Cônsul da Síria: povos amigos lutam contra imperialismo ocidental
O Centro Cultural Árabe-Sírio realizou em São Paulo, nesta terça-feira (26), uma conferência com o cônsul-geral da República Árabe da Síria nesta cidade, Dr. Ghassan Obeid, que apresentou uma mensagem do Ministério da Informação sírio a respeito do conflito interno. A iniciativa teve como objetivo fornecer perspectivas alternativas às predominantes na mídia internacional.
Por Moara Crivelente, da Redação do Vermelho
Publicado 27/02/2013 16:09
O evento foi inaugurado por Claude Fahd Hajjar, vice-presidente da Federação de Entidades Americano-Árabes (Fearab América), e pelo diretor do centro cultural, Eyad Murshed. Ambos ressaltaram a importância e a necessidade de um acesso maior à informação sobre o conflito na Síria, amplamente manipulado pela mídia internacional.
Claude pediu um minuto de silêncio pelas vítimas da violência, civis e militares, e leu um relatório do Ministério da Informação, segundo o qual a “guerra midiática” contra a Síria não é recente e teve início ainda em 2003, à época da invasão do Iraque pelos Estados Unidos. A ofensiva é financiada tanto pelos EUA na mídia internacional quanto por vizinhos árabes na mídia regional, segundo Claude.
O cônsul sírio agradeceu o interesse dos participantes por notícias da Síria e pelas informações omitidas pela mídia. E garantiu: “os dias alegres voltarão logo; todos poderão disfrutar da paz na Síria.”
Paz regional e internacional
Obeid destacou pontos-chave sobre a situação interna no Oriente Médio, como a ocupação israelense de territórios árabes, entre os quais a Palestina, o Golã sírio e o sul do Líbano. Para o cônsul, uma vez que essas questões sejam resolvidas e que Israel, a força ocupante, se retire, haverá possibilidade de paz na região.
O apoio do Brasil tanto à causa palestina (com um reconhecimento efetivo do Estado da Palestina já em vigor desde 2010, por exemplo) quanto à solução do conflito sírio através de processos internos de diálogo foi lembrado por Obeid, que agradeceu pela política diplomática brasileira.
O representante sírio lembrou que seu país sofre o ataque indireto das potências imperialistas “que querem o caos na Síria”, que fomentam e instrumentalizam disputas supostamente religiosas antes insignificantes, e que financiam grupos de mercenários provenientes de diversos países, principalmente da vizinha Turquia, desligados da questão política interna. Por outro lado, ressaltou o papel fundamental dos reais “amigos da Síria”, como o Irã e os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Obeid denunciou o impacto crítico das sanções e do embargo imposto pelo Ocidente à Síria, “um país rico, de tradição milenar, onde hoje falta tudo”, desde remédios básicos até fontes de energia como o petróleo e o gás, inclusive para a calefação.
“A mídia internacional não conhece as nossas instituições políticas, o funcionamento do nosso Parlamento, mas insiste em chamar o nosso presidente [Bashar al-Assad] de ditador”, disse Obeid, que garantiu ainda que, “para enfrentar tudo isso, o povo sírio ficou unido, menos os extremistas, que se juntaram aos mercenários”.
O cônsul garantiu que o governo sírio continua empenhado nas reformas democráticas, no diálogo com a oposição e com a participação política livre, e sublinhou a pouca atenção midiática dada à nova Constituição síria, aprovada em fevereiro de 2012, “enquanto alguns países árabes nem sequer têm uma”.
Solidariedade ao povo sírio
A presidenta do Conselho Mundial para a Paz e do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Socorro Gomes, também compôs a mesa da conferência, e reiterou a importância do evento para a manifestação da “solidariedade irrestrita e apoio ao povo e governo sírios, contra a onda imperialista que quer destruir a nação síria”.
Socorro deu voz à afirmação consensual no evento de que “o imperialismo chama de ditadores todos os que não curvam a espinha diante do imperialismo”, e mencionou como exemplos o presidente Hugo Chávez, da Venezuela, e o líder revolucionário e ex-presidente de Cuba, Fidel Castro, ambos também alvo da retórica ofensiva do Ocidente, liderada pelos Estados Unidos.
Lembrou também a atual crise econômica e política pela qual tanto os EUA quanto a Europa estão passando; esta última, disse Socorro, “em decadência, ficou mais perigosa e procura assaltar outras nações”. Por outro lado, assegurou que, apesar de ainda imperar “o terror dessas potências”, elas estão “no caminho da derrota; usam a religião para a sua disputa imperialista, para dominar os povos”.
Em conclusão, Socorro reafirmou “o apoio e a solidariedade do povo brasileiro ao povo heroico da Síria”, no que foi acompanhada por Ricardo Abreu, secretário de Relações Internacionais do PCdoB, também presente na conferência.
Abreu esteve na Síria recentemente, em encontro com partidos comunistas da região, e disse ter se impressionado com a resistência do povo sírio. “Vi um povo unido, preocupado, claro, em sofrimento, que busca segurança, mas resistente”, disse o secretário, que também afirmou: “não há falta de perspectivas, há planos”, impressão que lhe foi transmitida pelo representante do partido Baath com quem esteve.
O evento finalizou-se com debates e com a proposta de uma demonstração mais ativa de apoio por parte da sociedade brasileira ao povo sírio, em contraposição ao “terrorismo midiático”, sustentado pelos meios de comunicação internacionais e regionais, tanto na Síria quanto no Brasil.
O Centro Cultural Árabe Sírio de São Paulo, onde o evento foi realizado, é um espaço de aproximação entre o povo árabe sírio e o brasileiro, em que há cursos da língua árabe, exposições, conferências e outros eventos. Mais informações na página do centro.www.ccsirio.org.