Raúl Castro cobra "responsabilidades históricas" de países ricos

O presidente de Cuba, Raúl Castro, denunciou, nesta quinta (21), a falta de vontade política e a incapacidade dos países desenvolvidos para assumirem suas responsabilidades históricas e avançarem na construção de um mundo sustentável com inclusão social. Ao discursar da Rio+20, ele defendeu o desarmamento e disse que continua atual a citação feita há 20 anos por seu irmão, o ex-presidente Fidel Castro, sobre ameaças à qualidade de vida do homem.

"A paralisia das negociações e a falta de um acordo que permita deter a mudança climática global são um reflexo nítido da falta de vontade política e da incapacidade dos países desenvolvidos para atuar conforme as obrigações que derivam de sua responsabilidade histórica e sua posição atual", afirmou Raúl, em sessão plenária na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20.

O presidente cubano ressaltou ainda que, apesar do alerta feito há duas décadas na Eco92, os problemas aumentam e acentuam-se. “Aumenta a pobreza, crescem a fome e a desnutrição, aumentando a desigualdade agravada nas últimas décadas como consequência do neoliberalismo.”
Raúl defendeu que justificativas e egosimos sejam deixados de lado na busca por soluções, uma vez que todos pagarão o preço pelas mudanças climáticas.

"Os governos dos países industrializados que atuam desta forma não deveriam cometer o grave erro de pensar que podem sobreviver um pouco mais às nossas custas", disse, alertando que não serão possíveis de conter as ondas de milhões de pessoas famintas e deseperadas do Sul em direção ao Norte e a rebelião dos povos ante tanta indolência e injustiça.

Ele destacou que, durante esses 20 anos que se seguiram à primeira conferência no Rio de Janeiro, foram lançadas guerras de novo tipo, concentradas na conquista de fontes de energia, tal como a que ocorreu em 2003, sob o pretexto das armas de destruição em massa que nunca existiram, e a que recentemente se produziu no Norte da África.

"Às agressões que continuam agora contra países do Oriente Médio se acrescentarão outras, a fim de controlar o acesso à água e a outros recursos em vias de esgotamento", alertou. "Portanto deve-se denunciar que tentar uma nova divisão do mundo desencadeará uma espiral de conflito com consequências incalculáveis ​​para o planeta já severamente inseguro", completou.

Castro lamentou a falta de um acordo mais amplo na elaboração do texto final da Rio+20 e defendeu uma revisão na ordem de interesses relativos aos investimentos militares. Além disso, apelou para que os países mais desenvolvidos repensem suas prioridades: “nenhum hegemonismo será possível”.

"Que cesse o saque, cesse a guerra e avancemos para o desarmamento e a destruição de arsenais nucleares (…) Cuba aspira que o bom senso e a inteligência humana se imponham sobre a irracionalidade e a barbárie", disse o presidente cubano.

"O gasto militar total cresceu nestas duas décadas à astronômica cifra de 1,74 trilhão de dólares, quase o dobro que em 1992, o que leva a corrida armamentista para outros estados que se sentem ameaçados", disse o líder cubano. "A duas décadas do fim da guerra fria, contra quem serão usadas essas armas?", perguntou.

Relembrando as palavras de Fidel sobre a possibilidade de a espécie humana se extinguir, o presidente disse que "o que poderia ter sido considerado alarmista é agora uma realidade inegável. A incapacidade de transformar modelos de produção e consumo insustentáveis atenta contra o equilíbrio e a regeneração dos mecanismos naturais que sustentam a vida no planeta" .

"Os efeitos não podem ser escondidos", disse, acrescentando que as espécies estão morrendo em uma velocidade cem vezes mais rápida que as indicadas em registros fósseis, mais de cinco milhões de hectares de florestas se perdem a cada ano e quase 60% dos ecossistemas estão degradados.

“Temos urgência de uma mudança transcendental, e a alternativa é construir sociedades justas, estabelecer uma ordem internacional mais equitativa, baseada no respeito a todos”, concluiu.

Com Prensa Latina