"Temos oportunidade de erradicar a fome no mundo", diz Graziano
Pela primeira vez na história "temos a oportunidade de erradicar a fome no mundo", declarou José Graziano da Silva, futuro diretor-geral da FAO (Organização da Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação).
Publicado 09/12/2011 19:19
Assessor do ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e responsável pelo programa "Fome Zero", esteve à frente do escritório da FAO na América Latina desde 2006, mesmo ano em que explodiu a "crise alimentícia". Agora, a partir de 1º de janeiro, Graziano substituirá o senegalês Jacques Diouf na direção-geral do órgão.
"Minha escolha criou muitas expectativas. Porém, as circunstâncias atuais são bastante desfavoráveis. As mudanças de governo e a crise econômica podem atrasar muitas medidas que pensava adotar com mais rapidez", advertiu.
Eleito no último mês de junho com 92 votos, quatro a mais que o ex-ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Ángel Moratinos, Graziano se propôs a "construir uma ponte" entre os países ricos e pobres, já que "a FAO não pode estar mais dividida no combate contra a fome".
Embora alguns analistas afirmem que a escolha é um triunfo do continuísmo, em uma organização que foi dirigida nos últimos 35 anos por representantes de economias em desenvolvimento, Graziano prefere considerar que se trata de um reconhecimento à contribuição dos países latino-americanos em busca da segurança alimentar mundial.
"Atualmente, na América Latina, temos 120 milhões de pessoas muito pobres que estão sendo assistidas para que possam viver com mais dignidade. Aprendemos com a crise e contamos com uma melhor capacidade para enfrentar os problemas", manifestou.
A atual crise econômica que afeta os países desenvolvidos, pode fazer com que as contribuições que os países europeus e os Estados Unidos entregam para o funcionamento da FAO sejam reduzidas.
"Sem dúvida que vai haver cortes. Já estamos preparados para isso. A estratégia será muito simples: usar melhor o orçamento e aumentar a cooperação técnica entre os países do sul", apontou Graziano.
Para que os governos tomem consciência da necessidade de impulsionar a segurança alimentar, Graziano pensa em usar a mesma fórmula aplicada na América Latina: promover leis de segurança alimentar, encorajar a participação da sociedade civil e implementar programas de alimentação escolar.
O final do mandato de Graziano, em 2015, coincidirá com o termino do prazo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, sendo que o primeiro é a erradicação da pobreza extrema e da fome, uma meta que parece estar muito distante.
Por isso, logo após assumir a direção-geral, Graziano apresentará ao conselho da FAO uma lista dos países pobres que estão enfrentando o problema da fome. A ideia é "prestar toda a assistência técnica e financeira para atendê-los".
O principal obstáculo para acabar com a fome no mundo não é de índole burocrática, mas muito mais descarnada. "A fome segue vinculada à guerra. Os países onde proporcionalmente temos maior número de famintos são os que estão em conflito, como a Somália, por exemplo", advertiu o futuro diretor-geral da FAO.
"Sem dúvida a situação na Somália é a nossa principal preocupação e, para poder dar respostas para esta questão, vamos coordenar melhor a atuação da FAO, do Programa Mundial de Alimentos e do Fundo de Desenvolvimento Agrícola", advertiu Graziano.
Outra intenção da FAO é frear a volatilidade nos preços dos alimentos, uma situação que Graziano acredita que pode melhorar com a Presidência mexicana no G20.
Ajudaria muito "ter uma regulação para impedir que os alimentos sejam tratados da mesma maneira que os produtos financeiros", apontou o futuro diretor geral da FAO.
A produção de biocombustíveis, as subvenções agrícolas e as barreiras comerciais são temas de natureza eminentemente política e econômica, mas que acabam afetando a segurança alimentar. Em relação ao tema, Graziano é consciente de suas limitações.
"A FAO faz recomendações, mas são os governos que possuem autonomia política e administrativa para implementar tais ações", explicou.
Convencido que atualmente "há um reequilíbrio do poder político em nível global", que outorga maior protagonismo aos países emergentes, Graziano quer aproveitar a reforma empreendida pela FAO para embandeirar as mudanças no sistema das Nações Unidas.
"Podemos dar um bom exemplo. Os países em desenvolvimento podem estar sendo melhores representados", assegurou o novo diretor-geral da FAO, que sonha com uma organização "menos burocrática e mais efetiva".
Fonte: Efe