Rio de Janeiro quer centro comercial na antiga sede do DOPS

Contrariando decisões anteriores, e os planos da Comissão da Verdade, o governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, determina que a antiga sede do DOPS seja transformada em Museu da Polícia e abrigue salas comerciais, bares e restaurantes.

Por Mário Augusto Jakobskind

Dops Rio de janeiro

Na Argentina, por exemplo, depois de seis anos de uma ditadura cruel que provocou 30 mil desaparecidos, locais que serviram de centros de torturas foram transformados em museus onde se preserva a memória e para os jovens conhecerem os acontecimentos de um período hediondo e para que não se repita.

Na Polônia, além dos antigos campos de concentração e de extermínio durante a ocupação dos nazistas na II Guerra Mundial que foram transformados em museus, em cada esquina do centro da capital Varsóvia podem ser encontradas placas com dizeres lembrando pessoas vitimadas pelo exército de ocupação.

E na Polônia a preservação da memória independe do modo de produção existente. Os museus e placas indicativas foram criados quando no país vigorava o socialismo. Com as mudanças ocorridas depois do fim do Muro de Berlim, em 1989, a Polônia fez a opção pelo modo de produção capitalista, mas os centros de memória continuam como antes e são visitados diariamente sobretudo por jovens de várias partes do mundo.

Tais fatos são importante de se conhecer no momento em que o Brasil atravessa. Em São Paulo, o antigo DOPS foi transformado em Museu para não se esquecer que por lá passaram brasileiros que se opunham a ditadura.

No Rio de Janeiro, depois de o então governador Garotinho, em 2001, ter participado de uma cerimônia na antiga sede do DOPS que seria destinada a abrigar os arquivos da antiga ordem política do Estado do Rio de Janeiro, em 2012, o atual governador Sérgio Cabral rompe o que já tinha sido acertado e determina que o local seja transformado em Museu da Polícia e abrigue salas comerciais, bares e restaurantes.

Tal medida contraria inclusive o que os integrantes da Comissão da Verdade defendem, ou seja, a transformação do local em museu histórico.

Nesse sentido é necessário que o povo seja informado a respeito e se mobilize no sentido de evitar que o governo do Estado apague a história.

Trata-se de uma luta que independe de filiação partidária, mas de pessoas dispostas a preservar a memória do país.

Além da sede do antigo DOPS outros locais também devem ser transformados em museus de preservação da memória, como as dependências do DOI-CODI, onde também opositores do arbítrio foram torturados e mortos por agentes do Estado que continuaram impunes ao longo dos anos. O Estádio Caio Martins, em Niterõi, que abrigou centenas de presos políticos a partir de abril de 64.

A Prefeitura de Petrópolis já deu um passo importante ao desapropriar a Casa da Morte, no bairro de Caxambu, onde brasileiros também sofreram por não aceitarem a ditadura vigente.

O Rio de Janeiro está ficando para trás e se não ocorrer uma mobilização de amplos setores sociais, o esquema Sérgio Cabral conseguirá o objetivo proposto, ou seja, apagar a memória histórica. Ainda está em tempo para evitar que isso ocorra.

Fonte: Rede Democrática