José Saddock: Natal Vencida
Aprendi nos bancos da UFRN que é em busca de novos valores que os homens transformam a si mesmos e a própria natureza…
Publicado 25/05/2012 16:45 | Editado 04/03/2020 17:07
Essa cidade vive em torno de meia dúzia de médicos, padres, advogados e políticos; cresce se encolhendo na educação, saúde, mobilidade, desenvolvimento sustentável, segurança, cultura, lazer, etc. Já não se houve mais o canto de liberdade, e alguns intelectuais, hoje de barbas brancas, costumam discutir mais sobre vinhos que sobre política…
A política passou do público para o privado, tornou-se algo que se discute longe do povo, nos alpendres das mansões litorâneas, nos simpósios de alguns colarinhos brancos e togas pretas… E isso é o que não nos falta: o mar; sobre o qual Pessoa dizia: “Deus ao mar, o perigo e o abismo deu, mas nele é que espelhou o céu.” Parece-me que a escolha dos alpendres é o caminho para ganhar o céu, em detrimento da grande maioria que sufraga, ou melhor, naufraga nas tortuosas ondas da vida.
Essa, sequer, caminhará pela cidade, diante da cegueira que lhe impuseram. Não conseguirá na mobilidade da cidade vencê-la; enfrentar ônibus, calçadas, prédios, viadutos… Mas um dia tudo isso pode mudar. Descobrirão, por certo, que o olhar vê; o olho, não. Quando nada mais alcança o que foi apalpado, o olhar vê o que deseja ver e o corpo se sente, por algum instante, como um espelho, mergulhado na sombra de dias e noites tão iguais, onde tudo está apenas em estado de repouso.
Ser cego é ver o invisível. É alongar dedos, abrir ouvidos, espraiar na terra todos os sentidos. Buscar em si o que não está em si e encontrar; e, antes de encontrar, saber que está ali, não em si, mas em algum lugar, enterrado na escuridão… Quando esse dia chegar o povo correrá pelas ruas; louco por justiça, cego por transformação. E aí, minha gente, salve-se quem puder. E haja salva-vidas, hein!
Advogado, Escritor e Poeta