Sem categoria

Comissão Parlamentar da Verdade vai buscar documentos 

Se morreram, quem ordenou suas mortes? E onde estão seus corpos? Essas são as respostas que o país deve aos seus cidadãos. Esse foi o resultado do debate que a Comissão Parlamentar da Memória, Verdade e Justiça, vinculada à Comissão de Direitos Humanos (CDH) da Câmara dos Deputados, promoveu com as entidades da sociedade civil e instituições do poder público empenhadas na instalação da Comissão Nacional da Verdade, ato que depende de decisão do governo federal.

Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça - Beto Oliveira

Os debatedores acreditam que existem documentos que esclareçam os episódios de tortura, assassinatos e desaparecimentos na época da ditadura militar. O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos de Porto Alegre, Jair Krischke, sugeriu que a Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça e o governo brasileiro solicitem ao governo dos Estados Unidos as informações já disponíveis ao público sobre o período da ditadura militar no Brasil (1964 a 1985).

Segundo Krischke, os Estados Unidos já enviaram milhares de documentos relativos à ditadura militar para Argentina e para o Uruguai, que fizeram as solicitações. Ele afirmou ainda que, ao contrário do que se tem divulgado, os documentos brasileiros sobre a ditadura existem e estão disponíveis para consulta no Arquivo Nacional e no DOPS (Departamento de Ordem Pública e Social) de São Paulo sobre o período.

O líder do Psol, deputado Chico Alencar (RJ), sugeriu à comissão que entre em contato ainda hoje com o Ministério das Relações Exteriores para que seja feita essa solicitação de documentos aos Estados Unidos, aproveitando a presença da presidente Dilma Rousseff naquele país.

Pressão da sociedade

A coordenadora da Comissão Parlamentar Memória, Verdade e Justiça, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), que presidiu a audiência, disse que também vai encaminhar o pedido do presidente da Associação dos Torturados da Guerrilha do Araguaia, Sezostrys Alves da Costa, de procurar nas delegacias na região do Bico do Papagaio informações sobre os casos de desaparecidos na Guerrilha do Araguaia.

Todos foram unânimes em elogiar a decisão da Comissão de Direitos Humanos de criar a Comissão Parlamentar da Memória, Verdade e Justiça e o trabalho da deputada Luiza Erundina à frente da comissão. Também houve unanimidade em todos os discursos sobre a necessidade de organização e pressão da sociedade para que a Presidente Dilma Rousseff escolha os nomes dos membros da Comissão Nacional da Verdade para que possa iniciar os trabalhos.

“Silêncio, saudade e a loucura”

Sezostrys Alves da Costa disse que “estamos a aguardar a escolha dos membros e a instalação (da Comissão Nacional da Verdade), para que no mais breve espaço de tempo possível possa iniciar os trabalhos em busca de informações verídicas, principalmente sobre Guerrilha do Araguaia”, destacou. Para ele, é necessário que sejam identificados quem cometeu os crimes e localizados os desaparecidos políticos. “Porque são crimes imprescritíveis e imperdoáveis”, enfatizou.

O representante do Levante Popular da Juventude, Janderson Barros de Souza, entregou e leu o manifesto da entidade Contra a Tortura. Ele falou sobre o movimento, que, segundo ele “é algo novo na mídia e nos ouvidos da sociedade”. E tem como objetivo reunir a juventude para formação, organização, mobilização e luta interrompidas pela ditadura.

Segundo ele, “essa juventude não viveu a ditadura, mas aprende com quem viveu e ainda vive processo de tortura e criminalização, o que nos leva a incorporar essa pauta que a ditadura militar nos deixou até hoje. Silêncio, saudade e a loucura provocada pela tortura”, afirmou, convocando a juventude para se posicionar a favor da Comissão Nacional da Verdade e pelo julgamento de todos os torturadores.

Sem Bolsonaro

Ao final da audiência, após três horas de debate, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), defensor da ditadura militar, pediu a palavra, mas foi interrompido por Erundina: “O que o senhor vai questionar se o senhor chegou agora e não acompanhou os debates”, indagou, impedindo outras das já tradicionais manifestações histriônicas do parlamentar, o que lhe rendeu várias denúncias e representações no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar.

Essa é a terceira reunião da comissão. , recebe representantes de entidades de sociedade civis com trajetória de defesa doas direitos humanos somos aliados naturais nessa luta de resgate de memória e da verdade. Expectativa de a partir dela uma ação articulada e permanente entre essa comissão e as várias entidades da sociedade civil que militam na área de direitos humanos. Exige força política, mobilização da sociedade e pressão sobre o governo para instalar e comece a funcionar a Comissão da Verdade e que os objetivos sejam atingidos.

A deputada Luiza Erundina lembrou que esta é a terceira reunião da Comissão Parlamentar. A primeira, ocorrida no último dia 28 de março, reuniu parlamentares federais, estaduais e municipais de direitos humanos para a criação da Rede Legislativa pela Memória, Verdade e Justiça. A segunda, no dia 3 de abril, foi uma reunião reservada para coleta de depoimentos de dois ex-militares e um camponês que combaterem a Guerrilha do Araguaia.

Leia também: Bolsonaro acusa colegas parlamentares para defender ditadura


Deputados querem mobilização para ajudar Comissão da Verdade

De Brasília
Márcia Xavier