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Complexo do Alemão: moradores criticam abordagens do Exército

No dia seguinte ao intenso tiroteio entre militares da 9ª Brigada de Infantaria do Exército e traficantes no Complexo do Alemão, ocorrido na última terça-feira (6) à noite, moradores da comunidade pediam mais respeito por parte dos soldados durante as abordagens nas ruas. Sem criticar diretamente a presença das forças de segurança no conjunto de favelas, a reclamação é contra a forma ríspida que os militares se dirigiriam à população.

“A maneira de abordagem está horrível. Nós somos moradores da comunidade e eles precisam nos abordar com respeito, com bom dia, boa tarde e boa noite. Não é chegar e 'esculachar' [destratar]”, disse Ivo Rosa, que trabalha com transportes e mora na região.
O comerciante Nivaldo Bento, conhecido como Baiano, há 25 anos dono de um bar na Favela da Grota, também reclamou da atitude dos militares. “Será que eles [os soldados] não gravam a nossa fisionomia. Ficam abordando a toda hora. Aí os moradores ficam revoltados com isso, pois todo mundo vira suspeito”.

Para o pedreiro Walace Sidney, os soldados precisam aprender a lidar melhor com a população. “Eles querem mostrar poder. Mas a comunidade não quer que eles mostrem poder. Quer que eles nos mostrem segurança. Falta um pouco de experiência. Eles estão treinados para um tipo de serviço, aqui é outro”, disse Sidney, que sugeriu a utilização de efetivo mais velho, em vez dos jovens soldados, como forma de aprimorar o trabalho no relacionamento com os moradores.

O comandante da Força de Pacificação no Complexo do Alemão, general César Leme, garantiu que existe a preocupação em respeitar a população durante as ações de abordagens e revistas, mas admitiu que esse procedimento pode ser melhorado. “Aprimoramento é sempre bem-vindo. Mas nós temos a preocupação na orientação à nossa tropa de uma abordagem correta e de forma educada”, declarou o general, que já esteve no comando da tropa no Alemão por três meses e retornou recentemente para mais um trimestre.

Reforço na segurança

A segurança nas ruas do entorno do Complexo do Alemão foi reforçada nesta quarta (7). O confronto armado da última terça (6) foi o primeiro entre soldados do Exército e traficantes desde a ocupação do conjunto de favelas, em novembro do ano passado.

Os militares encontraram nesta quarta (7) quatro bombas caseiras detonadas e uma não detonada na Favela da Grota, palco dos principais tiroteios da noite anterior. Os moradores que sobem o morro são revistados. Os carros de combate blindados que foram deslocados ontem em apoio à operação retornaram para a base. Dois morros vizinhos, o do Adeus e o da Baiana, foram ocupados pela Polícia Militar, pois a maior parte dos ataques partiu de lá.

Tensão

O conflito armado foi precedido, nos dois dias anteriores, de brigas e prisões de moradores pelas tropas do Exército, sob alegação de desacato à autoridade. O comandante da Força de Pacificação, general Cesar Leme, considerou que a violência estaria sendo orquestrada por traficantes descontentes com a interrupção na venda de drogas nas comunidades. Outro fato que poderia ter acirrado os ânimos foi o recente fechamento de comércios irregulares de gás de cozinha, que seriam controlados por traficantes.

Fonte: Agência Brasil