Paraguai: Promotor rejeita provas e acusa camponeses de Curuguaty

O promotor paraguaio Jalil Rachid rejeitou as provas apresentadas por uma comissão investigadora independente e acusou oficialmente 14 camponeses por responsabilidade na sangrenta desocupação ocorrida em Curuguaty, em junho deste ano. O caso foi utilizado contra o ex-presidente Fernando Lugo no golpe de Estado que culminou em sua destituição.

Rachid, recusado sem sucesso pelos advogados dos camponeses por sua estreita amizade com o proprietário do lote ocupado, pediu ao juiz que convoque julgamento oral e público e acusou os camponeses de tentativa de homicídio doloso, associação criminosa e invasão de terrenos.

O relatório da comissão independente dirigida por um jurista espanhol incluiu declarações de testemunhas, filmagens e fotos e assinalou que francoatiradores que portavam armas automáticas, cuja posse nunca tiveram os camponeses, dispararam contra eles e os policiais.

O chamado massacre de Curuguaty, iniciado justamente com esses disparos dos francoatiradores, terminou com a morte de 11 camponeses e seis policiais e é ainda um fato sem esclarecimento total para boa parte da sociedade paraguaia.

Segundo o citado relatório independente e declarações de testemunhas, entre as quais José Ledezma, governador do departamento de San Pedroy pertencente ao partido de governo, aponta o caso como uma operação montada que foi usada para destituir o presidente constitucional, Fernando Lugo.

A promotoria acusou por tentativa de homicídio doloso nove trabalhadores rurais, entre eles três mulheres, uma delas grávida, mas a própria acusação diz que, embora tenham sido avistados portando armas, não se sabe quem mataram, por isso é impossível a acusação de homicídio.

Os demais camponeses são assinalados como cúmplices para a invasão do terreno e acusados de algo pouco explicado, o que denominam de frustração à execução penal, ao mesmo tempo que é solicitado que se exima de responsabilidade outros três dos presos.

Rachid, que manteve todos os assinalados presos por seis meses mesmo sem acusação, se apressou em realizar o trâmite depois que a representação das Nações Unidas no Paraguai pediu ao presidente Federico Franco esclarecimento sobre o massacre em Curuguaty.

Fonte: Prensa Latina