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DEM reassume sua verdadeira feição para tentar superar crise

Após perder um governador, 17 deputados federais, um vice-governador, o prefeito da principal capital do país e dois senadores, o DEM prepara uma guinada mais à direita para tentar fisgar o eleitorado conservador e estancar a sangria causada pela criação do PSD. A decisão explicita a falta de rumo de uma legenda que já foi PFL, PDS e Arena e, em 2007, havia mudado mais uma vez de nome com o objetivo de tentar um caminho pelo centro.

A perda de filiados levou a um momento de desespero em que, além de cogitar a fusão com o PSDB, o partido chegou a discutir uma espécie de "suicídio político". A proposta era fazer a fusão com um partido pequeno, o que liberaria os remanescentes de cumprir a súmula da fidelidade partidária e causaria uma "diáspora" pelas siglas já existentes.

"Não vamos cair no jogo do Planalto de ficar discutindo fusão", afirma o deputado Pauderney Avelino (AM). Numa reunião na semana passada, a cúpula da legenda desautorizou qualquer ideia desse tipo e decidiu fazer o caminho contrário ao adotado em 2007, quando trocou o nome de PFL para DEM, adotando um discurso mais ao centro.

Na época, a legenda procurou esconder seu perfil liberal e repetia desesperadamente que estava promovendo uma renovação. Mas, por trás da aparente mudança, estavam os mesmos caciques de sempre. A ideia proposta agora, então, parece ser apenas escancarar as verdadeiras feições direitistas da legenda.

"Existe um eleitorado liberal, de perfil conservador, que precisa de um partido que o represente. Temos de falar a essas pessoas, representá-las no Congresso, com clareza", disse à Folha o líder do DEM no Senado, Demóstenes Torres (GO), um dos mentores do novo discurso.

Numa tentativa de retomar a autoestima abalada com as baixas, os "demos" adotaram um mantra: seus 29 deputados seriam um "número expressivo", e a saída dos pessedistas teria sido um "expurgo".

"Vamos exorcizar o fantasma de Jorge Bornhausen", brada o líder na Câmara, ACM Neto (BA). Bornhausen se desligou do partido na semana passada.

ACM Neto adota um tom mais cauteloso em relação ao partido assumir sua verdadeira face liberal, como defende Demóstenes. "Não se trata de ser de direita ou de esquerda, até porque o mais direitista era o Bornhausen", alfineta.

O DEM adota o receituário-padrão para momentos de crise: fará uma pesquisa sobre a expectativa do eleitor, investirá numa "redefinição programática" e fala até em lançar candidato próprio à Presidência – embora seus líderes admitam a proximidade do projeto presidencial do tucano Aécio Neves.

No balão de ensaio do presidenciável do DEM o nome seria o do liberal Demóstenes.
Ele acha que o partido deve "abrir a porta" para todos que quiserem sair. "Temos de lançar candidato e ter plataforma própria", diz.

Com Folha de S.Paulo