Bahia lidera lista de assassinatos de homossexuais no país

Durante a festa de São João, no último final de semana (23 e 24/6), um rapaz de 22 anos foi agredido até a morte por um grupo de oito homens, em Camaçari, na Região Metropolitana da Salvador (RMS). José Leonardo da Silva aproveitava os festejos com o irmão gêmeo, José Leandro, com quem permanecia abraçado, no momento do ataque. A suspeita da polícia é que os criminosos confundiram os dois com um casal gay.

Cinco dias após o episódio, se celebra mundialmente o Dia do Orgulho LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Trangêneros), em 28 de junho. Embora seja comemorativa, a data não dá à comunidade homossexual motivos de festa, quando se contabiliza os crimes motivados pela homofobia, principalmente no Brasil. Segundo o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 2011, foram 266 homicídios e, em 2012, já se tem 161 casos no país.

A Bahia lidera o ranking de mortes há seis anos. Em 2011, o estado registrou 28 assassinatos de homossexuais, à frente de Pernambuco, com 25, e de São Paulo, com 24. “O destaque da Bahia não é pelo fato do GGB, que faz esse levantamento, estar localizado aqui. Os motivos são outros”, defende Luiz Mott, antropólogo e fundador do GGB. Para ele, há menos quatro explicações para a posição negativa do estado.

Primeiro, a violência que assola a capital e o interior, com média de 30 homicídios durante os finais de semana; a tradição escravista de matar minorias para manter a hegemonia das classes dominantes; a falta de políticas públicas de enfrentamento da homofobia cultural, com educação sexual nas escolas; e ausência de penas para discursos homofóbicos, principalmente nas igrejas e na mídia.

O caso dos gêmeos agredidos em Camaçari deixou o antropólogo estarrecido. “Nos 30 anos do banco de dados do GGB, que tem mais 3.500 crimes, eu nunca vi uma história tão emblemática. Demonstra que a agressividade da homofobia cultural atinge até os heterossexuais que expressam afeto por uma pessoa do mesmo sexo”, conta. Mott afirmou que a entidade acompanha as investigações e cobrará da justiça uma punição rigorosa e exemplar dos criminosos.

Para Juremar Oliveira, membro do Comitê Estadual LGBT, esse cenário de violência reflete os poucos investimentos em políticas públicas direcionadas aos gays. “A única coisa que se tem é uma campanha de saúde alertando para o uso de camisinha, o que é importante, mas não somente. É preciso garantir, também, criminalização da homofobia, casamento igualitário e adoção, por exemplo”, explica.

Segundo Oliveira, pouco se tem avançado na questão homossexual no país. “Temos até um movimento LGBT atuante, mas o entrave é a consciência da sociedade, que não muda. Os direitos à vida e à segurança, previstos na Constituição e destinados a todos, sem distinção, são ineficientes diante da constatação de que a cada 24 h um homossexual é morto no Brasil”, pontua.

O irmão de José Leonardo teve um afundamento no maxilar, mas conseguiu sobreviver. Em depoimento, contou que o grupo portava pedras e facas e chamava-os de “mulherzinhas”. Três dos oito agressores já foram localizados pela polícia. Diante da repercussão do caso, o GGB solicitou da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (SJCDH), a promoção da campanha “Gay vivo não dorme com inimigo”, direcionada, principalmente, às vítimas da homofobia, para que elas evitem situações de risco, como a que aconteceu com os irmãos.

O Dia do Orgulho LGBT é comemorado há 43 anos e lembra o 28 de junho de 1969, quando um grupo de homossexuais estadunidenses inconformados com a intolerância organizou uma manifestação, em Nova Iorque, para pedir o fim do preconceito.

De Salvador,
Erikson Walla