Homenagem lembra trajetória do comunista Sydney Gobetti

Durante a 5ª reunião do Comitê Estadual do PCdoB-SP, foi prestada a honemagem ao camarada Sydney Gobetti, falecido em 21 de junho. Familiares, amigos e dirigentes partidários ficaram emocionados com a narrativa de trajetória política do comunista.

sydney gobetti

Homenagem póstuma ao Camarada Sydney Gobetti*

Em 21 de junho de 2012, deixou de bater o coração do camarada Sydney Gobetti de Souza. Foi o fim de uma luta de três anos contra um câncer. Ainda no Hospital, nos reunimos na recepção e entre abraços e lágrimas e seu filho Renato nos relatou que, mais cedo, horas antes de falecer, seu último esforço foi uma tentativa frustrada de se levantar, seguida do comentário: “preciso ir e me reunir com os camaradas do Partido”. Esse é o camarada Sydney, um homem que dedicou a maior parte de sua vida e o melhor de suas energias ao Partido e ao povo.

Nascido no interior do Paraná, filho de uma família de classe média, estudou medicina na Universidade Estadual de Londrina – UEL, onde conheceu Carmem Urquiza, sua companheira de toda vida e com quem teve dois filhos: Rodrigo Gobetti, falecido dois anos antes dele, aos 32 anos, e Renato Gobetti, de 28 anos. Foi também na iniversidade que se aproximou do Partido – foi presidente do Diretório Acadêmico de Medicina e dirigente do DCE.

Já formado e casado, mudou para o interior paulista, ficando um curto período na pequena cidade de Maracaí e, logo depois, mudando para Marília, onde foi admitido como clínico geral na Prefeitura Municipal. A essa altura, já organizado no Partido, procurava contatos para construir um organismo partidário.

Em 81, já com um pequeno núcleo de militantes, liderou diversas lutas populares, como movimentos pela construção de um viaduto em um bairro de periferia e uma ocupação de famílias sem-teto. Os camaradas mais antigos e o próprio Sydney nos relataram que, em uma dessas lutas, uma passeata foi organizada e foi até a casa do prefeito municipal pedindo a construção de uma passarela para pedestres após o atropelamento de uma criança.

O prefeito autoritário, disse que “ou esse médico vem aqui me pedir desculpas públicas, ou pede demissão da Prefeitura”. Sydney, segundo seu próprio relato, foi pedir orientação ao camarada Sérgio Benassi [atual presidente do PCdoB em Campinas] que era quem acompanhava o trabalho do Partido no interior. Benassi não vacilou: “pede demissão camarada, é o preço da luta de classes”. Ele foi demitido e o povo do bairro em que atendia foi em marcha até a Prefeitura exigir sua recontratação. O resultado foi que além da recontratação, na eleição posterior, foi eleito o vereador até então mais votado da história [de Marília], chegando a quase 5 % dos votos válidos no pleito.

Reelegeu-se vereador por mais seis vezes, presidiu o Partido por longos anos em Marília e também foi durante muitos anos membro do comitê estadual de São Paulo. Como médico, atendeu sempre pelo SUS. Em paralelo à militância e ao mandato, sempre atendeu em dois períodos. Dizia que nós, comunistas, tão estigmatizados, temos que ser exemplo em nossa atividade. Atendia o povo com dignidade e estudava medicina nas poucas horas vagas.

Servidor Público disciplinado, às vezes, quando por um momento precisava se ausentar do posto de saúde para uma audiência na Câmara ou para uma passeata de estudantes, ele abonava o dia, mas ia trabalhar depois da atividade. Atendia para muito além do seu horário e, muitas vezes, em casa nos fins de semana.
Sydney tinha um compromisso inabalável com o Partido. Vereador durante 30 anos, sempre repassou seu salário de integralmente ao Partido, vivendo com seu salário de médico em uma casa simples, situada em um núcleo habitacional popular.

Tombou como tombam os grandes homens, lutando até o fim. Manteve tarefas partidárias até o último momento. Liderou o curto, tumultuado e atual governo de Marília na Câmara Municipal. Deu contribuição decisiva para posicionar o Partido no governo.

Poucos meses antes de falecer, combalido pelo tratamento, deu aula em um curso de formação do Partido com a dedicação de sempre, mas com um entusiasmo não muito típico de seu comportamento calmo e sereno. Ele sabia que era a última aula. Generoso que era, tinha um cuidado para traduzir os conceitos para as pessoas mais simples do povo, explicava de forma pedagógica, levantando exemplos da vida cotidiana dos trabalhadores. Dizia que o conhecimento precisa ser constantemente socializado e que todos os camaradas precisam ser valorizados.

Para nós, marxistas, a morte é o encerramento definitivo do núcleo biológico, mas a Humanidade está em nós. Fica a contribuição dada para a produção do conhecimento acumulado pela Humanidade. Nesse sentido, seu exemplo de luta e vida, suas contribuições decisivas para formar toda uma geração de quadros – alguns mais experientes e outros muito promissores –, permanecem vivos, e a melhor maneira de homenageá-lo é continuar sua luta. E nós continuaremos.

*Texto lido por André Gomes, presidente do PCdoB-Marília, na Homenagem prestada pelo Comitê Estadual a Sydney Gobetti.