Ministro fala em público pela quarta vez: onde estão as provas?

“Exijo o dinheiro público desviado por essa entidade. O que fiz foi combater o malfeito. E qual foi a reação de quem cometeu o delito? Acusa o ministro de Estado e não apresenta provas. Esses são os fatos”. Pela quarta vez, o ministro do Esporte, Orlando Silva, veio a publico esclarecer ataques à sua honra e ao trabalho do Ministério.

Ministro fala em público pela quarta vez: onde estão as provas? - Agência Senado

Ele falou desta vez aos senadores, nesta quarta-feira (19), na audiência conjunta pelas comissões de Educação, Cultura e Esporte (CE) e de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle (CMA). Ele diz que assim segue o roteiro, estabelecido por ele mesmo, na primeira hora do sábado quando tomou conhecimento da matéria publicada pela revista Veja.

Leia também

Inácio Arruda: PCdoB irá às últimas consequências contra calúnias

“Já se foram cinco dias, onde estão as provas das falsidades que me acusam?”, questionou o ministro mais uma vez, criticando aqueles que defendem a saída dele do ministério a partir da acusação. “Se pretende tirar o ministro de Estado do governo no grito. Não importa se o acusador tenha que devolver recursos públicos. Não tenha provas. O processo tem que ser sumário, isso nos lembra do tempo de exceção, dos tempos de processos sumários”. 

A exemplo do que ocorreu na audiência pública realizada ontem (18), na Câmara dos Deputados, o ministro recebeu mais palavras de apoios e solidariedade do que cobranças. Foram duas vozes da oposição contra o ministro, que incluíram palavras de elogios à postura de Orlando Silva.

O senador Mário Couto (PSDB-PA) disse que suspendeu o pronunciamento que faria no Plenário do Senado contra o ministro e que não faria perguntas sobre as denúncias porque considerava correta a atitude do ministro de procurar a Polícia Federal e o Ministério Público Federal (MPF) para investigar.

E pediu, a exemplo do que fez um deputado na audiência de ontem, que ele apoiasse o pedido da criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). O ministro agradeceu o voto de confiança, insistiu na gravidade das acusações feita pela revista Veja e, novamente, disse que as investigações serão feitas pelos órgãos competentes.

Imprensa privatizada

O senador Roberto Requião (PMDB-PR), que presidiu a audiência pública, ao encerrar a reunião, disse que a imprensa no Brasil é privatizada e que as pessoas que comandam a imprensa não podem atacar a honra das pessoas sem dar a elas o direito de resposta.

Ele defendeu a aprovação do projeto de lei de sua autoria que garante o necessário direito de resposta, destacando que a proposta não questiona a liberdade de imprensa.

O ministro Orlando Silva já tinha se manifestado sobre o assunto em resposta à senadora Ana Amélia (PP-RS), que defendeu a liberdade de imprensa. Orlando disse que decidiu processar os caluniadores e não a revista Veja e que tomou essa decisão para homenagear os bons profissionais de imprensa, de quem espera critério e apuração devida na cobertura dessa situação.

Ele disse que, embora não tenha hábito de se relacionar com a mídia, procurou diretor da revista (Veja) pedindo mesmo espaço para resposta. “Sigo aguardando resposta”, anunciou.

“Alimentar uma novela”

A novidade surgida na audiência ocorrida hoje no Senado é que a oposição, representada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), não questionou o ministro sobre as acusações feitas por João Dias, mas quis repercutir denúncias feitas pelos vários órgãos de imprensa.

O ministro disse que “vamos examinar toda a qualquer denúncia. Nós instauramos processos administrativos como fizemos, não nos esquivamos de responder sobre qualquer contrato. Minha obrigação é essa, prestar contas”.

A essa tentativa da oposição, o senador Inácio Arruda, líder do PCdoB no Senado, disse que as acusações não são apenas contra ele (o ministro), anunciando que “o PCdoB vai tomar providências para não permitir que a cada dia se traga uma história nova para alimentar uma novela”.

E afirmou que nenhuma ONG está impedida de fazer convênio com o governo porque é do PCdoB. E explicou que a ONG Pra Frente Brasil, da vereadora de Jaguariúna (SP) Karina Rodrigues (PCdoB), atende 18 municípios, sendo quatro deles administrados pelo PSDB e vários outros partidos e nenhum do PCdoB.

“O partido vai às últimas consequências não só no apoio ao senhor, mas ao embate político, porque existem forças que acham que o Ministério do Esporte ficou grande demais para o PCdoB”, afirmou o senador, para quem “é difícil tentar pegar o acusador como base de sustentação para tirar o ministro porque sabem que estão com criminoso e chantagista”.

Inversão de valores

O ministro também avalia que surgem outras acusações porque não existem provas para as acusações de João Dias. E citou como exemplo as insinuações de que ele teria adquirido um terreno em área que poderia se valorizar com a passagem de um duto da Petrobras.

E explicou que o terreno é o único bem que possui, não faz parte do condomínio como insinuaram e que a área será desvalorizada com a passagem do duto. O ministro disse ainda que a foto da casa estampada nos jornais é de longe para não mostrar que é modesta, de 110 metros quadrados.

O ministro lembrou que tem outro bem em nome de minha mulher, um carro Fox, e que “os meus bens contrastam com o patrimônio de quem me ataca, e um soldado deve ter remuneração inferior ao ministro de Estado”, desafiando a imprensa a investigar os bens do policial João Dias.

“Existe uma completa inversão de valores. Se a moda pega, os bandidos todos vão atacar os gestores para criar cortina de fumaça em torno de si mesmos”, afirmou o ministro, acrescentando que como baiano é sempre mais tranquilo, mas é que a revolta é muito grande.

“Faço apelo aos amigos da imprensa que exijam as provas (de quem acusa), porque não se pode realizar linchamento público de um homem público a partir de palavra lançada ao léu por um homem de quem se exige a devolução de recursos públicos”, afirmou.

De Brasília
Márcia Xavier