Sindicato dos Bancários da Bahia completa 80 anos
O 4 de fevereiro de 2013 é uma data histórica para o sindicalismo baiano. É nessa última segunda-feira antes do carnaval que o Sindicato dos Bancários da Bahia (SBBA), uma das mais atuantes e importantes entidades do estado, chega à marca de 80 anos. O Vermelho visitou a sede do SBBA, em Salvador, e conversou com o atual presidente, Euclides Fagundes, que, em clima de festa, falou de lutas e conquistas, participação política e novos desafios.
Publicado 04/02/2013 20:47 | Editado 04/03/2020 16:17
Portal Vermelho – Com 80 anos, o Sindicato dos Bancários é um dos sindicatos antigos da Bahia. Qual o segredo da longevidade?
Euclides Fagundes – O mais importante nessa história é a luta do sindicato, das suas diversas diretorias. Nesse período, nos anos 30, foram fundados os principais sindicatos do país. Era um período de grande efervescência, de mudanças na política, e o nosso sindicato foi fundado nesse momento. De lá pra cá, tivemos lutas importantes. Enfrentamos duas ditaduras, a Ditadura Vargas e a Ditadura Militar, e participamos dos momentos políticos mais importantes do país. Além das lutas pela redemocratização, tivemos também nas lutas da década de 60, das lutas de base, lutas contra as intervenções no sindicato, redemocratizações das administrações do sindicato. Lutamos também pela Anistia, pelas Diretas Já, pelo Fora Collor, pela eleição de Lula.
PV – Então, o sindicato nunca se restringiu à luta salarial dos trabalhadores?
EF – A luta do trabalhador não pode ser apenas economicista, por melhores salários, por melhores condições de trabalho. As mudanças no salário e nas condições de trabalho são debatidas na política do país. Nós lutamos pela eleição de Lula e, claro que falta muita coisa pra mudar, mas já mudou muita coisa na política geral do país. Vimos evoluir o salário mínimo e agora, com Dilma, vimos a utilização dos bancos oficiais para o controle das taxas de juros. Tudo isso são políticas que facilitam a vida do trabalhador e por isso que achamos importante.
PV – Como foi o início do sindicato? Quem foi Mutti Carvalho [o primeiro presidente]?
EF – Mutti foi um lutador. Ele foi o principal fundador do sindicato, em 4 de fevereiro de 1934. Durante essas lutas, o Banco do Brasil o demitiu, em função da greve de [19]35. Sem emprego, ele não aguentou as pressões e se suicidou em 1º de maio de 1937. Mas nesse pouco tempo de luta de Mutti, ele deixa um marco na luta dos trabalhadores. Para se ter uma ideia, desde a sua morte até [19]64, no golpe, não só os bancários, mas os trabalhadores em geral faziam procissão no seu túmulo, no 1º de maio. Isso é uma demonstração da liderança e importância dele para o movimento sindical.
PV – Nesses 80 anos, vocês tiveram inúmeras conquistas. Quais as principais que pode destacar?
EF – Com um ano de fundação, o sindicato já estava participando de uma greve nacional dos bancários, que resultou na conquista da estabilidade do emprego, a partir de dois anos. Tivemos também a jornada de seis horas, não trabalhar aos sábados, do quinquênio, depois do anuênio. Na Bahia, tivemos as gratificações de balanço, coisa que temos apenas em quatro estados do Brasil. Mas a principal conquista foi, sem dúvidas, a democratização na atuação do sindicato, para debater os interesses da sociedade. Nas nossas campanhas salariais, discutimos as taxas de juros, discutimos a segurança, a saúde do trabalhador. Nós queremos que a sociedade também participe desse processo.
PV – O sindicato, nesse período, também buscou eleger representantes nas casas legislativas do estado, como o deputado estadual Álvaro Gomes e o vereador de Salvador Everaldo Augusto, ambos ex-presidentes da entidade, por exemplo. Por que é importante ter esses legisladores?
EF – Nas lutas que tivemos contra a privatização do BANEB, por exemplo, no processo de desmonte do Banco Econômico, nós tivemos que contar com o apoio de parlamentares diversos. Quando a gente tem um parlamentar ligado à categoria, a luta se torna mais fácil.
PV – A comunicação sempre foi um aliado de vocês, nesses 80 anos. Vocês têm o único jornal impresso diário do movimento sindical na Bahia [O Bancário] e um programa de tv [Agência Cidadania], que são canais não só com os bancários, mas como a sociedade como um todo. Qual a importância destes canais?
EF – A comunicação dos bancários da Bahia é um contraponto que nós temos à essa imprensa burguesa. O jornal diário tem mais de 20 anos e a Agência Cidadania já tem 15 anos. Eles são muito importante para as lutas do sindicato, para a divulgação não só das lutas dos bancários, mas dos trabalhadores em geral.
PV – Quais os desafios para os próximos anos?
EF – Embora a nossa comunicação seja muito boa, nós temos que melhorar bastante, nesse mundo em que a comunicação está tão popular, tão acessível. Temos que crescer muito. Mas o desafio principal é a evolução tecnológica da categoria bancária, que termina substituindo a mão-de-obra, na diminuição de bancários, pela ganância dos bancos. A nossa categoria é uma das que mais têm adoecimento por questões ocupacionais, muito por conta dessas exigências. O trabalho do bancário não diminui com a tecnologia, aumenta.
PV – E de comemorações, o que estão preparando?
EF – Temos neste dia 4, o coquetel, no sindicato. Estamos lançando o selo comemorativo dos 80 anos, vamos divulgar o novo site dos bancários, com muito mais alternativas e estamos preparando também uma revista, com as diversas fases de lutas de nossa categoria. No dia 22 de marços, estaremos realizando uma festa.
De Salvador,
Erikson Walla