseados no respeito à soberania nacional e à autodeterminação das nações e povos.

Porém, resoluções baseadas em pressões, chantagens, negociações secretas, nunca serão a expressão legítima de uma ordem internacional democrática praticando o multilateralismo, mas o resultado da instrumentalização dos organismos internacionais. Não pode haver ordem multipolar sem o decidido combate ao imperialismo.

A humanidade deve estar vigilante e solidária com os povos da Líbia, de todo o norte da África e do Oriente Médio, na luta pela democracia e em defesa de sua soberania. Os movimentos de solidariedade e os governos democráticos e progressistas não devem permitir que se repita a agonia de um país sob o tacão da Otan, como ocorreu há mais de uma década na ex-Iugoslávia e ainda ocorre com o Iraque e o Afeganistão.

“Novo Oriente Médio”

A nossa compreensão é a de que os ataques à Líbia fazem parte da estratégia imperial de construir o chamado “novo Oriente Médio”.

Não é de hoje que o imperialismo estadunidense introduziu na cena política a luta pela "reestruturação" e a "democratização" da região, das quais surgiria o "novo Oriente Médio". Ninguém menos do que George W. Bush transformou essa meta no mantra dos seus dois mandatos. Há dez anos o mais facínora de todos os mandatários do mundo moderno iniciou, pelos meios mais bárbaros, o combate pela "democratização do Oriente Médio", fazendo uma guerra de terra arrasada no Afeganistão.

Menos de dois anos depois, atacou o Iraque, de onde as tropas norte-americanas ainda não se retiraram. Massacraram o povo e cometeram magnicídio. Em 2006, quando o Líbano ardia em chamas, sob os bombardeios da aviação dos sionistas, bandidos financiados e armados pela Casa Branca e o Pentágono, a então secretária de Estado de Bush, Condoleezza Rice, disse que das cinzas nasceria o “novo” Oriente Médio.

Na época, os falcões de Washington não podiam imaginar que a onda de rebeliões poria em xeque as repúblicas ditatoriais e as monarquias retrógradas dos seus acólitos: Tunísia, Egito, Arábia Saudita, Barein, Jordânia, Marrocos, Iêmen et caterva. O objetivo eram os Estados inquinados como "bandidos" : Irã e Síria. Obama mantém essas mesmas orientações.

Agora, também na Síria estão em curso graves acontecimentos. Manifestações instrumentalizadas, choques violentos, mortes, uma combinação de ingredientes úteis para a fabricação de mais uma intervenção.

Quanto ao Irã, as potências imperialistas têm sempre seu dedo acusador apontado para esse país, ora acusado de ser fator de desestabilização do Oriente Médio, ora de violador das normas da não-proliferação nuclear.

As táticas políticas e militares atuais não se diferenciam na essência das que eram engendradas antes: sanções na ONU, embargos de diversos tipos, exclusão aérea. Os pretextos são os mesmos: deter a crise humanitária, fazer respeitar os direitos humanos, punir ditadores sanguinários. Os meios, os de sempre: propaganda maciça através dos veículos de comunicação, uníssonos quando se trata de demonizar um país que não se dobra ao imperialismo. A desfaçatez é tamanha, que o fazem encobrindo ou perdoando os crimes do império.

Sejam quais forem os argumentos e a cobertura jurídica e diplomática, a intervenção imperialista na Líbia é inaceitável.

No Oriente Médio, a grande questão pendente, de permanência histórica, sem cuja solução não haverá paz duradoura, é a questão palestina. Israel prossegue sua política opressiva de aniquilamento dos direitos do povo palestino, de expansão sobre seus territórios e de inviabilização da existência do Estado Palestino Livre e Independente. Nesse contexto, é mais do que justa a posição de proclamar o Estado palestino, direito já reconhecido em resoluções da ONU.

Disputa pela África

Além de se relacionar com os planos para o Oriente Médio, a agressão à Líbia tem a ver também com a disputa específica pelo controle da África, um continente violentamente atingido pelos efeitos do colonialismo. Está em curso poderosa ofensiva econômica, política e militar, com aspecto neocolonialista e de disputa interimperialista pelo controle estratégico da África e o saque das suas riquezas. É este o sentido da criação pelos estados Unidos do Comando Africano (Africom) e da competição naval pelo controle do Oceano Índico, a partir da costa oriental africana, já várias vezes denunciadas pelo CMP.

Enquanto o imperialismo estadunidense e seus aliados europeus da Otan empreendem uma nova guerra no Norte da África, não cessam as guerras de agressão no Iraque e no Afeganistão, aumentam os perigos de conflitos no Paquistão e recorrentemente surge o perigo de uma eclosão militar na Península Coreana.

Crise e militarismo

As ameaças que afetam a segurança da humanidade e a paz internacional estão relacionadas com a crise econômica e social que atinge o mundo, abalando desde os seus alicerces o sistema capitalista.

A evolução da economia mundial é marcada pela continuação e aprofundamento da crise; pela profunda e prolongada recessão nos principais países capitalistas; pelo parasitismo financeiro; pela transferência de dinheiro público para salvar a banca da falência; pelas crises da dívida e a imposição de políticas antipopulares e antinacionais, gerando opressão e profundas injustiças sociais.

Enquanto pratica agressões e intensifica as ameaças aos povos e nações soberanas, o imperialismo militariza mais e mais a vida no planeta. A maior expressão disso é a multiplicação das bases militares e o agigantamento da máquina de guerra das grandes potências, do que fazem parte as decisões tomadas em Lisboa, em novembro do ano passado, quando da realização da Cúpula da Otan. Naquela ocasião foi adotado um novo conceito estratégico, tornando esta aliança militar ainda mais agressiva.

Os povos em luta

Ao acentuar os perigos que a atual situação internacional comporta, destacamos também as potencialidades das lutas dos povos e nações, pela democracia, pela soberania nacional, pela emancipação social.

É uma luta ampla, extensa e profunda, que se desenvolve em todos os quadrantes da terra. Assume feições variadas em cada país e região. Todos os combates de caráter político e social convergem para um objetivo comum: a paz mundial, a independência nacional, a conquista de um mundo melhor, sem opressão nem exploração.

Isto é bem patente no combate dos trabalhadores contra a exploração capitalista, contra a ofensiva sobre seus direitos e conquistas e a tendência dos governos antipopulares de despejar sobre seus ombros os efeitos da crise econômica e financeira; nas lutas democrátias e patrióticas que têm alcançado assinalados êxitos na América Latina; na resistência dos povos sob ocupação no Iraque, Afeganistão, Palestina, Líbano, Saara Ocidental; na saga pela sobrevivência e pela libertação das peias do neocolonialismo dos povos africanos, asiáticos e latino-americanos, alguns dos quais são ainda colônias de velho tipo. Nosso otimismo histórico está relacionado também com os êxitos dos países e povos que se esforçam para construir uma nova sociedade.

É nesse quadro, companheiros e companheiras, que o Conselho Mundial da Paz desenvolve sua ação, ainda sob condições organizativas e materiais muito difíceis, mas com um saldo de importantes vitórias.

Esta reunião do Comitê Executivo é um encontro histórico para o Conselho Mundial da Paz. Temos muitos feitos para comemorar, mas, acima de tudo, podemos afirmar que vivemos um período de grande afirmação da luta pela Paz e da construção de uma Cultura de Paz e Solidariedade em todas as partes do mundo.

A atividade do CMP tem sido frutífera em várias frentes de luta, em particular nas atividades pelo desarmamento nuclear e pela retirada das bases militares dos Estados Unidos e da Organização do Tratado do Atlântico Norte, a Otan, de territórios espalhados pelos cinco continentes.

Também foi firme a atitude do CMP contra novas agressões a países desencadeadas em várias partes do mundo, em especial no caso da guerra de pilhagem na Líbia. E apoiou a luta de povos do Norte da África e Oriente Médio contra regimes autoritários ali mantidos pelo imperialismo.

Companheiros e companheiras, este conjunto de realizações é um rico patrimônio que nos dá a certeza de que temos todas as condições para avançar na construção de um movimento amplo e uma Organização sólida que contribua para aglutinar os povos do mundo na luta pela paz."