Plenária renova coordenação da Unegro e pauta eleições em SP

Criação de um órgão municipal nos moldes da Seppir foi uma das propostas inseridas no documento-base apresentado na plenária.

Dezenas de lideranças da luta antirracismo se reuniram neste sábado (28/4), em São Paulo, para a Plenária Municipal da Unegro (União de Negros pela Igualdade). Ainda em clima de comemoração pelo julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF) que aprovou as cotas raciais, o encontro foi realizado no Auditório Teotônio Vilela da Assembleia Legislativa paulista.

Os participantes elegeram a nova coordenação municipal da entidade e debateram a pauta do movimento negro para as eleições 2012. Mas a maioria dos oradores fez questão de ressaltar a sessão do Supremo realizada dois dias antes. Na quinta-feira (26), os ministros do STF deliberaram, por unanimidade (dez votos a zero), a constitucionalidade da reserva de vagas em universidades públicas, com base no sistema de cotas raciais.

“O movimento negro e a sociedade brasileira acabam de conquistar uma vitória histórica”, resumiu o presidente estadual da Unegro-SP, Julião Vieira. “Esse resultado incontestável fortalece nossa luta e é um estímulo para as próximas batalhas”, agregou.

Simone Nascimento, também dirigente da Unegro, destacou a leitura dos votos de dez dos 11 ministros do Supremo – apenas Antonio Dias Toffoli não participou do julgamento, por já ter defendido as cotas quando era advogado-geral da União. Segundo Simone, “os depoimentos foram muito expressivos e enfáticos, especialmente o do relator do caso, Ricardo Lewandowski”.

Ao defender a adoção de ações afirmativas, como a políticas de cotas raciais, o ministro declarou que “não basta não discriminar. É preciso viabilizar”. Na opinião de Lewandowski, as cotas combatem uma “discriminação histórica” – e “são uma forma de compensar essa discriminação culturalmente arraigada, não raro praticada de forma inconsciente e à sombra de um Estado complacente. A neutralidade estatal mostrou-se, nesses anos, um grande fracasso”.

Os negros e as urnas

A discussão sobre o pleito municipal de 7 de outubro animou a plenária. “Temos de encarar as eleições como prioridade máxima de nossa atuação em 2012. Só em São Paulo, há três membros da Unegro que são pré-candidatos a vereador – entre eles, o ex-ministro do Esporte Orlando Silva”, declarou Julião.

Além da disputa à Câmara Municipal de São Paulo – que conta com 55 vereadores –, a sucessão do prefeito Gilberto Kassab também está na ordem do dia. O lançamento da pré-candidatura do vereador Netinho de Paula à Prefeitura é uma garantia de que a plataforma do movimento negro pode estar no centro do debate.

“É importante valorizar a simbologia e a representatividade de candidaturas negras, sobretudo a do Netinho”, analisou Antonio Pedro, o Tonhão, secretário municipal de Movimentos Sociais do PCdoB de São Paulo. Ele lembrou que, pela primeira vez na história, mais de 50% dos brasileiros já se declaram negros ou pardos, conforme o Censo 2010.

“A chamada ‘nova classe C’ – que emergiu sobretudo no governo Lula (2003-2010) – também já representa a maioria da população. Antes de concluir um plano de governo consistente, nosso desafio é cruzar esses dados, ter uma dimensão precisa e global da realidade, deste novo Brasil, e formular políticas públicas compatíveis”, afirmou Tonhão.

Como ponto de partida para a elaboração da plataforma do movimento, a Unegro apresentou um documento-base, com propostas nas áreas de educação e saúde. Várias sugestões foram apresentadas ao longo da plenária, como a inclusão da Rua do Samba no Calendário Oficial da Cidade de São Paulo e a criação de um órgão municipal aos moldes da Seppir (Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República).

Uma Unegro à altura dos próximos desafios

Para Julião Vieira, a plenária foi “muito positiva” e contribuiu para o esforço de “dar mais musculatura” à Unegro. “O movimento precisa de uma entidade forte, coesa e suprapartidária, com maior influência de massa, capaz de nos preparar para os próximos desafios.” A reestruturação organizativa da Unegro em São Paulo tem horizonte objetivo. “Vamos convocar um grande e massivo congresso municipal, com o objetivo de projetar nossa entidade em um novo patamar”, diz Julião.

O congresso deve ocorrer em 2013, nos marcos dos 25 anos da Unegro, que foi fundada em 14 de julho de 1988. Com essa perspectiva, a plenária elegeu a nova coordenação municipal da entidade, composta por 12 lideranças, sendo cinco na direção executiva.

A Plenária Municipal da Unegro contou com a participação de Wander Geraldo, presidente do Comitê Municipal do PCdoB de São Paulo; Jairo José, presidente da Associação Amizade Brasil-Angola; e Roberto Almeida de Oliveira, assessor da deputada estadual Leci Brandão (PCdoB-SP).

De São Paulo, André Cintra