PCdoB analisa resultado das eleições municipais de Salvador

Em reunião realizada no dia 24 de novembro, o pleno do Comitê Municipal do PCdoB em Salvador aprovou um documento de balanço sobre as eleições majoritária e proporcional, que agora será debatido pelas demais instâncias partidárias na cidade.

Leia o documento na íntegra:

“Avaliação da eleição para a prefeitura em Salvador

Ao analisar a eleição em Salvador, devemos levar em conta a ampla vitória das forças democráticas e progressistas no Brasil dos partidos que compõem a base dos governos federal e estadual e a derrota das forças da oposição, que tiveram votação e número de prefeitos eleitos menores do que na eleição de 2008. O núcleo da esquerda da base da presidente Dilma – PT, PSB e PCdoB –sai mais fortalecido, enquanto PSDB e DEM perderam espaço político. Na Bahia, a base do governador Wagner elegeu 80% do total, tento o PT na primeira posição, com 93 eleitos. No segundo turno, perdemos a principal batalha na capital e vencemos em Vitória da Conquista.

Encerramos mais uma disputa eleitoral em Salvador e, novamente, a esquerda não conseguiu chegar ao Palácio Thomé de Souza. A direita, liderada pelo deputado ACM Neto, venceu com 53,6% dos votos. É a quinta vez consecutiva que o PT lidera uma frente de partidos e termina derrotado na terceira maior capital do país, tendo ido ao segundo turno apenas nos últimos dois embates. Mas, desta feita, a diferença foi menor do que na derrota para João Henrique Carneiro. Ao contrário da eleição anterior, a articulação política do governo estadual promoveu um amplo leque de alianças, que deixou a nossa candidatura robusta, com 14 partidos aliados no primeiro turno, o que não foi suficiente para sairmos na frente para o segundo turno.

O PCdoB apresentou sua pré-candidatura à cidade, com o nome da deputada Alice Portugal. Fizemos uma pré-campanha vitoriosa, com ampla repercussão política entre a população, nos meios políticos, na imprensa. Desenvolvemos todos os esforços necessários em busca de aliados que nos permitissem sair do isolamento político, mas não obtivemos êxito. O desejo de uma candidatura própria ficou inviabilizado diante da aglutinação de quase toda a base do governo estadual em torno da candidatura do deputado Nelson Pelegrino. Diante de um quadro que poderia nos levar ao isolamento político, assim como ocorreu em outras capitais onde o partido fez a disputa sem aliados, deliberamos pela indicação da vice, na pessoa da vereadora Olívia Santana, o que foi uma vitória nossa, na medida em que o espaço era disputado por outros partidos. Nossa presença destacada na chapa majoritária foi resultante do empenho da nossa militância na construção de nossa pré-candidatura.

A campanha de Pelegrino e Olívia começou com 13% das intenções de votos nas pesquisas. Tínhamos a expectativa de que com o horário eleitoral na televisão poderíamos crescer e provocar um segundo turno, diante de um candidato que aparecia com mais de 40% de indicação da preferência dos eleitores e como favorito a vencer no primeiro turno. O fato de termos mais tempo de TV, um número bem maior de candidatos proporcionais em nossas coligações, o apoio de Lula, Dilma e Wagner e algumas fragilidades do adversário que seriam exploradas eram alguns dos fatores que levavam a essa conclusão. As candidaturas de Mário Kertesz, Hamilton Assis, Rogério Da Luz e Márcio Marinho não apresentavam musculatura política para irem ao segundo turno, mas foram importantes para assegurá-lo.

Ao término do primeiro turno, ACM Neto vence com uma pequena margem de votos em e demonstra força para o enfrentamento no segundo, agora com o tempo de TV dividido em condições de igualdade. Mesmo com todos os aspectos que nos favoreciam, a candidatura do campo conservador comprovou ter fôlego para fazer o combate final. No segundo turno, conseguimos o apoio de três dos candidatos postulantes no primeiro turno e de mais três partidos, enquanto o adversário, que já tinha o apoio do PPS, PSDB, PTN e PV contou com a adesão do PMDB de Geddel Vieira Lima. Do lado conservador estavam aliados os mesmos grupos que nos derrotaram em 2008.

A linha adotada pelo comando da campanha de Pelegrino, acertada, porém excessiva, foi de situar nossa candidatura como um projeto de cidade em harmonia com os projetos vitoriosos em curso nos governos federal e estadual, com uma série de propostas elaboradas a partir reuniões setoriais. Já a do adversário foi de questionar do nosso campo a razão de não termos feito nos seis anos do governo Wagner o que propusemos que faríamos se eleitos, e usou habilmente a tese de que nossa candidatura estaria fazendo chantagem com a população com a tese do alinhamento dos governos. O candidato do DEM responsabilizou insistentemente o governo Jaques Wagner por problemas acumulados por longos períodos, herdados exatamente das administrações carlistas que deixaram o Estado e a cidade com indicadores sociais entre os piores do país. ACM Neto também insistiu na denúncia da insegurança pública e do tratamento dado aos professores pelo governo durante a greve, tentando passar a ideia de ser defensor das liberdades, da democracia, dos servidores públicos e de ser diferente do falecido Antônio Carlos Magalhães, seu avô, nos métodos e práticas.

O apoio de João Henrique, cuja rejeição cresceu enormemente, a ACM Neto, especialmente com a máquina da Secretaria da Educação operando de forma agressiva, foi negado pelo candidato carlista, que transferia esse apoio ao nosso candidato, pelo fato de o PP compor a nossa coligação. Até mesmo a declaração de apoio a João Henrique no segundo turno da eleição anterior, ele confundia o eleitor com declarações semelhantes às de Pelegrino na eleição de 2004.

Nesta quinta derrota das forças progressistas em Salvador, podemos dizer que uma conjunção de fatores favoreceu o adversário, integrante de uma corrente política sabidamente elitista e autoritária, que se move por interesses pouco republicamos, distantes do povo, mesmo tentando passar a imagem de uma liderança mais arejada. O nosso candidato Nelson Pelegrino comprovou estar preparado para ser prefeito da cidade, tendo demonstrado conhecer os problemas que afligem a população, apontando as soluções necessárias para superá-los. Seu preparo político, dedicação, empenho, aliados e boa estrutura de campanha, no entanto, não impediram que a direita vencesse a eleição.

Entre as razões que podemos elencar para a derrota eleitoral destacamos duas, provavelmente as principais. Há um sentimento em boa parte da população de que haveria ausência de intervenções por parte do governo do estado que pudessem amenizar os graves gargalos vividos na cidade. A revolta pelo caos político e administrativo no município governado pelo aliado de ACM Neto se voltou em grande parte contra o governo estadual, que não registra no momento bons índices de popularidade. ACM Neto transferia a responsabilidade pelos problemas da cidade, não para seu aliado JH, o prefeito, mas para o Estado, como se a gestão da cidade fosse de responsabilidade do mesmo. E todos os problemas acumulados na Bahia e em Salvador, por dezenas de anos de gestão carlista, eram debitados aos poucos mais de seis anos da experiência democrática em curso. Esse discurso, evidentemente demagógico, teve repercussão em parte significativa do eleitorado. Grande parcela dos eleitores, ao votar, descontente que estava com o governo estadual, optou por julgar o governador e secundarizar o prefeito, o principal responsável pelo abandono do município.

Outro elemento dos mais importantes foi a turbulenta relação do governo estadual com o funcionalismo público, que contribuiu bastante para uma crescente avaliação negativa de nosso projeto. Entendemos que houve equívocos na condução das negociações com um segmento numeroso e organizado em entidades bastante representativas, especialmente a categoria dos trabalhadores em educação, que fez a sua mais duradoura greve. O governo terminou por ficar com a pecha de intransigente e autoritário em boa parte dos servidores, que espera resolver suas demandas acumuladas em décadas de domínio carlista em um curto espaço de tempo. Para parcela dos dirigentes do movimento, as restrições orçamentárias que dificultam tais correções em prazo tão breve ou de uma única vez não são obstáculo.

Entre os erros de condução, e este foi o mais saliente, podemos citar o acordo assinado com os trabalhadores em educação. Eram evidentes as dificuldades para cumpri-lo daquela forma, mas como assinado estava, virou o estopim de uma poderosa e longa paralisação da categoria. Todos os esforços foram feitos para se encontrar uma saída, antes, durante e depois da greve. Não houve. De um lado, o governo alegando não ter condições para pagar o que os trabalhadores reivindicavam, e de outro, um movimento radicalizado, que terminou por enveredar para uma revolta de cunho direitista. As questões salariais foram paulatinamente sendo secundarizadas e o movimento se transformou em palanque eleitoral de ACM Neto e de alguns aventureiros da chamada "extrema-esquerda", com seguidos atos e gestos de provocações, como agressões a parlamentares progressistas, enterro do governador, impressão de materiais apócrifos contra a candidatura da esquerda e outros mais. Para o comando de greve, o principal objetivo da mobilização passou a ser a derrota do governador na eleição e o fortalecimento da direita. E assim, foram quase quatro meses de campanha eleitoral de rua à serviço das forças retrógadas e oportunistas. Antes da greve dos trabalhadores em educação, houve ainda outro movimento de grande repercussão nacional que foi a sublevação dos policiais militares que gerou desgaste para o governo, e consequentemente, para nossa candidatura. Outras rusgas com outros segmentos dos servidores, de menos repercussão, também engrossaram o coro de insatisfação.

Outro tema bastante explorado pela mídia golpista e pela candidatura conservadora foi o episódio do "mensalão", associando o PT e o nosso candidato aos dirigentes julgados no Supremo Tribunal Federal (STF), que pode ter impactado setores simpáticos ao discurso udenista feito por aqueles pouco credenciados para tal. Podemos citar ainda como fragilidade do campo progressista a pouca presença de nossa antiga militância, enquanto se verificava o contrário do lado do adversário, que demonstrou mais empenho e entusiasmo.

Por fim, elencamos como outro aspecto negativo em nossa análise: a dubiedade com que o PT e o governo trataram o governo JH, tendo ficado sempre nebuloso o entendimento de qual mesma seria a posição, se de oposição, de conciliação ou apoio, ao contrário do PCdoB, que desde bem antes do fim do primeiro governo já registrava com atos e gestos sua oposição firme à desastrosa administração municipal.

Participamos de uma eleição bem disputada, acirrada, com a cidade dividida. A diferença desta foi menor que a de 2008. A cidade tem uma fatia da população, especialmente entre os ricos, classe média e classe média alta, com vinculação antiga com o carlismo e defensora de posições políticas conservadoras. Quando esse importante segmento da população consegue atrair para seu discurso um eleitorado que alterna o voto ao sabor das circunstâncias e contexto, eles conseguem formar maioria. Mais uma vez, uma aliança envolvendo a direita e setores médios e de centro, convenceram o povo de Salvador a fazer a opção pelo pior, representado por uma parlamentar oposicionista férreo ao projeto avançado em curso no estado e no país. Perdemos em todos os bairros de classe média e vencemos naqueles onde se concentra as camadas mais populares, mas com margem insuficiente para tirar a diferença.
O PCdoB sai da eleição com uma liderança política fortalecida. Olívia Santana, que formou uma dupla afinada com Nelson Pelegrino, apareceu com destaque na TV e rádio, participou de dezenas de debates, caminhadas, plenárias, reuniões menores. Enfim, consolidou marcante presença na cidade. Durante toda a jornada, o PCdoB fortaleceu seus laços com as forças políticas que estiveram juntas conosco, tendo mantido com o PT uma relação política fraterna e cordial. A direção municipal do partido também sai mais fortalecida pós-eleição, tendo conduzido o processo eleitoral com equilíbrio e responsabilidade.

O cenário que agora se configura com a vitória de Neto em Salvador indica o fortalecimento das forças de oposição para 2014. E isso pode significar mais dificuldade eleitoral para o PCdoB na próxima eleição. Devemos nos preparar para a próxima batalha e encontrar o caminho do fortalecimento do partido como forma de crescermos eleitoralmente.

O partido e nossa bancada na Câmara serão do bloco de oposição ao prefeito eleito, sempre levando em conta os interesses maiores da cidade e da maioria da população.

SOBRE A ELEIÇÃO PROPORCIONAL

Pela primeira vez em Salvador, o partido se apresentou com chapa própria de vereadores. Uma experiência inovadora, que começa a ser aplicada em nível nacional. Em apenas quatro capitais, conseguimos eleger dois candidatos nesse novo formato. Se levarmos em conta o resultado do partido nas capitais e grandes cidades, podemos considerar um bom desempenho, quando no geral elegemos apenas um ou, em alguns casos, nem chegamos a eleger.

Apresentamos 58 candidaturas, duas das quais foram impugnadas. Formamos uma chapa que teve representação de vários segmentos organizados na cidade, com lideranças novas que aderiram ao partido e com os veteranos da casa. Contamos com o empenho de praticamente todos, do início ao fim da campanha, cada qual com a sua dinâmica. O partido montou uma retaguarda que assegurou a todas as candidaturas uma estrutura mínima para a busca do voto. Apesar do pouco tempo de TV, garantimos que todos os candidatos tivessem acesso, distribuindo o tempo de forma adequada às potencialidades individuais. No tocante aos materiais impressos, garantimos o atendimento a todos, graças ao apoio da majoritária e aos esforços das direções estadual e municipal do PCdoB. Buscamos destacar a fisionomia própria do partido através de um bom visual espalhado pela cidade.

Trabalhamos com a meta de ampliar nossa representação na Câmara e a expectativa era de eleger pelo menos três vereadores. Baseávamos-nos na eleição anterior, quando nossos votos em 34 candidatos totalizaram 64 mil votos, o suficiente para eleger dois e ainda uma pequena sobra. Com 56 candidatos, uma candidatura majoritária competitiva e uma boa estrutura de apoio, supúnhamos que seria possível atingir o objetivo. Não foi. Tivemos menos votos do que na eleição anterior com mais candidatos e mais retaguarda material, em que pese termos perdido a candidatura de Olívia, que representou cerca de 9 mil votos em 2008.

Com a quantidade de partidos e coligações na disputa é muito difícil um partido de nosso porte eleger mais do que dois candidatos em qualquer grande cidade do país. As 43 vagas ficaram divididas entre 20 legendas. Até partidos mais fortes, como o PMDB e PSDB ficaram com o mesmo número de vagas que o nosso em Salvador e alguns até elegendo menos, a exemplo do PDT e PR. O DEM teve menos votos nominais do que o PCdoB. Some-se a isso a expressiva votação do PTN, maior votação nominal na eleição, elegendo seis vereadores, muitos deles, entre os mais bem votados, uma demonstração inequívoca da utilização da máquina pública a serviço de uma agremiação política.

Quase todos os candidatos da chapa tiveram votos aquém do que os próprios e a direção do partido esperavam. Todos que foram candidatos na eleição anterior foram menos votados na eleição de agora. Não conseguimos, como na eleição passada, ter votos suficientes para a garantia de eleição de dois candidatos, ou seja, elegemos o segundo com a sobra de votos da eleição do primeiro. Alguns candidatos de bairros tiveram votação bastante razoável, se examinado o contexto da disputa nessas localidades. O fato de termos reduzido nossa votação é preocupante, quando se projeta as próximas disputas eleitorais.

O PCdoB em Salvador, historicamente, teve sua votação em percentuais bem elevados na classe média. Nas eleições para vereador e deputados em períodos passados, esses votos significavam cerca de 80% da votação, sendo os demais, dos bairros populares, o complemento. Estávamos entre os partidos e com os candidatos mais bem votados as zonas eleitorais onde reside a classe média. Houve uma perda significativa desses votos, não só para o PCdoB, mas para a esquerda em geral. Não somente entre os nossos houve perda de votos. Candidatos do PT também sofreram os efeitos desse fenômeno.

Ao contrário do PT, que ao perder bases eleitorais nesse segmento, consegue repor em outros, nós do PCdoB temos dificuldades para entrar nos setores mais populares, onde o voto funciona muitas vezes a partir da influência da máquina do estado e de práticas que não ajudam a educar e politizar o eleitor. A cultura da compra de votos e a troca de favores, a grande força das igrejas, a influência do poder econômico e das máquinas de governos terminam por nos deixar em condições adversas nesse formato de concorrência. O voto do partido vem do discurso e convencimento políticos, e esse nobre instrumento pela conquista do eleitor, que deveria ser a regra, termina por ser a exceção. Daí a necessidade de uma reforma política que contemple o voto em lista e financiamento público de campanha.

Além disso, temos ainda a questão da queda cada vez mais acentuada da militância em campanhas eleitorais, o que era um trunfo do PCdoB. Nossa principal base social nos movimentos sociais, o sindicalismo, tem revelado, reiteradas vezes, pouca capacidade de traduzir nossa presença nas entidades em votos nas eleições.

O PCdoB elegeu dois de seus melhores quadros para a Câmara Municipal, ambos de origem no movimento sindical. Aladilce Souza e Everaldo Augusto vão honrar o partido na Câmara Municipal, fazendo o papel de oposição política ao prefeito do DEM e juntos com o conjunto do partido, vão mobilizar o povo na defesa da cidade.

Para tanto, temos outra tarefa: colocar em funcionamento os distritais em bases geográficas e de categorias e trazer para as organizações partidárias todos aqueles que se aglutinaram em torno do partido na campanha eleitoral. Ano que, vem teremos o Congresso do partido e devemos ter como perspectiva construir uma grande mobilização interna para termos uma massiva conferência municipal e numerosa delegação à Conferência Estadual.

Comissão Política do Diretório Municipal do PCdoB

Salvador, 24 de novembro de 2012”