Seminário aprova punição para torturadores da Operação Condor

A deputada Luiza Erundina (PSB-SP), presidente da Comissão Parlamentar da Verdade afirmou que a tortura não pode ser resolvida com perdão, mas com punição. “Não se trata de uma vontade pessoal, mas de uma demanda da sociedade”, disse. A declaração foi dada durante o Seminário Internacional Operação Condor, promovido pela comissão, esta semana, em Brasília.

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Durante dois dias o seminário reuniu na Câmara, jornalistas, escritores, professores e juízes de seis países: Brasil, Argentina, Paraguai, Chile, Uruguai e dos Estados Unidos, para discutir a operação feita por esses países nos anos 1970 para reprimir a atuação de ativistas de esquerda, que combatiam a ditadura militar.

O seminário terminou com a aprovação de um documento intitulado Carta à Brasília, que pede o julgamento e a punição dos torturadores que atuaram durante a Operação Condor. O documento também repudiou a retirada de Fernando Lugo da Presidência do Paraguai.

Criação brasileira

O presidente do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, Jair Krischke, um dos palestrantes, afirmou que quem criou a Operação Condor foi a ditadura brasileira. Krischke contou que já ouviu muito sobre a responsabilidade dos Estados Unidos na operação, mas que não é possível aceitar que se isente o Brasil.

“Quem criou a operação foi a ditadura brasileira. Antes fazia essa afirmação com base em testemunhos. Hoje temos documentos que comprovam esse fato. Quando ocorreu o golpe no Chile, em 1973, o embaixador brasileiro no país disse: “Ganhamos”. Mais de cinco mil brasileiros estavam exilados lá. Logo depois do golpe, mais de 100 foram presos”, disse.

O presidente da Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa, afirmou que o Brasil foi um dos protagonistas da Operação Condor. “Em 1974, houve uma reunião de oficiais em Buenos Aires para um acordo sobre os mecanismos repressivos que seriam usados. A operação foi adotada como política de Estado”, disse.

Participação dos Estados Unidos

A professora e diretora do Programa de Estudos sobre a América Latina na Long Island University de Nova Iorque, J. Patrice McSherry, fez um relato do papel dos Estados Unidos na Operação Condor. Ela afirmou que há evidências de que os Estados Unidos fortaleceram as ditaduras na América Latina e deram a elas uma aparência de legalidade.

A professora disse que nos anos 1970, durante a Operação Condor, os Estados Unidos colocaram à disposição da operação um sistema de telecomunicações com base no Panamá. “Essa é uma prova do papel encoberto dos Estados Unidos na operação. Essa base de telecomunicação foi uma plataforma para a intervenção na América Latina”, disse.

Ela disse ainda que os norte-americanos queriam manter a América Latina como uma área de influência, como um império informal. “Havia uma preocupação em combater o comunismo e havia interesse econômico e político na região”, afirmou.

Colaboração das empresas

A deputada Janete Capiberibe (PSB-AP) afirmou que está claro que a Operação Condor recebeu o apoio de empresas multinacionais com alta lucratividade. “A esquerda coloca em risco o lucro de grandes grupos econômicos. Todos os desaparecimentos, torturas e mortes ocorreram por causa de objetivos financeiros e econômicos.”

A deputada contou que foi uma sobrevivente da ditadura militar. Ela foi integrante da Aliança Libertadora Nacional, comandada por Carlos Marighela. “Em 1970 fui presa. Durante nove anos, fiquei exilada na Bolívia, Chile, Canadá e Moçambique. Retornei ao Brasil em 1979, depois da aprovação da Lei da Anistia”, relatou.

A Operação Condor, criada em 1960, foi uma aliança político-militar, entre os regimes ditatoriais de cinco países da América do Sul: Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai. O objetivo era coordenar a repressão aos opositores dessas ditaduras e eliminar líderes de esquerda que militavam nos cinco

Da Redação de Brasília
Com Agência Câmara