Artigo: Pelegrino, João Henrique e as eleições de 2012

Por Geraldo Galindo*

O Jornal Tribuna da Bahia do dia 27/09 traz uma matéria cujo título é “PT trabalha para poupar Nelson Pelegrino”, onde se cita pronunciamentos de um dos "articuladores” da campanha do candidato petista à prefeitura de Salvador. O vereador Henrique Carballal, até recentemente líder da bancada da oposição a João Henrique, avisa que a campanha de 2012 terá como eixo “quem é contra e quem é a favor do governador” e que a "avaliação da gestão de João Henrique deve ser evitada". Por essa simplista linha de raciocínio, o candidato do PT estaria preservado e teria o apoio do atual prefeito, apoio pelo qual ambos, candidato e “articulador” estão costurando.

Diante desse posicionamento político, vem à lembrança a eleição de 2008, quando o Partido dos Trabalhadores foi acusado sistematicamente pelo atual prefeito de ter sido um traidor, por ter saído do seu governo às vésperas da eleição. Considero esse um dos fatores determinantes para a derrota do campo progressista naquela ocasião, pois parcela considerável do eleitorado terminou por fazer a leitura de que nosso candidato seria um “oportunista”, um “traidor" – opinião com a qual não concordamos. A maioria da população teve dificuldades para compreender como um postulante ao cargo de prefeito se apresenta como oposição após ter ficado tanto tempo ocupando espaços na administração que passa a criticar . E, convenhamos, não é facil mesmo entender uma situação dessas.

O caminho que lideranças petistas apontam no momento é receber o apoio de João Henrique em 2012 e, de acordo com o que circula nos bastidores, como retribuição, este teria espaço privilegiado na eleição de 2014 . Tendo ou não acordo com para as eleições posteriores à de prefeito, a questão é que o PT pode passar pelo mesmo problema da eleição de 2008 em 2012, ser taxado de partido oportunista por adversários do campo conservador. O que eles diriam? Que o PT passou cinco anos na oposição ao prefeito e repentinamente passa a ser sua base de apoio e ter o apoio dele para a eleição. Será um discurso tão contundente, e digamos, com razoável consistência, que pode expor o partido a enormes dificuldades para explicar ao eleitorado mudanças tão drásticas na sua atuação política na cidade. Pelegrino pode ser ver na mesma saia justa de Walter Pinheiro, que teve de fazer contorcionismos para se livrar da pecha de "oportunista". O PT poderia ser visto como o partido que quando era do governo, foi pra oposição na eleição, e que quando foi oposição, passou a ser situação. Um prato cheio para a oposição e seus criativos marqueteiros, profissionais estes que tem em seus arquivos as acusações de baixo nível feitas por João Henrique contra Pinheiro em 2008 durante o horário eleitoral e em debates públicos.

Ademais, a tese de que não se deve evitar discutir a gestão de João Henrique numa campanha eleitoral chega a ser absurda. Isso não depende da vontade de um partido ou candidato. Em toda a eleição municipal, salvo exceções circunstanciais, a discussão gira em torno da avaliação da gestão e proposição de soluções para os problemas das cidades. Então, se o PT pretende não avaliar o governo João Henrique, com certeza outros candidatos o farão e inevitavelmente ele terá de se pronunciar. E vai se pronunciar como? Todas as pessoas de bom senso sabem que a administração de João Henrique é um desastre político e administrativo, e quem se associar a ela, pode pagar caro e sofrer rejeição da grande maioria da cidade que repele o atual prefeito.

O PCdoB não vai abrir mão, antes e durante a campanha de fazer as críticas políticas ao abandono que João Henrique deixou a cidade – uma administração marcada pela incompetência e pela improvisação. Essa mesma crítica o PT vem fazendo há tempos – tanto que é da bancada de oposição, junto com o PCdoB. Vai mudar ou esconder o discurso durante a campanha?

Por fim, a outra tese de que a campanha deve ter com eixo “quem é contra e quem a favor de Wagner”. Se fosse assim tão simples, talvez fosse melhor suspender a eleição e fazer um plebiscito onde se fizesse essa pergunta ao eleitor e a situação estaria resolvida. Temos compreensão de que Wagner realiza um excelente governo, um democrata que exerce a gestão com eficiência e democracia. Mas o debate eleitoral não pode ficar circunscrito a essa simplificação; seria um desrespeito ao povo e até mesmo ao governador. O PCdoB , com sua candidata Alice Portugal, vai para a campanha como base dos governo estadual e federal e defenderá em seu programa de governo as parcerias com ambas as esferas como uma das formas para tirar a cidade do caos herdado de JH. Isso significa dizer que a prefeitura deve fazer articulação permanente com os governos e ter autonomia para tocar projetos de interesse do povo.

*Geraldo Galindo é presidente do Comitê Municipal do PCdoB em Salvador