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Japoneses lembram horror nuclear de Hiroshima e Nagasaki

Poucos meses após a catástrofe do terremoto seguido de tsunami em Fukushima, os japoneses lembram neste sábado o 66º aniversário do dia mais trágico da história de seu país, que reforçou as advertências daqueles que sobreviveram ao da bomba atômica e à "ameaça invisível da radioatividade".

Keiko Ogura, que tinha oito anos quando uma bomba nuclear atingiu Hiroshima, disse que reconheceu as cenas que passavam na televisão no dia 11 de março, ilustrando os efeitos do devastador tsunami no nordeste do Japão.

As imagens eram muito parecidas às que ela viveu quando o B-29 americano Enola Gay lançou sobre Hiroshima o primeiro ataque nuclear da história. A bomba "Little boy", que caiu a 2,4 km da casa de Ogura, acabou com a vida de aproximadamente 120 mil pessoas de forma instantânea e de muitas outras devido aos efeitos posteriores.

Em nota dirigida ao povo japonês, a presidente do Conselho Mundial da Paz, Socorro Gomes, afirma que na manhã do dia 6 de agosto de 1945 o mundo fixou estarrecido com o lançamento da bomba em Hiroshima. “Ninguém imaginava que o ser humano seria capaz de tamanha maldade. E às 11h01 do dia 9 daquele mesmo mês, o mais incrível ainda ocorreria, pois uma nova bomba era lançada sobre a cidade de Nagasaki, matando de novo milhares e milhares de homens, mulheres, crianças, idosos e destruindo o que houvesse ao redor”.

Socorro Gomes ressalta ainda que as potências imperialistas, especialmente os Estados Unidos e outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) têm aumentado seus investimentos na corrida armamentista. “São 850 bases militares espalhadas pelo mundo, muitas das quais escondem armas nucleares e químicas, numa constante ameaça a toda a Humanidade”.

Ataque

"Naquele dia, meu pai nos disse para não irmos à escola porque tinha uma sensação estranha. Eu estava ao lado de casa, quando vi uma chama branca que me envolveu. Caí ao chão e perdi a consciência. Quando abri os olhos, tudo estava muito escuro e ouvia meu irmão pequeno chorar", conta Keiko, hoje com 74 anos.

No início não havia explicações por que um bairro tão pacato como o seu tinha sido alvo de ataque militar. "Mais tarde compreendemos que nós não éramos o alvo, mas toda a cidade", afirmou a sobrevivente no Museu da Paz de Hiroshima, com o discurso de quem está habituado a repetir sua história.

As pessoas afetadas sofreram durante muito tempo "a discriminação dos que não conheciam a realidade", lembrou Keiko, em uma época na qual se chegou a pensar que os afetados pela radiação sofriam uma misteriosa doença contagiosa.

Mudança

Agora, 66 anos depois, as coisas mudaram e Keiko insiste que, apesar da personalidade retraída da sociedade japonesa, é positivo que as vítimas da radioatividade, também em Fukushima, falem disso para manter viva a advertência do perigo nuclear.

Para ela, as notícias sobre a tragédia de 11 de março passado na usina nuclear de Fukushima Daiichi, onde cerca de 80 mil pessoas tiveram de ser evacuadas em um raio de 30 km pela radioatividade, chegaram como "um choque".

A sobrevivente afirma que, durante décadas no Japão, não houve informações sobre o risco das usinas nucleares, e destaca que foram turistas estrangeiros que disseram a ela, pela primeira vez, os perigos procedentes da energia atômica.

Memória

Em frente ao museu, fica o Parque Memorial da Paz, centro da cerimônia que, neste sábado (6), lembrará aos representantes de aproximadamente 70 países as vítimas do ataque nuclear, com a crise de Fukushima e o reavivado debate sobre a energia atômica como cenário de fundo.

Diante do "Genbaku Domu" ("Cúpula da bomba atômica"), o esqueleto da antiga Câmara de Promoção Industrial que se levanta como símbolo da devastação, se congregavam nesta sexta-feira vários grupos com cartazes de homenagem às vítimas e, alguns, com mensagens contra a energia nuclear.

Por ali, passaram desde membros da Associação de Ciclistas pela Paz até estudantes, turistas e, inclusive, um grupo de monges budistas que, sob um sol escaldante, recitou suas orações diante de um pequeno altar e dois grandes cartazes com os dizeres "Não à guerra" e "Não mais usinas nucleares".

O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, já anunciou que, durante o ato deste sábado, em sua tradicional declaração de paz, fará também um pedido para que o Governo do Japão revise sua política energética.

Fonte: Folha.com