Sem categoria

Grito de Alerta pelo Emprego e Indústria reúne 90 mil

“Estou aqui pelo Brasil, pela indústria e pelos trabalhadores”, disse ao Vermelho, emocionado, José dos Santos (38), metalúrgico desempregado da região do ABC, que chegou às 5 horas da manhã para participar do Grito de Alerta pelo Emprego e Indústria, que foi realizado nesta quarta-feira (4), no pátio da Assembleia Legislativa de São Paulo.

De São Paulo, Joanne Mota

O evento, que foi marcado pela execução do Hino Nacional, cantado por cerca de 90 mil pessoas, é resultado de diversos debates que formalizaram um “Pacto pelo Desenvolvimento, com geração de Emprego e Renda” entre as centrais sindicais e o setor produtivo. Dentre as reivindicações apresentadas durante o ato, estão o fortalecimento da indústria nacional, a garantia e valorização do emprego, a redução dos juros e o controle do câmbio.

“A montanha pariu um rato”, foi como resumiu Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), ao mencionar o pacote de medidas apresentado pelo governo nesta terça-feira (3). “O Grito de Alerta pelo Emprego e Indústria é para avisar que os trabalhadores, bem como o setor produtivo, estão atentos ao nosso maior problema, que é a atual política macroeconômica – juros, câmbio flutuante e superávit primário. O pacote apresentado ontem contém uma ou outra medida positiva, mas está aquém do defendido pelos trabalhadores.”


 
Segundo ele, essa mobilização reflete a luta organizada por medidas que atuem diretamente na questão estrutural. Medidas que sejam mais do que pontuais, que tenham o Estado como indutor e se configurem como política de longo prazo. “Precisamos garantir nossa indústria, pois um país sem indústria está condenado a ser um país fraco e atrasado. Firmamos um pacto pelo trabalho e pela indústria, porque queremos um país forte e com bons empregos e oportunidade para o seu povo”, afirmou.
Wagner explica que o pacote prevê a desoneração da folha de pagamento para 15 ramos de atividade, com a extinção da contribuição previdenciária patronal (20% dos salários) e sua substituição por um imposto sobre o faturamento, com alíquota entre 1 e 2%. Estabelece, ainda, entre outras coisas, a redução dos juros cobrados pelo BNDES no Programa de Sustentação dos Investimentos (PSI), cotas de importações para o setor automotivo e prioridade para a indústria nacional nas compras governamentais.
 

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (Paulinho da Força), reafirmou que as centrais continuarão com as manifestações até que o governo se pronuncie e enfrente a política macroeconômica. “As medidas até aqui oferecidas não respondem ao que reivindicamos. Esse ato, que já ocorreu em dois estados, é apenas o começo, os trabalhadores estão unidos e juntos continuaremos a pressionar o governo. Nossa próxima parada será a Bahia e lá reafirmaremos mais uma vez nossa insatisfação com as medidas econômicas implementadas em nosso país.”

Setor produtivo

“Não estamos aqui como empresários ou sindicalistas, estamos aqui como brasileiros, e como tais lutaremos juntos para garantir o desenvolvimento do nosso país”, afirmou o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, ao falar sobre a realização do Grito de Alerta. Ele acrescentou que “não há como admitir mais a atual política econômica, pois é escandaloso o processo de desindustrialização que ocorre no Brasil. Juntos, lutaremos pelas reformas necessárias e garantiremos o fortalecimento desse setor tão estratégico para o país”.

Luiz Aubert Neto, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), destacou que alguns passos já foram dados, especialmente no que se refere à desoneração da folha de pagamento. No entanto, ele frisou que o governo deveria incidir em dois pontos essenciais – câmbio e juros –, que nem foram tocados. “Está em curso um violento processo de desindustrialização, que é impulsionado pela ausência de competitividade, causada pelos juros, câmbio e tributos. Desse modo, toda a indústria perde, e quando a indústria brasileira perde, todo o país perde junto.”

Lutar pelo emprego e lutar por reformas

Nádia Campeão, presidente estadual do Partido Comunista do Brasil (PCdoB-SP), falou ao Vermelho que essa manifestação reflete um processo contínuo de mobilizações, que aglomera diversos setores da sociedade em todo o país. “Fazer um ato como esse no maior centro de produção do país, além de simbólico, demonstra que a sociedade civil assume seu papel na luta pelo desenvolvimento do país. Lembrando que a defesa da economia nacional compõe uma luta maior que é a das reformas estruturais, essa questão da produção, do emprego e da valorização do trabalho se configura como um dos núcleos mais importantes de mudanças que o Brasil precisa enfrentar”, agrega.

O secretário sindical nacional do PCdoB, Nivaldo Santana, que também é vice-presidente da CTB, afirmou que a unidade das centrais sindicais com o setor produtivo é importante e abre caminho ao desenvolvimento com valorização do trabalho.

“Já alcançamos uma vitória, obrigando o governo a anunciar um conjunto de medidas de estímulo para a indústria. Mas há certo consenso de que as medidas foram positivas, porém insuficientes. Queremos uma política industrial mais ampla, que recupere a competitividade da indústria brasileira e isso quer dizer repensar a atual política macroeconômica.”

Fórum de Mulheres

Raimunda Gomes (Doquinha), secretária da Mulher Trabalhadora da CTB, que abriu a bateria dos discursos do Grito de Alerta, salientou a forte participação das mulheres nesta importante manifestação. “A luta das mulheres não perdeu de vista setores como o da indústria. Estamos aqui hoje por entender a importância da luta pelo emprego e por saber que o processo de desindustrialização em curso gera desemprego, e quando isso acontece as mulheres são as primeiras a perder seus postos de trabalho.”

Ele informou que no último dia 29 o Fórum de Mulheres lançou em Brasília, durante ato das mulheres no Senado Federal, uma moção de apoio pela defesa da indústria nacional, contra a desindustrialização e pela unicidade sindical.

Agenda

Wagner Gomes informou que a mobilização da classe trabalhadora prosseguirá com outros atos pelo país, e já estão agendados para os próximos dias a realização em Salvador, Manaus, Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília, onde se encerram as atividades.