Farc-EP e governo colombiano iniciam diálogo de paz na Noruega
As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia-Exército do Povo (Farc-EP) e o governo colombiano iniciaram nesta quinta-feira (18) um novo caminho rumo à paz com a instalação de uma mesa de diálogo que procura colocar um fim a quase 50 anos de conflito no país latino-americano.
Publicado 18/10/2012 19:34
Reunidos em um hotel da pequena localidade de Hurdal, a 80 quilômetros ao norte de Oslo, capital da Noruega, aonde chegaram na quarta-feira (17), a guerrilha e o governo formalizaram o acordo das conversações, cujo peso principal ocorrerá a partir de 15 de novembro, em Havana, Cuba.
Noruega e Cuba, como garantidores, e Venezuela e Chile, como observadores, colaboram nesse processo que se centrará em cinco pontos, o primeiro deles o desenvolvimento rural da nação da América Latina.
As duas delegações, chefiadas pelo ex-vice-presidente Humberto de la Calle, como representante do governo, e Iván Márquez, pelas Farc-EP, deram luz verde aos diálogos com uma declaração conjunta, na qual ratificaram seu propósito de cumprir os termos do "Acordo geral para o término do conflito e a construção de uma paz estável e duradoura".
Em uma conferência repleta de jornalistas e com os olhos do mundo sobre eles, agradeceram a Cuba e a Noruega pelo apoio e hospitalidade e concordaram em designar porta-vozes, que se reunirão em 5 de novembro para continuar com os trabalhos necessários.
Em suas intervenções, os representantes das Farc-EP deixaram claro que, por impedimento moral, não pagarão penalidades previstas em lei, simplesmente porque exerceram um direito universal, de "resistir a regimes ignominiosos", que é inclusive reconhecido pela ONU.
Em nome do governo, De la Calle reiterou que o processo se desenvolverá em um contexto distinto do passado, quando outras iniciativas foram tomadas, mas sem êxitos. "A Colômbia não é a mesma e o Estado trabalha para que continue mudando", disse.
O representante do governo disse que deseja que a guerrilha possa expor suas ideias sem armas e citou o exemplo de outras forças guerrilheiras na América Latina, que depuseram as armas e conseguiram conquistar o poder por meio dos votos.
Assunto humanitário
Durante a coletiva de imprensa, Márquez afirmou que é preciso sair "da obscura noite da confrontação e desejamos de todo coração que este momento esteja próximo, mas temos que escutar" o que o governo tem a dizer.
Márquez sublinhou o desejo de paz e a decisão de lutar por ela até as últimas consequências.
Sobre a pergunta de jornalistas a respeito de uma pena de cárcere, Márquez destacou que há um impedimento moral para pagar pelo direito de sublevar-se contra um regime ignominioso.
“Nós somos a resposta à violência terrorista do Estado. Nossa moral é tão alta que toca o céu”, comentou mais adiante.
Sobre a presença de outros movimentos no processo de paz, o representante das Farc-EP disse que "não pode haver um acordo sem que nos debates esteja representada a sociedade colombiana, os setores mais desfavorecidos, os sindicatos e os representantes distintos de interesses econômicos".
As Farc-EP defenderam uma vez mais o cessar-fogo bilateral, apesar de o governo afirmar que não cessarão as hostilidades até que se chegue a um acordo.
Os guerrilheiros anunciaram que voltarão a Cuba para continuar os diálogos o mais rápido possível, para se incorporarem à tarefa da busca pela paz, ao mesmo tempo que qualificavam como cordial e respeitosa a reunião com os delegados do governo.
Os diálogos continuarão em 5 de novembro, com um encontro preparatório em Cuba, e 10 dias depois, quando será debatido o desenvolvimento agrário, primeiro ponto dos cinco propostos na agenda.
Justiça social
No início da segunda fase de negociações, o representante das Farc-EP também defendeu uma paz com justiça social. Para Márquez, "será o povo que tomará uma decisão", e o processo de negociação não pode ocorrer com pressa, "contra o relógio", já que no meio disso estão as lutas sociais para mudar o modelo econômico do país.
"Uma paz que não aborde a solução dos problemas políticos e sociais equivaleria a semear de quimeras o solo da Colômbia", afirmou o guerrilheiro, lembrando que uma das causas da luta das Farc-EP é o tema da terra.
Nesse sentido, Márquez criticou o projeto de entrega de terras às vítimas das desocupações armadas, posto em prática pelo governo, porque "procura a internacionalização" da posse da terra, na qual estariam interessadas as multinacionais da mineração e o capital em geral.
O guerrilheiro também denunciou o governo de Washington, que anualmente “doa” US$ 700 milhões ao governo colombiano para que este coloque em prática o Plano Colômbia, enquanto o gasto militar do país equivale a 6,4% do PIB, o que considerou como "um dos mais altos do planeta".
"Presidente Santos, fundemos a paz tomando como base os desejos da nação", disse o delegado das Farc-EP, que conclamou várias organizações políticas e sociais para que colaborem no processo de negociação.
Com informações da Prensa Latina