Diplomatas europeus pedem atitude contra ocupação israelense 

O relatório dos chefes de missão da União Europeia (UE) sobre a empreitada ocupante israelense é literalmente “um indiciamento contundente e uma chamada à reação” contra estas atividades ilegais de Israel. O relatório foi publicado em janeiro, e a análise que se segue é da revista eletrônica independente israelense, “+972”.  

Assentamento israelense na Cisjordânia - Activestills

Entre as linhas, entretanto, o relatório reflete uma frustração dos diplomatas e burocratas europeus com relação à inação de seus próprios governos. Estes não estão implementando a legislação existente, as decisões e declarações que eles próprios fazem regularmente contra Israel e seus assentamentos.

A retórica da UE contra as políticas de assentamento de Israel têm sempre sido condenatórias, mas suas ações nunca corresponderam às suas palavras.

“A UE e seus Estados membros agora encaram o desafio urgente de traduzir as observações e recomendações de seus próprios diplomatas sêniores em políticas concretas e efetivas, que de fato mantenham a possibilidade de uma solução de dois Estados” [para o conflito Israelo-Palestino], dizia um documento obtido pela +972.

Refletindo o (talvez ingenuamente otimista) senso de fechamento da janela de oportunidade para resolver o conflito e uma frustração com a inação da UE apesar da sua retórica, o documento continua: “Se a UE e seus Estados membros não acelerarem a operacionalização e implementação das suas posições declaradas em 2013, a solução de dois Estados vai falhar.”
Esta é uma clara chamada à ação, um pedido frustrado dos ranques profissionais da UE aos seus chefes eleitos para colocar o dinheiro onde está seu discurso.

Sem ação, as condenações quase previsíveis e frequentes da chefe de Política Exterior da UE, Catherine Ashton, aos assentamentos israelenses (que os declaram inequivocamente ilegais à luz do direito internacional) são apenas isso: declarações e posições vazias.
O poder de uma união tão ampla de países desenvolvidos e influentes como a UE é insignificante se ela limita a si própria a declarações e condenações ao invés de exercer o poder em que se baseia.

A mensagem que esses diplomatas estão enviando é que posturas legais e de princípios contra os assentamentos ilegais (e a favor de uma solução de dois Estados) são vazias se não forem sustentadas em ações.

Mas as recomendações do relatório não são inovadoras. Baseiam-se em resoluções já existentes, legislações, acordos comerciais e declarações da UE, seus corpos diplomáticos e legislativos e de seus Estados membros individuais.

O Acordo de Associação UE-Israel, que estabeleceu um acordo de livre-comércio e uma cooperação diplomática estreita entre ambos é explicitamente claro sobre as condições necessárias para a continuação da sua existência.

O artigo 2º do acordo afirma: “As relações entre as partes, assim como as provisões do próprio acordo, devem ser baseadas no respeito pelos direitos humanos e pelos princípios democráticos, que guiam suas políticas internas e internacionais e constituem um elemento essencial deste Acordo.”

A UE sustenta que a solução de dois Estados é o único jeito de assegurar que os direitos humanos e os princípios democráticos sejam respeitados tanto por israelenses quanto por palestinos. Também é claro que a UE acredita que as atividades de ocupação sejam o obstáculo primeiro à consecução de uma solução de dois Estados.

Depois de explicar como os assentamentos são o principal obstáculo à paz, o relatório afirma firmemente que a atividade de ocupação de Israel “é sistemática, deliberada e provocativa.”
Ao mencionar a postura de que Jerusalém deve ser a capital tanto de Israel quanto da Palestina se houver uma solução de dois Estados, os diplomatas escrevem: “Israel está perpetuando ativamente sua anexação ilegal de Jerusalém Oriental.”

Em outras palavras, estão dizendo que Israel está trabalhando ativamente contra uma solução de dois Estados, e por isso, contra os interesses da política externa da UE.

A União Europeia é o maior parceiro comercial de Israel e tem uma influência tremenda, devida ao acordo de livre-comércio que beneficia muito mais a Israel do que a UE ou qualquer de seus Estados individuais.

A UE deu a si mesma, há muito tempo, as ferramentas necessárias para pressionar Israel a corrigir suas posturas. Estes diplomatas estão implorando aos seus governos que as usem. “Façam algo!”, estão gritando.

Entretanto, consulados estrangeiros em Jerusalém e Ramallah [na Cisjordânia] são conhecidos por serem muito mais firmes em suas críticas às políticas de Israel do que suas embaixadas irmãs em Tel-Aviv. Assim como não é surpreendente que tal documento, cheio de frustração e condenações, tenha se originado nos consulados, podemos esperar que ele será ignorado como todos os outros que o precederam.

Fonte: +972 Magazine
Tradução: Moara Crivelente, da Redação do Vermelho