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Agência da China vai rebaixar nota dos EUA na próxima semana

"Nós definitivamente vamos rebaixar o rating, independentemente de haver um compromisso. Isso já gerou um golpe na confiança dos investidores"

A agência chinesa de classificação de risco Dagong Global Credit Rating planeja rebaixar os ratings dos EUA já na próxima semana, conforme informação divulgada pela agência Reuters em seu site, citando o presidente da empresa, Guan Jianzhong.

Golpe na confiança

Guan afirmou que, mesmo se os legisladores norte-americanos evitarem um default (calote) da dívida, danos suficientes terão sido causados para justificar um rebaixamento. "Nós vamos agir em breve, provavelmente na próxima segunda ou terça-feira", declarou Guan.

"Nós precisamos ver se (os legisladores) chegam a um compromisso e ver o escopo desse compromisso, então decidiremos quão profundo será o corte no rating", explicou o presidente da agência.

A Dagong colocou os ratings dos EUA em observação no começo deste mês, depois de ter cortado a nota de classificação de AA para A+ em novembro do ano passado. "Nós definitivamente vamos rebaixar o rating, independentemente de haver um compromisso. Isso já gerou um golpe na confiança dos investidores", destacou Guan.

Maior credora

Com cerca de um terço de suas reservas aplicadas em títulos do Tesouro americana, o que significa mais de 1 trilhão de dólares, a China é a maior credora dos EUA e tende a sofrer os maiores prejuízos no caso de uma interrupção dos pagamentos. Por esta razão, representantes do governo de Pequim alertaram as autoridades estadunidenses que é preciso conceder garantia aos investidores.

A empresa chinesa não será a única a rebaixar a nota dos EUA, cuja imagem foi seriamente corrompida pelo impasse entre governo e parlamentares sobre a dívida pública do país, que mais uma vez ultrapassou o teto definido pelo congresso, agora em US$ 14,29 trilhões. O país, que tem a maior economia capitalista do mundo, conta ainda com o privilégio de gozar da nota máxima (AAA), mas o gigantismo do débito (quase seis PIBs brasileiros) e o risco de moratória pressionam as agências a uma reconsideração.

Pimco

Para O executivo-chefe da Pimco, gestora de investimentos, El-Erian, o acordo do governo com o Congresso deve sair até 2 de agosto, mas dificilmente os EUA continuarão a ser AAA. Para ele, o acordo será apenas capaz de evitar a primeira declaração de suspensão de pagamentos federais pelo Departamento do Tesouro.

Em entrevista, por e-mail, ao Estado, El-Erian afirmou que apenas um ajuste fiscal de US$ 3,5 trilhões a US$ 4 trilhões, com cortes de gastos e aumento de impostos, pode contornar a tendência de a Standard & Poor’s rebaixar a nota AAA da dívida americana. Os dois projetos no Congresso, entretanto, não atingem tal cifra nem apontam equilíbrio de sacrifícios na receita e na despesa.

Leia a seguir, os principais trechos da entrevista.

Estadão: Na situação atual, o sr. ainda acredita em acordo no Congresso para elevar o teto da dívida?
El-Erian: Acredito que um acordo será alcançado para aumentar o teto da dívida e evitar, do ponto de vista técnico, a suspensão dos pagamentos da dívida. Mas o compromisso político não será suficientemente significativo para reduzir, de fato, o risco de a classificação da dívida americana, hoje AAA, ser rebaixada. A nota AAA continuará extremamente vulnerável.

Estadão: Então, o rebaixamento é inevitável, dados os projetos em tramitação no Congresso? O que poderia definitivamente evitar essa decisão das agências de classificação de risco?
El-Erian: A S&P pôs a avaliação de risco do crédito americano em observação em 14 de julho, sugerindo o rebaixamento, a menos que haja significante evolução política. Também especificou tanto a necessidade de substância do acordo quanto de cumprimento do prazo. Se a S&P, que está sob forte pressão política para ser mais branda, cravar o que indicou, os EUA terão de apresentar um pacote crível de redução de US$ 3,5 trilhões a US$ 4 trilhões em seu déficit. Logicamente, o pacote terá de conter tanto corte de gastos públicos quanto reforma dos impostos.

Estadão: Quais serão as consequências para as economias emergentes, como o Brasil, se o acordo não for suficiente para evitar o rebaixamento da avaliação dos EUA?
El-Erian: Difícil responder. Os emergentes terão de lidar com os EUA, a maior economia do mundo, com crescimento mais lento, severo problema de desemprego e mais bitolado. Terão ainda de considerar o impacto de uma provável queda no valor do dólar e o aumento da volatilidade no mercado financeiro.

Estadão: Parte da diretoria do FMI considera possível o retorno, aos EUA, dos capitais orientados nos últimos dois anos às economias emergentes. O sr. concorda?
El-Erian: É uma possibilidade. A julgar pela história, as crises mundiais criam "preconceito de casa". Nesse caso, pode incluir a repatriação de parte do capital.

Estadão: Mesmo que os EUA possam evitar a suspensão de pagamentos e o rebaixamento da nota da dívida, o governo terá de aplicar um severo ajuste fiscal. O país corre risco de nova recessão?
El-Erian: O risco de recessão está aumentando, mas não é a questão base. Não estou seguro de que um novo QE3 (afrouxo quantitativo ou terceira etapa de compra de títulos pelo FED) poderia ajudar, mesmo que a recessão fosse a questão essencial.

Com informações do Estadão.com