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Em SP, Força Sindical debate sindicalismo nos últimos 20 anos

“Arma-se um novo ataque para o movimento sindical”, alertou o economista Sérgio Mendonça, ex-diretor e técnico do Dieese, na abertura do Ciclo de Debates, realizado pela Força Sindical, em comemoração aos 20 anos da Central.

“A elite já festeja desde 1500, enquanto os trabalhadores estão chegando na festa agora, com salários melhores, emprego aumentando, mas inflação também. O desafio do movimento sindical agora será vencer este argumento que salário causa inflação e, portanto, os reajustes salariais deveriam ser menores”, declarou.

Mendonça participou do debate sobre o tema “Trajetória do sindicalismo no Brasil nos últimos 20 anos: Resgate e Preservação da Memória”, ao lado do professor do Programa de Pós-graduação de Sociologia da Universidade de São Paulo (USP), Iram Jácome Rodrigues; do consultor para assuntos sindicais João Guilherme Vargas Neto; do jornalista Altamiro Borges e do mediador do encontro Milton Cavalo, secretário de Cultura e Memória Sindical da Força Sindical.

João Carlos Gonçalves, Juruna, secretário-geral da Força Sindical, explicou que a idéia do Ciclo de Debates é fazer uma reflexão sobre as ações passadas e apontar sugestões para o caminho da Força Sindical e do movimento sindical.

Milton Cavalo observou que há 20 anos, a Central não tinha o amadurecimento que tem hoje, não tinha uma proposta construída como atualmente que pode discutir separadamente as questões das mulheres, negros e juventude. “Vamos debater acertos e erros para saber se estamos no caminho certo”.

História

Os debatedores fizeram uma análise dos últimos 20 anos dividindo-os em duas etapas: os anos 90, classificados de “década do desemprego” pelo professor Iram Jácome Rodrigues; “década de desemprego e resistência” por Sérgio Mendonça, “período das vacas magras” por João Guilherme e “década maldita” por Altamiro Borges.

Na década de 1990 – período da criação da Força Sindical – o movimento sindical viveu na defensiva, disse o professor Iram. Sérgio Mendonça lembrou que naquela época, os temas dominantes eram reposição salarial, dívida externa e o trabalho esteve no centro do debate, mas um fato importante foi a consolidação dos trabalhadores em organismos como FAT, Codefat e Conselho do FGTS. Para Sergio Mendonça, foi um período de consolidação da democracia, com avanços institucionais importantes, mas com a economia mal”.

“Foi um período de regressão”, observou Altamiro Borges. “Estourou o desemprego e os trabalhadores ficaram acuados, alguns sindicatos tiveram que reduzir direitos, houve a precarização nas contratações e foi instituído o banco de horas”, afirmou.

Altamiro Borges lembrou ainda que a adoção de novas tecnologias provocou demissões. E as novas técnicas gerenciais transformando em polivalentes os trabalhadores que antes exerciam apenas uma função foram difíceis (e ainda são) de enfrentar. Houve ainda uma mudança política, ofensiva ideológica violentíssima do neoliberalismo.

Já a partir do ano 2000, “aumentou muito a participação do sindicalismo, apesar de não ter aprovada a reforma sindical” na opinião do professor Iram Jácome Rodrigues. “É preciso avançar mais para cada vez mais reduzir a desigualdade; organizar os trabalhadores nos locais de trabalho, atrair os jovens para o sindicalismo, olhar mais para a questão da mulher e as relações raciais. “O sindicalismo pode desempenhar um papel de escola para a cidadania de luta por direitos. Os sindicatos têm que se abrir cada vez mais e lutar pelo desenvolvimento com inclusão social. É preciso politizar a questão”, disse.

Já Sergio Mendonça destacou a unidade das centrais e considerou que o movimento sindical é uma força organizada capaz de impulsionar o debate do crescimento econômico, inclusive pensar um projeto nesse sentido construindo uma visão estratégica olhando a formação profissional, produtividade, educação, informalidade de 50% dos trabalhadores e distribuição de renda.

Altamiro Borges também destacou a unidade das centrais sindicais, que “estão sabendo aproveitar as oportunidades negociando a política do salário mínimo e programas sociais”. Para ele, “dá para avançar “.

Segundo João Guilherme, na virada deste século “a economia avançou e a política ficou favorável aos trabalhadores. A luta de classes aparece com muita clareza no empenho para a votação da jornada de 40h semanal. Hoje as centrais estão unidas e são protagonistas. Ele sugeriu que a luta deve ser pelo crescimento econômico, aumento dos salários na renda nacional e programa democrático de cidadania.

Papel da Força Sindical

Depois de lembrar que esteve na fundação da Força Sindical, Sergio Mendonça observou que a Força Sindical nasceu depois da Constituição de 1988, com o pragmatismo, com a característica do sindicalismo de resultados “um menos de ideologia, mas capaz de dialogar sobre todos os temas”.

A pluralidade foi a síntese de várias lutas do passado. Na avaliação de Sergio Mendonça, a Força Sindical foi muito vitoriosa. Nasceu na pior década, mas sempre esteve aberta ao diálogo. Já Altamiro Borges elogiou a postura combativa da Central na luta pelo salário mínimo e contra os juros altos.

João Guilherme observou que nos primeiros anos da Central houve um esforço para a entidade participar do movimento neoliberal. “Mas a luta dos trabalhadores fez com que o caminho fosse outro e a Força Sindical teve êxito nesta trajetória”, afirmou.

Da redação