Paraguaio diz que golpe contra Lugo é nova Operação Condor

O advogado e professor Martin Almada, do Paraguai, diz que a constituição e bom funcionamento da Comissão da Verdade em todos os países é muito importante para “cortar as asas do Condor”. Ele participa, nesta quinta-feira (5), do Seminário Internacional Operação Condor, promovido pela Comissão Parlamentar da Verdade, ligada à Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

Ele acrescentou ainda que o recente golpe que destituiu Fernando Lugo da presidência do seu país revela a atualidade da Operação. Na visão de Almada, essa “nova Operação Condor” é muito mais abrangente do que a iniciada em 1964, no Brasil: “É mais suave, global e revestida de uma capa pseudodemocrática, por meio da cooptação dos parlamentos.”

O deputado Chico Alencar (Psol-RJ) afirmou que, ao fim do seminário, deverá ser aprovada moção de repúdio ao “golpe branco parlamentar” no Paraguai.

O médico, professor e escritor Alfredo Boccia Paz, do Paraguai, destacou que o Brasil foi, entre os envolvidos, o país que mais demorou a discutir e tornar pública a Operação Condor. E afirmou que as vítimas brasileiras da ditadura tiveram dificuldades de romper a resistência dos militares e de setores da imprensa em esclarecer os fatos ocorridos durante o regime ditatorial no País. “Conhecer a verdade é resgatar a memória e consolidar a democracia”, salientou. “A história pode ser circular e pode haver retrocessos na história”, complementou.

Segundo o professor, é essencial preservar os documentos da ditadura e torná-los públicos. No Paraguai, os chamados “arquivos do terror” foram digitalizados e organizados. De acordo com o professor, a preservação desses arquivos tem valor documental, simbólico e jurídico, possibilitando a condenação de agentes da repressão.

Início vergonhoso

O professor Boccia Paz disse que a Operação Condor foi o início “vegonhoso” de um processo de integração regional na América Latina, que culminou, anos mais tarde, na formação do Mercosul. Conforme o professor, os países passaram por cima de disputas regionais importantes e se uniram para coordenar a repressão aos opositores dos regimes ditatoriais. “O Condor foi uma operação transnacional; o encontro com a verdade também deve ser”, observou.

Paz afirmou ainda que o Condor foi uma operação de muitos silêncios. “A trama complexa internacional era difícil de imaginar em um contexto de repressão.” Segundo ele, apenas em 1979, a operação foi mencionada pela primeira vez publicamente, por um jornalista do Washington Post. “Porém, entre os serviços de inteligência dos países envolvidos, a operação era amplamente conhecida”, explicou.

De acordo com o jornalista e escritor Luiz Cláudio Cunha, com o programa repressivo transnacional, “a velha e informal troca de informações entre ditaduras camaradas” ganhou método e hierarquia. Vítima da operação, o jornalista assumiu a tarefa de tornar público o programa.

“A Condor voou com intensidade entre 1975 e 1980”, informou. “Com ela, surgiu a angustiante figura do desaparecido, nem morto nem vivo, que isentava o Estado de explicações e justificativas”, complementou.
O seminário internacional Operação Condor reúne, esta semana – quarta e quinta-feira (4 e 5) – parlamentares, jornalistas e especialistas no tema de cinco países da América do Sul que sofreram ditaduras militares – Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai -, com a cooperação dos Estados Unidos.

Criada na década de 1960, a Operação Condor foi uma aliança político-militar entre os regimes ditatoriais de cinco países com o objetivo era coordenar a resistência às ditaduras e eliminar líderes de esquerda considerados “subversivos” que militavam nos cinco países.

Da redação em Brasília
Com Agência Câmara