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Diário de uma ocupação: a rotina dos 'indignados' em NY

Os manifestantes na Liberty Plaza enfrentavam um frio de 13º C nesta terça(04), enquanto recebiam olhares curiosos de turistas e moradores de Nova York. A praça, localizada dentro do distrito financeiro, na saída de Wall Street e em frente ao monumento em homenagem aos atentados terroristas de 11/09, parece um acampamento, forrado com barracas e tendas. E nesse espaço improvisado, ocupado por centenas de pessoas, está em ação um dos movimentos civis mais contundentes dos últimos tempos e que vêm ganhando destaque internacional: o Ocupe Wall Street.

Logo pela manhã, às 9h, uma roda de música animava os poucos que estavam acordados e celebravam aquela revolução particular. Bem ao lado, uma biblioteca com centenas de livros doados pelos simpatizantes do movimento oferece desde poesias e romances até teóricos anti-capitalistas e marxistas. A função é manter informada e entretida a trupe que representa os “99% da população excluída pela especulação do capital e pelo 1% restante que só pensa em lucro”, conforme diz o grupo.

No acampamento, cartazes pedem por mudança do sistema financeiro e político / Foto:Thiago Carrapatoso

 

Jordan, que fará 22 anos daqui a duas semanas, é uma viajante sem-teto que fez uma parada em Nova York vindo de New Hampshire (norte dos EUA) no domingo (2) de madrugada, quando estava em direção ao sul do país para fugir do inverno. “Estava a caminho quando tudo isto aconteceu e eu senti que era importante estar aqui por alguma razão”, afirmou ao Opera Mundi.

A falta de motivos bem definidos é algo que tem marcado a manifestação até o lançamento do primeiro comunicado, que, como diz na própria página, é orgânico e muda constantemente. Nele, o texto dá uma ideia da frustração sentida, apontando o caminho para os próximos passos.

As reivindicações são diversas, desde melhorias nos serviços de planos de saúde do país até críticas à distribuição de renda. O comunicado oficial foi definido por assembleia, com discussões intensas até se chegar a um acordo entre as partes.

O Acampamento/ Foto: Thiago Carrapatoso
 
Uma das características do grupo é a falta de um líder definido. Todas as questões sobre o que fazer e os próximos passos são definidos em discussões com quem queira participar. Para manter um nível mínimo de organização, porém, criou-se grupos de trabalho, como ambulatório, imprensa, cozinha, conforto, internet, orçamento, jurídico, limpeza e artes & cultura. Eles possuem independência suficiente para arquitetar todas as necessidades básicas e deixar o acampamento em ordem.

Tudo é resultado de uma mobilização que aconteceu por meio de dois grupos ativistas: AdBusters e Anonymous. O primeiro é conhecido por suas campanhas contra o consumo exacerbado, como o "Dia Sem Compras" (Buy Nothing Day). O segundo dominou as notícias dos jornais devido aos ataques às redes de cartão de crédito por causa do boicote nas doações para o portal Wikileaks, que vaza documentos considerados secretos.

“Não é o que eu quero, mas o que você quer, porque você faz parte do 99% também. O que estamos criando aqui é um movimento de democracia direta que todo mundo pode ser ouvido. Todo mundo tem as mesmas possibilidades, não importando riqueza, classe econômica, raça, sexo. Nós nos juntamos para construir o futuro que todos nós queremos ver”, explicou Ox, 28 anos, que mora no Bronx, norte de Nova York, e ajuda o grupo a angariar voluntários para expandir os movimentos de ocupação pelo país.

Segundo a placa que é atualizada constantemente no acampamento (seguindo o placar do Occupy Together), já são 147 cidades dos EUA e 28 em outros países que possuem movimentos organizados de protesto. A adesão é visível até quando se checa o orçamento da cédula novaiorquina. Durante estes 18 dias de ocupação, as doações em dinheiro já superaram a marca de 35 mil dólares.

Hannah, de 21 anos, saiu de sua cidade no norte do país, onde ainda têm aulas na faculdade, para protestar em NY. “Eu queria aprender mais e estou muito feliz com o que eu encontrei aqui. Há muito amor no ar. É uma coisa boa, uma manifestação não violenta, que tenta mudar o sistema. Têm muitas ideologias representadas, mas a reivindicação principal é que queremos acabar com a dominação das empresas nas questões sociais e políticas”, definiu.

Ainda não há previsão de quanto tempo a ocupação durará. A Assembleia Geral do “Ocuppy Wall Street”, no entanto, informou que ainda soltará mais três comunicados oficiais: uma declaração com as exigências, princípios de solidariedade e um documento com um passo-a-passo de como montar o seu próprio grupo de democracia direta. Enquanto isso, os tambores e as canções continuam ecoando no Liberty Plaza para o mundo.

Fonte: Opera Mundi