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Inácio Arruda: “o povo quer soluções simples para os problemas”

O compromisso com a luta do povo cearense, em especial, com a cidade de Fortaleza colocou o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) entre as lideranças comunistas que deverão disputar no próximo ano prefeituras de grandes capitais brasileiras. Definido como uma das prioridades do PCdoB nas eleições municipais de 2012, Inácio define sua indicação como um grande desafio.
Por Mariana Viel

Para o senador, que já disputou duas vezes a Prefeitura de Fortaleza, a falta de planejamento é um dos maiores problemas que afeta a capital cearense e outras regiões do Nordeste. “A cidade tem que ter um planejamento, tem que dizer o que é que ela quer, quais são as suas propostas e projetos para a questão da mobilidade urbana e do transporte de massa. Ela precisa definir como irá contribuir com a segurança pública e diversas outras questões”.

Em entrevista ao Vermelho ele defendeu a adoção de soluções simples e claras para enfrentar os problemas de Fortaleza. “Não é preciso apresentar questões mirabolantes para o povo. Ele quer soluções simples para os problemas que vive no dia a dia”.

Vermelho: Como vê a definição de seu nome como uma das prioridades do PCdoB nas eleições de 2012?
Inácio Arruda: Como um grande desafio. Nosso partido é muito firme, mas sempre examina muito os passos que dará. E esse é um passo muito importante para o partido e para as lideranças que atuam de forma concreta em seus estados e cidades. A marca de minha trajetória é uma relação muito grande com a cidade de Fortaleza. Primeiro no movimento popular, que começou com a organização da juventude da periferia de Fortaleza, e depois no movimento comunitário. Logo em seguida comecei a disputar eleições para a Câmara Municipal, depois para a Assembleia Legislativa, a Câmara Federal, o Senado e também para a Prefeitura de Fortaleza.

Essa soma de participações no município e no estado levou o partido a colocar Fortaleza como uma prioridade nacional. Isso é muito importante e tem muito peso para nós porque aumenta nossa responsabilidade. Vamos disputar uma capital que hoje tem cerca de 2,5 milhões de habitantes e que ainda possui grandes problemas sociais. Apesar da grande população a renda ainda é muito baixa, o que é completamente desproporcional. Os desafios no município são enormes, embora tenhamos dado passos muito significativos na solução desses problemas — principalmente com as políticas nacionais.

Vermelho: O Nordeste, de forma geral, ganhou protagonismo desde o início do governo do ex-presidente Lula, e as políticas públicas de combate à miséria. Qual é a importância da integração dos governos municipais, estaduais e federal no desenvolvimento de Fortaleza?
IA: A grande fraqueza das capitais nordestinas tem sido ainda o problema da ausência de planejamento. Essa é uma herança que não afeta apenas os municípios, mas também é um problema dos estados. Em 2004 participamos das eleições, mas não chegamos ao segundo turno que foi disputado pela candidata do PT Luizianne de Oliveira Lins e pelo Moroni Torgan, da direita. Apresentamos para ela o nosso programa como sugestão. Entre as propostas estava o programa de macro-drenagem de Fortaleza e região metropolitana. Quando o Lula foi reeleito em 2006, ele pediu às capitais e aos governos dos estados que encaminhassem suas propostas para o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O governo federal tinha um conjunto de propostas, mas não podia ser um plano apenas dele. Na época, nem os estados nem os municípios tinham propostas.

Nossa proposta foi entregue ao governador Cid Gomes, que a encaminhou para o presidente Lula. Ele a bancou imediatamente nossa ideia porque corríamos o risco de ficar sem nenhuma grande obra na fase inicial do PAC. Essa proposta resultou em um investimento que hoje alcança R$ 700 milhões, compartilhados entre o estado e a União, com a própria participação da Prefeitura. Isso mostra que ainda estamos muito despreparados para o desenvolvimento. Vivemos uma fase de crescimento negativo — que envolvia a política de juros, de contenções e de grandes ajustes fiscais. Isso bateu em cheio nas grandes cidades que foram impactadas por esse período que o Brasil vivenciou nas décadas de 1980 e 1990. Quando o país retomou o desenvolvimento, teve um momento de prosperidade, não tínhamos planejamento.

Vermelho: Como essa fase de crescimento negativo se reflete atualmente em Fortaleza atualmente?
IA: Em 1997, o prefeito de Fortaleza, Juraci Magalhães, acabou com o instituto de planejamento que existia no município. Para que um instituto de planejamento se não temos investimentos e recursos? O Estatuto da Cidade diz justamente o contrário. A cidade tem que ter um planejamento, tem que dizer o que é que ela quer, quais são as suas propostas e projetos para a questão da mobilidade urbana e do transporte de massa. Ela precisa definir como irá contribuir com a segurança pública e diversas outras questões. Muitas cidades contribuem com a segurança através de uma boa iluminação pública, com ruas acessíveis à população, com espaços públicos adequados e bem cuidados.

Vermelho: Quais são as principais bandeiras de desenvolvimento que sua candidatura à Prefeitura de Fortaleza?
IA: Defendo sempre que devemos ter coisas claras e simples. Não é preciso apresentar questões mirabolantes para o povo. Ele quer soluções simples para os problemas que vive no dia a dia. Precisamos ter um programa de recuperação das áreas de risco e das bacias hidrográficas, que ainda recebem investimentos pequenos. Também é necessário atentar para a questão da regularização fundiária urbana. Desde a Constituição de 1988 os municípios receberam muitas responsabilidades. A questão da educação infantil e do ensino fundamental, por exemplo, passaram a ser obrigações do município.

Hoje a cidade de Fortaleza, no caso do estado do Ceará, amarga uma posição difícil na questão da formação de sua criançada. A qualidade da educação ofertada é talvez uma das mais baixas do estado, comparando município a município. É uma situação gravíssima na cidade mais importante do estado. Temos ainda a questão da saúde. Grandes hospitais foram municipalizados. Essa também é uma situação que podemos chamar de grave em Fortaleza. Ampliamos a assistência básica, começamos o Programa de Saúde da Família, mas ela não funciona adequadamente e pressionam muito o sistema secundário de alta complexidade da cidade. Temos apenas dois hospitais públicos — um municipal e um estadual — para receber praticamente a população da cidade inteira. A região metropolitana também impacta muito sobre Fortaleza. Basicamente metade da população do estado está na região metropolitana. Temos aqui um dilema. Não é uma solução fácil, mas que deve ser compartilhada entre o município, o estado e a União. Educação e saúde são o grande vetor de distribuição de renda. Se você atende bem a população na área da saúde e a educa bem você está, indiretamente, distribuindo riqueza.

Outro grande problema é o da geração de emprego, que depende da política econômica nacional. Mas o município deve ser o indutor desta questão, através da criação de oportunidades. Temos um crescimento quase que espontâneo por conta de uma riqueza característica do Brasil, que é o sol. O sol atrai pessoas de dentro e de fora do país o ano inteiro. Fortaleza tem se colocado como um grande destino turístico, mas a cidade não pode oferecer apenas o sol. Precisamos ter mais do que isso. Temos que oferecer mais na área cultural e na área do esporte. O próprio mar é uma área espetacular de esporte náutico.

Vermelho: Como está sendo formado o cenário político em Fortaleza para as eleições de 2012?
IA: Há um bom tempo temos tido um debate muito amplo e intenso sobre a cidade. Como Fortaleza é considerada uma cidade importante dentro do cenário político brasileiro, todos os partidos consideram que assumiram um grande compromisso com a prefeita Luizianne Lins e que agora é hora de todos entrarem na disputa. Então o PDT, o PT — que controla a Prefeitura —, o PSB — que é o partido do governador —, o PMDB, o PCdoB e mais uns seis partidos deverão ter candidatos em Fortaleza.

Mas quando começamos a definir os nomes que irão participar dessa disputa, também começaram as análises de possibilidades de alianças. Os partidos consideram que nossa candidatura tem viabilidade e sabem que uma aliança com o PCdoB resultará não só em participar do governo municipal, mas também de um projeto maior. Essa ideia favorece o PCdoB no sentido de buscar alianças. Hoje temos um grande diálogo com as lideranças do PMDB. Também temos dialogado com o governador Cid Gomes. Nós o apoiamos desde que ele foi candidato a Prefeitura de Sobral, que é a cidade dele, em 1996. Consideramos que nossa aliança foi muito importante para ele, para nós e para o estado do Ceará.

Compreendemos a condição do governador, que deverá ter um candidato, mas para nós, o apoio dele seria muito significativo. Temos boas condições de alianças dentro do leque de apoio de nosso partido, tanto no plano estadual como no nacional. As presenças do PCdoB, do PT, do PSB e do PDT na disputa colocam o governador e a própria prefeita numa situação difícil. Mesmo que o governador tenha um candidato do PSB, ele tem que ter uma boa relação com todos os outros. Será uma eleição em que mais de um candidato da própria base da prefeita, do governador e da presidente irão disputar as eleições. É uma situação delicada, mas que mostra que existem muitas lideranças disputando uma cidade tão importante.

Vermelho: Qual seria o grande diferencial de uma administração comunista?
IA: Considero que a nossa marca é a capacidade aglutinadora. Jogamos na política com o desafio de realizarmos gestões que respondam aos problemas do povo, mas temos consciência de que não conseguiremos fazer sozinhos. Nosso tratamento com os aliados tem uma distinção especial. Consideramos que eles são muito importantes para se realizar um projeto. Essa capacidade de fazer política e aglutinar forças é uma característica dos comunistas.