Estudantes temem avanço da desnacionalização no ensino superior

Thais Silva é estudante do primeiro ano de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) e preocupa-se com o futuro de seu curso superior. “Soube que haverá mudanças drásticas, pois a Unicsul comprou a Unicid. Estou preocupada se realmente o ensino continuará sendo bom ou terei que procurar uma nova faculdade pelas mudanças que terão”, conta.

A compra foi efetivada no primeiro semestre deste ano e custou à Universidade Cruzeiro do Sul (Unicsul) R$ 180 milhões. O negócio só foi possível graças à entrada de um novo sócio no grupo: o fundo inglês Actis comprou 37% da universidade.

Em 2011, 27 aquisições de universidades particulares por grupos financeiros movimentaram mais de R$ 2,4 bilhões. O maior negócio foi fechado pela Kroton Educacional SA, com sede em Belo Horizonte (MG). O grupo adquiriu a Universidade Norte do Paraná (Unopar) por R$ 1,3 bilhão. A segunda maior aquisição foi feita pela Anhanguera Educacional Participações SA, que obteve a Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban) por R$ 510 bilhões. Tanto a Kroton como a Anhanguera atuam no setor da educação superior como companhias, com estrutura societária e participação estrangeira a partir de investidores e dos fundos de private equity, ou seja, investimentos em empresas ainda não listadas em bolsas de valores.

Conforme aponta Daniel Iliescu, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), este fenômeno de desnacionalização avança com força: “Hoje, diria que 1/3 das instituições de ensino superior privadas são controladas pelo mercado estrangeiro e quase 50% das matrículas estão no poder do capital estrangeiro”, descreve.

O mesmo alerta é feito por Walcyr de Oliveira Barros, vice-presidente da Regional do Rio de Janeiro do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes). Segundo ele, se esses grupos financeiros não estão diretamente ligados à administração das universidades privadas, empresas internacionais são portadoras de ações desses estabelecimentos e, com o tempo, passarão a ser acionistas majoritárias. Para Iliescu, trata-se de um problema de “soberania nacional”, uma vez que a produção de conhecimento nessas instituições vai seguir uma lógica que não é a de produção de conhecimento para o Brasil, mas sim a serviço do capital que sustenta essas universidades.

Fonte: Brasil de Fato