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PCdoB apresenta experiência da esquerda brasileira no Peru

Uma delegação do PCdoB — composta pela deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG) e por Ronaldo Carmona, membro da Comissão Internacional do Partido — participa nesta quinta-feira (28) de uma ampla agenda em Lima, no Peru, que inclui um encontro com o presidente Ollanta Humala, no Palácio do governo.

Os comunistas brasileiros são convidados dos partidos peruanos membros do Foro de São Paulo — Partido Nacionalista Peruano, Partido Socialista Peruano, Partido Comunista Peruano e Partido Comunista do Peru (Pátria Roja), sendo os três primeiros integrantes da coalizão Gana Peru, que elegeu Humala. O novo presidente toma posse nesta quinta (28), na capital peruana.

Nesta terça e quarta-feira, dias 26 e 27, a delegação do PCdoB participou do Seminário Internacional “Experiências de alianças políticas de governos de esquerda e progressistas da América Latina: os casos do Brasil, Chile e Uruguai”, promovido pelos quatro partidos peruanos do Foro de São Paulo. O sentido do seminário, explicaram os organizadores, foi recorrer subsídios das experiências dos três países visando o governo que se inicia nesta quinta.

O seminário constituiu-se de três sessões, duas restritas às direções dos partidos organizadores e uma pública. Na primeira sessão, realizada nesta terça (26), o senador Ernesto Agazzi, da Frente Ampla uruguaia expôs o curso da conquista do governo pela esquerda de seu país. Ele enfatizou a rica experiência de unidade lograda por estas forças há mais de quatro décadas.

Na mesma sessão, três partidos chilenos — o Partido Socialista, o Partido dos Socialistas Allendistas e o Partido Progressista — apresentaram criticamente a experiência de 20 anos de governos da Concertacion, encerrados com a derrota para a direita em 2009. Os chilenos, em tom autocrítico, lamentaram a não execução de uma política de esquerda e apontaram para um processo de reconfiguração da unidade da esquerda chilena no próximo período.

A sessão pública do seminário aconteceu na noite de terça, num amplo teatro de Lima. O evento foi marcado pela participação de centenas de militantes dos quatro partidos peruanos e de diversos partidos latino-americanos que vieram ao país para a posse presidencial.

Representando o PCdoB, Ronaldo Carmona expôs à esquerda peruana o longo caminho de unidade da esquerda brasileira que levou à vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002. O caminho da unidade da esquerda brasileira foi iniciado em 1989, com a aliança entre o PT, o PSB e o PCdoB. As forças progressistas do país lograram a vitória após a constituição de uma ampla aliança política e social, a partir da incorporação, através da figura ex-presidente República José Alencar, de setores produtivos descontentes com o curso neoliberal no Brasil.

O comunista brasileiro também ressaltou que para além da análise de experiências e traços comuns às experiências de esquerda na América Latina, é preciso mais que nunca considerar a atualidade do marxista peruano, fundador do Partido Comunista, José Carlos Mariategui, que em sua obra clássica “7 ensaios de interpretação da realidade peruana”, adverte que o socialismo é criação heróica: “Sin calco ni copia”. Esta máxima, mais que nunca deve ser levada em conta pelas experiências progressistas latino-americanas, no sentido de que não há modelos a seguir, mas a “criação heróica”.

Experiência brasileira

Na quarta (27), foi a vez da dirigente comunista Jô Moraes, da Comissão Política Nacional do Partido, expor aos partidos peruanos traços da experiência brasileira nos oito anos do governo de Lula e nos primeiros seis meses do governo de Dilma.

Para a comunista brasileira, “a recente experiência brasileira, iniciada no ano de 2002, com a eleição do presidente Lula é parte do ciclo de mudanças que levou ao poder, em países latino-americanos partidos de esquerda, forças populares e nacionalistas, cujo gesto inaugural pode-se dizer, deu-se simbolicamente com a eleição do Comandante Hugo Chaves, em 1998. A posse do presidente Ollanta Humala, neste momento, após acirrada disputa com as elites locais é a comprovação de que este vendaval de mudanças está longe de ver concluído seus desafios”.

A deputada brasileira ressaltou que, “para o PCdoB, a análise dessa experiência se faz levando-se em conta o que ela contribui para o avanço do caminho rumo ao projeto estratégico de construção socialista e o desenvolvimento da luta social em nosso país”

Em seguida, a comunista buscou extrair “alguns indicativos que podem ser tirados desse curto período de oito anos e meio”.

Para ela, “por mais que o governo ceda, os tais ‘mercados’ sempre atacam qualquer iniciativa de mudança; é necessário somar convicções, forças políticas e sociais para alcançar o momento de enfrentá-los”. Aludindo à experiência brasileira, Jô Moraes ressaltou que “alianças amplas são necessárias, mas é preciso que os partidos de esquerda e progressistas mantenham uma articulação especial para garantir a pressão política por mudanças. A grande dificuldade no Brasil é que isso não se dá. A principal aliança do partido hegemônico, o PT é com o PMDB, partido de centro, mantendo a dispersão das forcas mudancistas”.

A comunista completou que “o debate sobre um Projeto Nacional de Desenvolvimento com distribuição de Renda ainda é limitado. Não há convicções na base do governo em torno de sua formulação”. O principal desafio seria “elevar o nível médio de crescimento acima do alcançado nos governos Lula (em torno de 4% do PIB); e atingir uma taxa de investimento de 25% do PIB garantindo sua sustentabilidade”

Na mesma sessão, Ronaldo Carmona falou sobre a política externa brasileira, em especial da integração sul-americana. O brasileiro ressaltou o sentido geopolítico da vitoria das forças progressistas no Peru, no sentido de quebrar o chamado “arco do Pacífico”, aliança de países governados pela direita que buscavam reagir ao progresso da união sul-americana, em especial, à vértebra que vai da Patagônia ao Caribe, materializada no ingresso da Venezuela ao Mercosul.

Carmona chamou a atenção ao fato que “os quatro pontos cardeais” da geografia sul-americana – do Oceano Atlântico ao Pacifico, do Caribe ao Canal de Beagle – passam, com a vitória no Peru, a ser governado por forças que possuem convicções no caminho da constituição de um bloco sul-americano autônomo.

Encontro com Embaixador

A delegação do PCdoB realizou, ainda nesta quarta, uma visita à embaixada do Brasil em Lima, onde reuniram-se com o embaixador Carlos Alberto Lazary Teixeira. Recém chegado à capital peruana, o embaixador foi assessor internacional da então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Teixeira fez uma longa exposição sobre o estado das relações entre o Brasil e o Peru, ressaltando a decisão da presidente Dilma em ampliá-las, através do apoio ao governo de Ollanta Humala.

Da Redação, com informações da Secretaria de Relações Internacionais