CORRUPÇÃO NA UFPI: agora todo o Brasil sabe

Artigo da professora Valéria Silva, Dra. em Sociologia Política. Professora do Programa de Pós-Graduação em Sociologia-UFPI e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia e Arqueologia-UFPI

Sou de um tempo que quando, nesta terra Piauí, falávamos a palavra Universidade, dispensávamos  qualquer adjetivo: tratávamos da grande UFPI, não restava dúvida ao nosso interlocutor. Partilhando de uma complexa simbologia a Universidade ocupava na história do Estado, na cultura local e na mente de cada uma das pessoas o lugar da grande instituição de ensino superior que contribuiu fortemente para a mudança do nosso Estado, porque assim efetivamente o foi. A UFPI era aquela que protagonizava um misto de excelência do trabalho de formação, fruto do compromisso coletivo da comunidade universitária, e dianteira da boa prática política, expressa pela atuação do movimento estudantil e movimento docente. Assim, a UFPI era a grande referência política, social e cultural, maior do que aqueles que efetivamente a faziam no dia-a-dia: os estudantes, os professores, os técnicos administrativos.

Nesse contexto ainda vivíamos sob a ditadura militar (ou sob seu rescaldo) e, como sabemos, os reitores eram escolhidos indiretamente, questão que animava as contendas daqueles que lutavam pela democracia acadêmica. É fato também que a Universidade padecia de uma crônica ausência de recursos, resultado de uma escolha política nacional só recentemente modificada. Desfinanciados, contestados internamente e apequenados diante do tamanho real e simbólico da UFPI, os reitores prepostos do MEC – até onde sabemos – foram comedidos em fazer valer, nos limites ufpianos, os mecanismos da política baixa que já grassavam fartamente nas dinâmicas cotidianas da democracia liberal representativa pelo Piauí e Brasil afora. Vigia na UFPI um clima de maior cuidado institucional.

Os anos se passaram e muitas coisas mudaram. Com a luta, conquistamos as eleições diretas para reitor, a participação nos Conselhos Superiores de gestão e, mais recentemente, uma dotação federal de recursos em volumes inéditos. Aparentemente, estaríamos no melhor dos mundos, vivendo momento privilegiado de consolidação definitiva do projeto chamado UFPI como a destacada referência que sempre foi neste Estado. Mas não. Algo estranho aconteceu e não só aqui, mas em várias outras Universidades Federais, embora neste texto deseje tratar da UFPI.

No fluxo das mudanças apontadas, nas duas últimas eleições a UFPI elegeu para administrá-la – pelo voto, é bom que se diga – um grupo que tem praticado o rompimento com a institucionalidade republicana até então hegemônica, adotando os piores vícios políticos como única diretriz do seu  fazer. Há anos temos convivido diariamente com o clientelismo e o autoritarismo orientando os atos da atual gestão, pontuando desde o maior ao menor escalão. O produto mais visível disso é o esvaziamento da função dos Conselhos e a profusa expedição individualizada de normativas internas. Temos sido alvos da perseguição política clara àqueles que discordam e resistem à postura adotada, por vezes, praticada em franco prejuízo aos interesses acadêmicos. Por último, temos sido obrigados a conviver com uma série de denúncias de malversação dos recursos públicos por parte dos que ocupam
os cargos superiores da administração. São práticas que imputam rótulos estranhos à imagem da UFPI, à sua história; práticas que redesenham a própria ideia UFPI.

Esse cenário, antes de tudo, nos entristece. Inconformados, temos mantido a luta política através do nosso sindicato, em aliança com o movimento estudantil. Lutamos porque não aceitamos que a UFPI seja aviltada pela vontade de alguns. Lutamos porque acreditamos que o seu papel é muito maior do que realizar interesses mesquinhos de grupelhos orientados pela ganância e desprovidos de vestígio ético. Lutamos porque continuamos acreditando na Universidade pública, gratuita, de qualidade, transparente e socialmente orientada. Lutamos porque acreditamos num mundo melhor e entendemos que a UFPI deve ajudar a construí-lo.

Pois bem. Dia desses, matéria estampada na capa de um jornal de circulação nacional informava que mais gente está seriamente preocupada com a agressiva política, hoje em curso, de apequenamento da nossa UFPI. O MEC, a Procuradoria da República, o Ministério Público e Polícia Federal estão apurando a conduta da Administração Superior, considerada suspeita. Vejamos o que informa o jornal: “No Piauí, o reitor da UFPI, Luiz de Sousa Santos Júnior – campeão de PADs [Processo Administrativo Disciplinar] no MEC, com oito – acumula ações na Justiça por improbidade administrativa, além de inquéritos no Ministério Público Federal (MPF) e na Polícia Federal que apuram seu envolvimento numa coleção de irregularidades. Numa das ações, ele é acusado pelo MPF de favorecer com 16 contratos, firmados sem licitação, o empresário Cândido Gomes Neto, apontado como controlador de três empresas de publicidade. Em outra, é responsabilizado por gastos abusivos com cartão corporativo, cuja soma alcança R$ 405 mil. […]A Procuradoria da República no Piauí quer
multar o reitor por, supostamente, descumprir ordem judicial que o proíbe de firmar convênios com a Fundação Cultural e de Fomento a Pesquisa, Ensino e Extensão (Fadex), ligada à universidade, para obras e serviços sem previsão legal. E sustenta que a entidade tem sido usada por ele para driblar a exigência de contratar mediante concorrência pública. Empresas mantenedoras da Fadex, como a Construtora F. Ramalho, e que constam em seu estatuto, aparecem no Diário Oficial da União (DOU) também como beneficiárias de contratos da fundação e da UFPI. O MEC apura a participação da D&P, empresa que pertenceu ao professor Iônio Alves da Silva, ex-coordenador de Comunicação da universidade e ligado ao reitor, em licitação para serviços de publicidade – o processo parou na Justiça.
Também está sob investigação o suposto dano ao erário em obras do campus de Bom Jesus. E o uso da Comissão Permanente de Seleção (Copese) para favorecer parentes e pessoas ligadas aos seus integrantes. Por esse motivo, o pró-reitor de Pesquisa, Saulo Brandão, responde a ação de improbidade do MPF. Na UFPI, foi necessária a intervenção de procuradores da República até para que o nome de uma colega do reitor no Departamento de Química, posto como homenagem num prédio da universidade, fosse retirado. Em representação, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e a Associação de Docentes (ADUFPI) pedem que o MEC apure a suposta concessão de bolsas, pela Fadex, a Santos Júnior e a uma de suas filhas. Ele nega.[..] (Disponível em: http://moglobo.globo.com/integra.asp?txtUrl=/ pais/gestores-de-universidades-federais-sao-alvos-deinqueritos-3425418>. Acesso: 10.dez.2011).

Como visto, encontramos outros parceiros para a nossa luta. Agora todo o Brasil sabe. Só falta você, caro/a piauiense, juntar-se a nós. A UFPI é minha, é sua, é nossa. Dos nossos filhos, dos nossos netos.Da história piauiense pregressa e futura. Não merece ser tomada, carcomida pela corrupção e outros vícios. Este, definitivamente, não será o seu destino se eu, você, nós e as instituições republicanas não permitirmos. E não permitiremos. Que a UFPI de todos os piauienses retome seu caminho!

Publicado em www.adufpi.org.br