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Redução dos juros breca tsunami de capitais, afirma economista

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) publicou nota, nesta quinta-feira (15), na qual aponta a possibilidade de a taxa básica de juros ser reduzida a patamares aproximados ao mínimo histórico (8,75%).

Da Redação do Vermelho, Joanne Mota

Segundo a ata divulgada na imprensa, os técnicos consideraram, a partir das projeções de inflação e dos riscos associados à economia brasileira, que existe uma “elevada probabilidade à concretização de um cenário que contempla a taxa Selic se deslocando para patamares ligeiramente acima dos mínimos históricos”.

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Em nota, os integrantes do comitê justificaram seu parecer apontado que as mudanças estruturais ocorridas no interior da economia brasileira determinaram recuo nas taxas de juros. E fatores como as mudanças na estrutura dos mercados financeiros e de capitais, pelo aprofundamento do mercado de crédito bem como pela geração de superávits primários consistentes com a manutenção de tendência decrescente para a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) foram fundamentais no parecer.

O assessor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), da Subseção da Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos da Força Sindical (CNTM), Roberto Anacleto, disse ao Vermelho que a redução dos juros se configura como uma decisão positiva e contribui para reduzir entrada de capitais externo no país.

“É interessante notar que com a atual crise há uma forte migração de fluxo de capitais, ou seja, quem investia na Europa, por exemplo, com a crise deixa de investir e leva seu dinheiro para outros países, e como o Brasil possui uma taxa de juros atrativa ocorre o que a presidente [Dilma Rousseff] chamou de tsunami de dólares”, explica.

Segundo ele, fica claro que para se pensar em um projeto de desenvolvimento nacional com fortalecimento da indústria, da economia e do emprego é necessário reduzir o percentual desta taxa e incentivar o investimento interno.

“Os juros altos constroem o cenário favorável para entrada de capitais especulativos. Um exemplo, muitos investidores preferem investir em títulos do governo, do que investir no setor produtivo. Então, entre se investir em uma fábrica e em tecnologia, por exemplo, e lucrar com os juros, os especuladores ficam com a segunda opção, o que inviabiliza um real desenvolvimento”, elucida o economista.

Anacleto esclarece que “quem não gosta quando a taxa de juros é reduzida são os grandes investidores que possuem títulos do governo, pois quando se reduz a taxa eles é que ganham menos. Pois diminui-se a dívida pública, sobra mais dinheiro para o governo e paga-se menos aos especuladores”.

O especialista lembrou que o taxa de 8,75% foi atingida em abril 2010, durante o governo Lula. E ressaltou que o patamar mais alto a taxa foi em julho de 2011, durante a crise, com elevação de 12,5%.

“Durante 27 meses o Brasil manteve a maior taxa de juros do mundo. O Ministro da Fazenda [Guido Mantega] tem trabalhado no sentido da redução, sobretudo porque no momento se fala muito em desindustrialização, um tema polêmico e que atinge diretamente o setor produtivo”.
O economista também lembrou que essa redução da taxa não será sentida em curto prazo e que para que isso aconteça a cadeia produtiva precisa fazer o repasse.

“Um ponto fundamental para que os resultados dessa redução sejam percebidos é que a cadeia produtiva precisa repassar esses valores até a ponta do processo, o que nem sempre acontece. Porém, o governo já sinalizou que usará o Banco do Brasil e Caixa Econômica para forçar os bancos privados a reduzirem suas taxas”.

Na última reunião, o Copom reduziu a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual. A taxa baixou de 10,5% para 9,75% ao ano, diferentemente do que até então esperava a maioria dos analistas financeiros – queda de 0,5 ponto percentual.