Prefeita de Xambioá quer retomar obras do Memorial do Araguaia

Eleita prefeita na última eleição municipal de Xambioá (TO), Sílvia Machado (PSDB) pretende retomar as obras do Memorial do Araguaia. “Ainda não entrei na prefeitura. Preciso entrar lá, saber como as coisas estão. Tem toda a transição. Sei que há recursos embargados para a construção do Memorial. Tenho disposição de conseguir isso, porém quero saber qual será a contrapartida para a prefeitura diante do governo federal”, informou ao Vermelho.

Por Carla Santos

Depois de vencer com folga cinco candidatos, três deles mulheres, a prefeita eleita protagonizou um ato inédito antes mesmo de assumir a prefeitura. Ela se reuniu, no último domingo (16), com três secretários municipais no Anfiteatro do Memorial do Araguaia — único módulo já construído, de cinco previstos na obra, além do obelisco de Oscar Niemeyer que também já está de pé.


Acima, a prefeita Sílvia Machado (ao centro) se reúne, ao lado de Zezinho do Araguaia (de camisa branca), com os secretários: de Esporte, Francisco Chagas (PSB), de Ação Social, Pastor Joaquim (PSC) e de Educação, Manuel (PTB), dentro do anfiteatro do Memorial do Araguaia. Foto: Assessoria de comunicação.

A disposição da prefeita intriga, uma vez que ela é uma tucana disposta a resgatar a história dos comunistas. “No meu governo idealizo as pessoas, o ser humano acima de tudo. Não vou deixar de realizar algo tão importante para o desenvolvimento de Xambioá e da comunidade devido a brigas partidárias”, esclarece.

Segundo Sílvia, o município está perdendo oportunidades por não valorizar as suas raízes. “A Guerrilha do Araguaia é um marco na nossa história. Todo o Brasil e o mundo quer conhecer Xambioá pelos registros da Guerrilha, mas não temos equipamentos turísticos suficientes sequer para receber historiadores e pesquisadores”, lamenta.

A Guerrilha do Araguaia

Xambioá, que significa “pássaro veloz”, ocupa 1.186.428 Km2 do território de Tocantins. Em 2010 contava com 11.484 habitantes, 1.142 a menos do que em 2007, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É uma cidade internacionalmente conhecida devido à Guerrilha do Araguaia: movimento armado de resistência à ditadura militar, protagonizado pelo PCdoB de 1967 a 1974.

A fama mundial de Xambioá começou quando apenas 100 guerrilheiros, com o apoio de camponeses locais, derrotaram mais de nove mil soldados durante duas operações militares. A Guerrilha só foi abatida na terceira operação militar, quando no lugar de armas e soldados, espiões da ditadura desembarcaram em Xambioá. Somente misturados e disfarçados em meio aos camponeses, eles conseguiram liquidar com os revolucionários, que em sua maioria eram jovens estudantes universitários.

Na foto, a prefeita, os secretários e Zezinho em frente ao obelisco projetado por Oscar Niemeyer para homenagear os guerrilheiros do Araguaia. "É um raio saindo da terra e se projetando no espaço", explica Zezinho. Foto: Assessoria de comunicação.

Nascida em meio aos combates entre soldados e guerrilheiros, em 1970, a prefeita destaca o simbolismo histórico de se reunir no Memorial. “É uma forma da cidade resgatar as suas raízes e lutar pelas pessoas que foram mortas na Guerrilha. Além disso, queremos homenagear as pessoas que deram a vida por esta causa, especialmente o Zezinho, esse homem humilde, militante, único guerrilheiro vivo, lutador incansável pela memória dos guerrilheiros mortos nesta terra.”

Pássaro vermelho

Michéas Almeida, conhecido até hoje pelo seu codinome de guerrilheiro, “Zezinho do Araguaia”, completará 75 anos no próximo 30 de janeiro. Apesar da idade, conserva um entusiasmo contagiante, além de uma saúde invejável. O segredo? Lutar, lutar sempre. Graças a sua dedicação, o sonho do Memorial do Araguaia começou a virar realidade.


“É a primeira vez que um prefeito, no caso uma prefeita, realiza uma reunião dentro do Anfiteatro. Foi muito importante para que a prefeitura participe, desde já, deste projeto da comunidade”, afirmou Zezinho. “Com esta disposição, o projeto ganhou um novo fôlego”, comemora.

Zezinho lembra que o Memorial do Araguaia, além de contar a história da Guerrilha, se propõe a ser um espaço cultural, literário e científico para a região. “Ele simboliza o encontro da sabedoria empírica do povo com o conhecimento científico dos pesquisadores. Também pode criar projetos racionais e sustentáveis para a região, e ainda elaborar políticas públicas para desenvolver os pequenos e médios municípios. Essa já era a proposta dos guerrilheiros do Araguaia”, explica.

O Memorial

O conjunto arquitetônico do Memorial do Araguaia foi concebido pelo arquiteto Nivaldo Iamauti. Além do anfiteatro já construído, haverá ainda uma biblioteca, um museu, salas para oficinas, um cinema, uma lanchonete e um espaço para o Instituto de Apoio aos Povos do Araguaia (IAPA) — fundado por Zezinho em 2001 com a participação da comunidade de vários municípios da região.

O projeto, orçado em 2.194 milhões de reais, teve seu processo iniciado em março de 2006. A construção do anfiteatro e do obelisco iniciou em dezembro de 2009. Em junho de 2010 estas duas obras foram concluídas.

Até o momento, o projeto contou com recursos do Ministério da Cultura (MinC), obtidos através de emendas de parlamentares de vários estados. O anfiteatro e o obelisco custaram 540 mil reais. Desde de 2009 a obra aguarda a liberação de 200 mil reais do MinC para aquisição de equipamentos para o anfiteatro, visando a infraestrutura necessária para realização de oficinas, apresentação de palestras, cursos, seminários, exibição de filmes e encenações artísticas.

A esperança é que a nova prefeita conclua as obras, o que certamente mudará a cara da pacata Xambioá e marcará a gestão de Sílvia não apenas na história do município, como também na do país. Xambioaenses, demais brasileiros e estrangeiros já aguardam ansiosos o dia de conhecerem e ocuparem o espaço que resgata um dos capítulos mais heroicos da luta pela democracia.

Confira abaixo mais fotos do Memorial do Araguaia:


Espaço interno do anfiteatro que espera equipamentos para também abrigar uma sala de cinema. Foto: Assessoria de comunicação.


Vista dos fundos do anfiteatro, único dos cinco módulos previstos já construído do conjunto arquitetônico projetado pelo arquiteto Nivaldo Iamauti. Foto: Assessoria de comunicação.


Na foto, vista da frente do anfiteatro. Na maquete digital, o conjunto arquitetônico do Memorial do Araguaia. Foto: Assessoria de comunicação.